canto esponjoso: canto que absorve, canto que embebe, que traga para si, como esponja. este aqui é um canto encharcado, encharcado de luz.
poemas felizes, onde cabem, na justa medida, manhãs azuis encharcadas de mar.
e não deixemos que se destrua esta delicadeza, a coisa mais querida: a glória da vida.
que a mão humana pare de ferir e passe, somente, a plantar, a irrigar, a cuidar, para que se colha uma existência mais saborosa, mais frutífera. pois bela é a passagem do corpo (de homem, mulher, criança, bicho) e a sua junção ao corpo geral do mundo. preservemos os encantamentos.
é mister reter as belezas captadas por nossas retinas, engoli-las inteiras.
beijo grande e luz para todos nós!
paulinho.
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CANTO ESPONJOSO (autor: carlos drummond de andrade. livro: antologia poética. editora: record)
Bela
esta manhã sem carência de mito,
e mel sorvido sem blasfêmia.
Bela
esta manhã ou outra possível,
esta vida ou outra invenção,
sem, na sombra, fantasmas.
Umidade de areia adere ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituídas.
Bela
a passagem do corpo, sua fusão
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.
LUZ DO SOL (autor: caetano veloso. livro: letra só. editora: companhia das letras)
Luz do sol
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça, em vida, em força, em luz
Céu azul que vem
Até onde os pés tocam a terra
E a terra inspira e exala seus azuis
Reza, reza o rio
Córrego pro rio e o rio pro mar
Reza a correnteza, roça a beira, doura a areia
Marcha o homem sobre o chão
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza
A coisa mais querida, a glória da vida
Luz do sol
Que a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça, em vida, em força, em luz
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