certa vez, perguntada por um jornalista sobre quem, na sua opinião, é a maior atriz do brasil, fernanda montenegro, uma das maiores, senão a maior atriz do país, respondeu, categórica: maria bethânia.
tenho muito a dizer sobre bethânia, sobre minha mãe e sobre a importância crucial dessas duas mulheres encantadas no meu gosto literário. foi a partir delas, de bethânia e da minha cabocla jurema, que tudo começou. um dia, mais a fundo, farei um texto para homenageá-las, eu sei.
hoje me atenho ao fato de bethânia ser, para mim e para muitos (inclusive para a maioria esmagadora dos poetas), uma das maiores intérpretes da palavra falada.
desde muito cedo, bethânia sentia que a palavra cantada não daria conta do que ambicionava em palco. por isso, tornou-se, talvez, a única (desculpem a minha ignorância, mas, de fato, não conheço nem nunca ouvi falar de outra artista, no mundo, que trabalhasse desta maneira) intérprete de música a levar textos, tanto em poesia quanto em prosa, para os seus espetáculos.
por conseguinte, a cantora é/foi próxima e amiga de grandes escritores: vinicius de moraes, clarice lispector (que inclusive escreveu textos exclusivos para alguns dos seus espetáculos), ferreira gullar, lya luft, waly salomão, arnaldo antunes, antonio cicero, entre tantos outros.
ela é a grande mestre. em 1977, gravou um long-play em estúdio cuja faixa primeira é um dos poemas, na minha humilde opinião, mais lindos do mundo: “eros e psique”, do extraordinário, do maior poeta da língua portuguesa, fernando pessoa. os versos narram o encontro dessas duas frentes, dessas duas forças que compõem e moldam todos nós.
eros, o infante esforçado, rompe o seu caminho, o caminho fadado, predestinado, sem saber que intuito, que razão, possui. a força cega, que segue um chamado sem bem decifrá-lo, a força do sentimento, o amor.
psique, a princesa, a alma, a consciência, que, se espera, espera adormecida o infante, sem nem saber que existe; e vive, por isso mesmo, num reino distante, para além do muro da estrada.
eros, o infante, alcança psique, a princesa encantada, e desse encontro nasce a descoberta de que, “no fundo”, ele próprio, o infante, é a princesa que dormia.
é o momento, literal, da “tomada da consciência”, do “cair em si”, do “saber-se de si”.
o sentimento ligado à razão. a razão e a sensibilidade, unas.
a minha aposta reside exatamente na mescla dessas duas forças.
na voz de bethânia, com sua interpretação, suas pausas entre versos & palavras, sua dramaticidade, o poema ganha, às claras, a força que concentra e carrega. a primeira vez que ouvi as linhas na sua voz, e as entendi, chorei copiosamente. chorei chorei chorei feito criança que sou (rs).
experimente, quem nunca o fez, ler os versos com a bethânia. é esclarecedor. a intérprete ilumina todas as linhas.
(como caetano veloso, gosto do pessoa na pessoa. injetem-no na veia.)
um beijo nocês tudo,
o preto,
paulinho / paulo sabino.
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Paulinho,
Lindo! Lindo! Lindo! Sempre é maravilhoso re-ler Pessoa. É como se re-descobríssemos algo novo. Para mim, como muito expresso: o maior de todos, inigualável…
Pessoa encanta-me, atormenta-me, inspira-me. Um dia farei uma Mega-Ode (rsrs!) em homenagem a esse bardo incomun. E Bethânia, tudo de bom. Eu e a Marina ficamos de compor uma canção para Bethânia, mas ainda são só planos…
Grande abraço,
Adriano Nunes.
obaaaa!
que maravilha saber da ode ao pessoa!
e da canção com marina!
espero que tudo isso se concretize!
ficarei no aguardo e na torcida!
beijo!
Que beleza de texto, Paulinho.
Recuperei o áudio da recitação de Bethânia e postei no Poeira de Sebo.
Felicidades!
que maravilha, mariano!
farei um anúncio sobre isso, sobre o áudio da bethânia!
beijo!
nossa muio bom..msm…”muitos nunca caem em si”
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Que bom saber que você gostou, Aryslla!
Espero suas visitas à página, ao blog, porque a poesia é a casa de todos!