CARTA AO MEU ADÃO

a ele,
 
o meu amante maior. a ele, ser de fertilidade farta em seu fato líqüido, em sua vestimenta turquesina. um útero às vistas, placenta onde a vida se deu, primeva. a quem o meu olhar re-corre à procura pura por mistério e beleza infindos.  
 
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Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
mas nele é que espelhou o céu.
                                                 (Fernando Pessoa)
 
Na terra em que o mar não bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão
                              (letra: Caetano Veloso, música: Gilberto Gil, “Beira-mar”)
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O mar é meu companheiro.
Desde a mais tenra infância
seu murmurar me aconselha e me consola.
Elegante impecável cancioneiro
ainda que nada em seu momento me doa
o mar me acolhe.
Mesmo assim ainda assim e desse modo assim
me dá sustento limite dimensão
ostras pérolas peixes e palpites.
 
Quando ele toca sua música
que eu sempre pego já começada
eu só quero é a onda dele
seu suntuoso e simples princípio maleável
e mais nada!
                      
 (Diga-me com quem ondas, Elisa Lucinda)
_________________________________________________
 
Ó amado,
preciso te ver todas as manhãs,
caminhando ou de bicicleta
vou te ver. (…)
 
Poemas de amor por ti?
Muitos.
Pensamentos de loucura, lascívia e luxúria?
Incontáveis.
 
Amo a tua bravura,
a estrutura doce do teu sal,
amo tua doçura insuspeitável.
De minha janela me chamas,
lindo, um príncipe azul de lindo és
quando assim me procuras.
Adão dessa cor e de seus matizes,
tu, meu amante espalhafatoso,
imponente e importante,
és aquele que me dizes
o que sou, pra onde vou, quem eu sou e o que posso!
 
Ó Zeus do maleável,
idealizador da tolerância,
fundador da serenidade,
justificador das tormentas,
explicador dos afogados,
és tu quem me tentas!
Não só te amo, é mais que isso,
transbordo!
(…)
 
Gracias pelos versos, por estes versos,
por teres me dado
equilíbrio, liberdade, abrigo e lar,
gracias por te amar, ó Mar!
                                        
(Carta ao meu adão, Elisa Lucinda)
_____________________________________________________
 
Adoro o mar de minha terra!
É bom dormir ao pé dele,
ao som da sua cantiga, ao bater das suas ondas,
esse ninar.
O mar de minha terra foi babá antes de ser mar.
Foi preta velha, deu de mamar,
depois é que virou mar…
Adoro ele, é meu quintal!
Muita coisa me ensinaram essas areias
muita coisa que hoje me margeia
muita coisa de minhas cheias
muita coisa que hoje me incendeia…
ah, quantas lindas coisas me ensinaram essas areias!
 
Mar de minha terra, o mar que me ensinou tudo:
a ser maleável
a ser constante
a ser especial
a ser errante
a ser cotidiano
a ser estreante
a ser igual
a ser diferente.
O mar de minha terra ensina muita coisa a muita gente!
Todo lugar lá
em alguma hora dá no mar
passeando por essa terra
se quiser procurar
uma hora achará um caminho que dá no mar.
Por destino de limpeza, batismo, sol, mergulho, minério,
petróleo, sustento e peixe, se vem e se volta do mar.
Adoro mesmo o mar de minha terra.
(…)
 
Toda montanha lá tem um caso
obstinado com o vento
uma pedra azul
um albatroz de convento.
(…)
 
Adoro o mar de minha terra!
É isso que no meu sentimento arpeja,
é a sua memória a me embalar;
a memória desse colo a me ninar,
colo de minha preta velha, minha mãe do mar.
O mar de minha terra foi Iemanjá antes de ser mar.
Foi preta velha, me deu de mamar,
só depois é que virou mar.
                                       
(Capixabaéchique, Elisa Lucinda)
____________________________________________________
 
(…)
 
Ele,
o mar.
 
Por motivo de peixe, batismo e nascimento
volto sempre a ele.
De pé
mas de quatro,
como cabe à nobreza das gentes.
 
Cada dia é,
cada hora é
um mar diferente.
                          
(às dunas, Elisa Lucinda)
______________________________________
 
(todos os poemas extraídos do livro a fúria da beleza, editora record)
 
beijo grande em todos.
o preto,
paulinho / paulo sabino.

3 Respostas

  1. um trechinho de uma música do Dorival:

    É doce morrer no mar
    Nas ondas verdes do mar
    A noite que ele não veio foi
    Foi de tristeza prá mim
    Saveiro voltou sozinho
    Triste noite foi prá mim
    É doce morrer…
    Saveiro partiu de noite foi
    Madrugada não voltou
    O marinheiro bonito
    Sereia do mar levou
    É doce morrer…
    Nas ondas verdes do mar meu bem
    Ele se foi afogar
    Fez sua cama de noivo
    No colo de Iemanjá
    É doce morrer…

    (http://letras.terra.com.br/dorival-caymmi/356569/)

    abraços
    Ronaldo Pelli

  2. Amável Paulinho,

    Que bom que você gostou dos meus novos poemas! Fico felicíssimo porque sei que você tem técnica apurada para avaliar poemas e mais que técnica: SENSIBILIDADE! Sempre estou de olho em seus escritos… Porque como cê sabe, eu os vejo primeiro por email, aí vem o lance de analisá-los… (rsrsrs) como cirurgião!… E sempre me alegro com todos os resultados que você propõe. Além, você proporciona uma mini-antologia de tudo que você lê e se encanta, compartilhando suas dúvidas, delícias, descobertas! Valeu, meu amigo!

    Abração,
    Adriano Nunes.

  3. sou eu quem agradeço, meu querido adriano!

    por tudo!

    beijo grande!

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