NEGRA GREGA

pessoas queridas,
 
este poema atira numa questão muito relevante, que tem a ver com o que se discute, hoje, sobre misturas de culturas e etnias.

como já comprovam alguns estudos, a troca entre a áfrica e a grécia antigas, troca cultural, comercial, ocorria de forma intensa desde tempos imemoriais. 

tal relação de permuta entre essas culturas, certamente, criava, ajudava a criar, as identidades culturais de ambos os lados.

quando a europa se apropria de preceitos originários da antigüidade clássica, da grécia antiga, para a edificação de suas “sociedades civilizadas”, escamoteia, encobre, sistematicamente, toda influência africana sofrida pela cultura grega.

segundo o professor que tive de história antiga, andré chevitarese, um grande especialista em grécia, a tradução mais fiel para as características da personagem de édipo é a de um homem “amorenado” (rs), queimado pelo sol, com um tom de pele mais escuro, e não a do herói “de cútis alva como a neve”, como traduziram os europeus.

as trocas entre culturas, entre sociedades, acontecem desde que o mundo é mundo.

há claros indícios, em estudos sobre a américa pré-colombiana, de que os nossos índios, muitos localizados, à época, na região de minas gerais, mantinham trocas comerciais, culturais, e até científicas (como, por exemplo, sobre modos de preparo da terra, para o plantio, e também sobre o cultivo do milho), com os índios que desciam do méxico(!). e o intercâmbio que na américa ocorria, entre os residentes pré-colombianos, ia do leste ao oeste, do norte ao sul. o reggae maranhense é fruto das trocas culturais com o caribe, troca que, segundo pesquisadores, existia desde antes da chegada de colombo.

“cultura pura”, “cultura genuína”, “cultura de raiz”, são termos que não servem pra muita coisa; na verdade, creio que não sirvam pra nada. pois nada pode ser “genuinamente puro”, “intocado”, “de raiz”, feito, surgido, sob influência nenhuma. não existe um fundo próprio das coisas; na verdade, o fundo, sempre, é falso. 

cultura que se deseja viva tem que viver a vida. e viver a vida significa estar inserido nela. o que se nega a trocar, a compartilhar, uma hora, é esquecido. e morre.
 
é isso, senhores. misturem-se, mesclem-se! é assim que se cria (em todos os sentidos  – rs!).
 
beijo grande em vocês!
paulo sabino / paulinho.
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(poema extraído do blog A Cidade Sou Eu, de Alex Varella)
 
NEGRA GREGA (Alex Varella)
 
Negra  negra
 
Grega  grega
 
de  palavras  &  mercancias
 
no  Porto  das  Palavras
 
de  Alexandria
 
beleza  é  o  ser  visível
 
ser  é  visível
 
negra  grega
 
da  África  Clássica
 
próprio  da  beleza  é  o  aparecer
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