benvindos,
como vem ocorrendo há alguns anos, nesta data querida me surge sempre alguma canção ou poesia.
hoje, primeiro de dezembro, meu pai, se estivesse vivo, completaria 67 aninhos de pura travessura (rs).
ele, um homem divertido, muito bem-humorado, carinhoso por demais. tanto é, que a maneira minha de externar carinho, demonstrar afeto, é através de abraço e beijo. na minha casa, na casa onde fui criado, abraço e beijo eram artigos do dia-a-dia, artigos de luxo e, por isso mesmo, artigos deveras disponibilizados, utilizados como garfo e faca à hora das refeições.
tenho absoluta certeza de que muito da minha vontade de boa vida a todos se deve ao jeito, à postura dos meus pais ante a vida.
e graças ao caminho, à vida, à trilha, encontro nas esquinas do destino grandes homens, homens capazes, como meu pai, de me proteger, de me confortar, de me compreender.
homens que beijo como se meu pai. (beijo homens, muitos, mas poucos como meu pai.) isso é um status de totais confiança e credibilidade na minha existência.
pensando nos versos que seguem, dois GRANDES homens, amigos, irmãos, me surgiram de pronto; são eles: athos luiz e césar guerra chevrand. a esses dois homens devo tanto tanto tanto…
lembro-me de um episódio muito marcante: meu pai acabara de morrer e eu estava naquele momento de transformar as dores e a saudade aflita. numa manhã em que sonhara com ele, acordara muito angustiado, melancólico, bem entristecido. uma sensação de desamparo, abandono, me invadiu de maneira tão contundente, que, naquele instante, fora como se eu não tivesse, depois da perda, com quem contar no mundo, como se não houvesse a quem recorrer. claro que era um exagero dos sentimentos, mas a perda de referência tão significativa e forte gera esse tipo de confusão sentimental. parado no corredor do apartamento, minha mãe ausente (de casa), a sensação desconfortável, doída, e o desejo de alcançar abrigo longe dali. intuitivamente, sem racionalizar, pegara o telefone e ligara automaticamente para o césar. ao ouvir sua voz, doce, serena, sempre me dizendo as coisas mais apropriadas, mais afins, fora envolvido por um sentimento tamanho de conforto e esteio, que só fizera chorar por muito tempo. nem sei quanto. chorei, chorei, chorei & chorei. ele, césar chevrand, ali, apenas me ouvindo e já me amparando com as palavras que pausadamente depositava em meus ouvidos. depois de um bom tempo, o sorriso, na voz e na alma, solapava toda tristeza. césar, que é de guerra, me fizera vencer a batalha.
athos luiz, esse negro gato de arrepiar (rs), é sempre capaz de dizer as coisas mais acertadas — aos meus olhos —, e as nossas afinidades e concordâncias e constatações e avaliações e lições apreendidas só me fazem crer que esse tipo de relação formula um refúgio, um abrigo, uma espécie de amizade residencial (rs). athos está, a todo momento, dizendo-me coisas surpreendentemente acertivas, justas, coisas bonitas, lúcidas. e me ensina, demais!!, com as suas posturas frente aos acontecimentos. talvez ele seja a pessoa mais bem resolvida que conheço, pessoa que mergulha fundo em si. nesse homem tudo é impressionantemente bonito: corpo & alma, cabelo & sorriso, gesto & voz, abraço & palavras.
ao pensar nestas linhas, eles vingaram no pensamento de modo exuberante (os dois, como eu, são apaixonados por este poema-canção).
minha mãe, espírita, praticante do kardecismo, crente na vida após a morte, diga ao meu pai que está tudo bem, diga a ele que eu, quando beijo um amigo, estou certo de ser alguém como ele é: alguém com sua força, com seu carinho, com olhos e coração bem abertos: alguém como césar guerra chevrand: alguém como athos luiz.
um brinde a paulo sabino! a ele, a minha luz primeva!
beijo grande em todos!
o junior do papai (rs).
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(do livro: Gilberto Gil — todas as letras. organização: Carlos Rennó. editora: Companhia das Letras.)
PAI E MÃE
Eu passei muito tempo
Aprendendo a beijar
Outros homens
Como beijo o meu pai
Eu passei muito tempo
Pra saber que a mulher
Que eu amei
Que amo
Que amarei
Será sempre a mulher
Como é minha mãe
Como é, minha mãe?
Como vão seus temores?
Meu pai, como vai?
Diga a ele que não
Se aborreça comigo
Quando me vir beijar
Outro homem qualquer
Diga a ele que eu
Quando beijo um amigo
Estou certo de ser
Alguém como ele é
Alguém com sua força
Pra me proteger
Alguém com seu carinho
Pra me confortar
Alguém com olhos
E coração bem abertos
Pra me compreender
Como sempre, lindo texto, negão.
E a genialidade do Gil nos obriga a pensar na nossa relação que nos molda ao mundo e com aqueles que amamos, a relação com pai e mãe.
Beijos e saúde eterna do te admirador.
Athos
Paulinho,
Lindo! “Pai e mãe – Ouro de mina”
Grande abraço,
Adriano Nunes.
obrigado, meninos!
beijo!
[…] de regresso. é duro perder referência tão importante, tão significativa. eu bem sei (https://prosaempoema.wordpress.com/2009/12/01/meu-pai-como-vai/). todavia, acho um exagero o modo como é rechaçado tal fato. como se fosse uma desnatureza, um […]