Quanto a mim, concordo com a tese de que “enquanto fazemos poesia não partimos”. Consultando o contexto em que essa frase se encontra, percebe-se que Broch lamentava o fato de não partirmos quando fazemos poesia, como se dissesse: “Quando fazemos poesia, não chegamos a partir”. Para ele, o importante era partir. Pois bem, penso, ao contrário, que o fato de não partir é exatamente o que faz da poesia o que ela é: uma das dimensões insubstituíveis e, segundo penso, supremas, da experiência humana. Na verdade, creio que não é somente quando fazemos poesia, mas, principalmente, quando a lemos, que não partimos.
Partir quer dizer dividir em partes, separar as partes: e é da noção de separação que vem o sentido de ir embora. Pois bem, para que o juízo, isto é, o conhecimento humano discursivo, dianoético, seja possível, é necessário, em primeiro lugar, que o sujeito (que julga) e o objeto (sobre o qual se julga) tenham sido separados. No próprio objeto, é preciso também que o sujeito tenha sido separado de suas propriedades e relações etc. Ora, muito sucintamente, essas separações são condições para que possamos conhecer e instrumentalizar o mundo dos objetos. Através da partida, portanto, todos os entes se tornam objetos para o sujeito que conhece.
Também o poema consiste num objeto artificial. Não se trata, evidentemente, de um objeto artificial material, como a folha de papel sobre a qual ele se encontra escrito, mas de um objeto formal, de um objeto-tipo, como uma palavra. É assim que, como uma palavra, ele pode encontrar-se em diferentes meios ao mesmo tempo: nos vários exemplares de um livro, em revistas, em computadores, na internet, em gravações sonoras etc.
A mais importante característica a distinguir esses dois tipos de objetos artificiais de caráter formal que são as palavras e os poemas parece-me ser o fato de que, ao contrário de uma palavra, um poema enquanto poema não desempenha qualquer função sintática ou semântica na língua a que pertence. Na verdade, o poema enquanto poema é um objeto artificial de caráter formal desprovido de qualquer função determinada. Ora, um objeto destituído de função determinada é, literalmente, um objeto que não serve para nada.
Normalmente, não damos atenção a objetos que não servem para nada. Por que damos atenção a um poema enquanto poema? Coube a Kant responder a essa pergunta, ao descrever a beleza como uma finalidade sem fim. O poema enquanto poema é um objeto no qual reconhecemos a forma da finalidade sem, entretanto, reconhecermos o fim, a função que daria o seu conceito. Por isso mesmo, o poema enquanto poema é um objeto que, como diz Kant das ideias estéticas, “constitui uma apresentação da imaginação que dá muita ocasião ao pensamento, sem que nenhum pensamento determinado, nenhum conceito, possa ser-lhe apropriado e que, consequentemente, não é completamente alcançável ou tornado inteligível por nenhuma linguagem”.
Sob o domínio da imaginação, o poema provoca o que o autor de “A Crítica do Juízo” chama de “livre jogo” entre as faculdades do conhecimento: trata-se de um objeto da língua ao qual voltamos, não por razões pragmáticas, mas estéticas, como voltamos a contemplar um quadro ou uma escultura.
Mas um poema é um objeto especial também em outro sentido, evidentemente ligado a esse primeiro. Ocorre que ler um poema é como mergulhar nele em pensamento. O poema é objeto e pensamento ao mesmo tempo. E, ao contrário do que ocorre nos não poemas, no poema não é possível separar o objeto do pensamento ou do sujeito do pensamento. Aquilo que pensa no poema é também a sua materialidade linguística: não apenas os seus significados convencionais, mas os seus significantes: e os significados não se separam, no poema, dos significantes. Nada, nele, se separa de nada; nada se parte; nada parte.
É nesse sentido que eu diria que, enquanto fazemos ou lemos poesia, não partimos.
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