FLOR BELA D’ALMA

queridos & queridas,
 
abaixo, três poesias da delicada e amorosa poeta portuguesa florbela espanca, uma grande voz feminina do início do século vinte.
 
uma robusta melancolia permeia toda a sua obra, marcada por saudades e umas tantas tristezas & decepções amorosas. 
 
os textos que seguem dão conta de mostrar essa nuance que muito se destaca na sua poética.
 
gosto muito dos poetas que atrelam ao seu modo de escrever a simplicidade (na abordagem do assunto que se dispõem a tratar) & a sofisticação, o requinte (ao manejarem com maestria a língua na qual versejam).
 
florbela espanca, aos meus olhos, integra essa categoria de vates.
 
seu nome é já poesia: florbela d’alma (da conceição espanca) e diz um bocado sobre o que é encontrado nesta bela flor da alma. 
 
aqui, escritos que falam sobre a vida, sobre seus versos e seu jeito de ver os poetas.
 
colham estas formosas flores poéticas e guardem-nas em algum recanto do ser.
 
beijo em vocês.
paulo sabino / paulinho.
____________________________________________________________________
 
(do livro: Poemas. autora: Florbela Espanca. organização: Maria Lúcia Dal Farra. editora: Martins Fontes.)
 
 
VERSOS
 
Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma…
 
Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
 
Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…
 
Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Meus soluços de dor andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…
 
 
POETAS
 
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
 
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
 
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
 
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
 
 
A VIDA
 
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento…
Lançar um grande amor aos pés d’alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
 
Todos somos no mundo “Pedro Sem”,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo d’onde vem!
 
A mais nobre ilusão morre… desfaz-se…
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida…
 
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a Vida!…

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