O SI-MESMO: VIDÁGUA, E NADA

seres humanos:
 
tão pequenos, tão insignificantes ante o mundo — “não somos mais que uma piada de deus”, que “um breve pulsar” —, e, no entanto, entre tanto, entre tantas coisas, um universo onde cabe um bocado de “apetrechos”, cabe tanto que é preciso de um basta, de um fim, do silêncio eterno & profundo.
 
o assunto sobre o qual tratamos é sempre o mesmo, isto é, sempre o mesmo papo porque sempre tratamos, no fim das contas, do “si-mesmo” (ciente de que o mundo, de que o entorno, não passa de uma interpretação pessoal, única, interpretação intransferível; o olhar, este pequeno planeta, como escreveu cecília meireles, antes, transcodifica tudo & todos).  
 
uma piada de deus. um breve pulsar. um ponto. um fragmento. um quase nada (a nossa existência). todavia, um universo que se basta, que nos é, em sua pequenez, um colosso (e como! e tanto!).
 
por tanto, entre tanto(s),
 
nunca não ser ninguém nem nada. continuamente “alguém”, constantemente algo onde lançamos o olhar e onde reconhecemos (em parte) o avistado.
 
porém,
 
contudo, 
 
deixar a vida (es)correr um tanto por suas força & vontade próprias. deixar que a vida tome a direção. deixar que ela nos navegue.
 
(es)correr através da “vidágua”, (sor)vendo o líquido que corre. ou seja: beber sua água enquanto é tempo.
 
para, depois,
 
nada. para, depois de deixar-se levar, depois que a vida comandou o “barco”, (re)tomar o leme e nadar para onde desejar seguir, para onde insistir aportar, para onde carecer singrar. (e sangrar.)
 
e agora: basta.
 
a vocês, estes dois lindíssimos poemas do ad–mirado: paulo henriques britto.
 
beijo grande!
o preto,
paulo sabino / paulinho.
______________________________________________________________________
 
(do livro: Macau. do capítulo: Três tercinas. autor: Paulo Henriques Britto. editora: Companhia das Letras.)
 
 
I
 
Para o que se quer, isto basta.
Parece pouco. E é pouco, mesmo,
é um quase nada. E no entanto
 
cabe um bocado, cabe tanto
que é até preciso dar um basta.
Quanto ao assunto — o si-mesmo —
 
é invariavelmente o mesmo.
Um ponto. Um fragmento. Entretanto
é um universo que se basta —
 
e como! e tanto! — a si mesmo.
E agora basta.
 
 
III
 
Nunca não ser ninguém nem nada,
porém deixar-se estar no tempo
como se a vida fosse água,
 
como quem bóia à flor da água
sem rumo, sem remo, sem nada
além de sono, tédio e tempo,
 
senhor de todo o espaço e o tempo,
munido só de pão e água
e, sem precisar de mais nada,
 
beber sua água enquanto é tempo.
E, depois, nada.

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