prezados,
aqui, um tanto da grafia, da escrita da minha existência:
eu me perdi na sordidez do mundo. e me salvei na limpidez da terra.
eu me busquei no vento e me encontrei no mar.
por isso, não me peçam cartão de identidade, pois nenhum outro, senão o mundo, tenho. não trago deus em mim, mas no mundo em que habito, sabendo que o real o revelará.
não tenho explicações. olho e confronto, e, por método, meu pensamento é nu.
a terra, o sol, o vento, o mar, são minha biografia, são meu rosto.
o meu interior é uma atenção voltada para fora. de tudo quanto vejo, me acrescento.
e, ao poema, eternamente, regressarei como à pátria, como à casa, como à antiga infância, para buscar, obstinado, a substância de tudo e gritar de paixão sob mil luzes acesas.
que assim seja.
um beijo em todos,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Poemas Escolhidos. autora: Sophia de Mello Breyner Andresen. organização: Vilma Arêas. editora: Companhia das Letras.)
EU ME PERDI
Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Polícia agiota fariseu
Ou cocote
Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra
Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar
POEMA
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
REGRESSAREI
Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas
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