a fruta não dura: madura, consome-se e se esvai.
amoras, amores: assim como a fruta, o amor, maduro, um dia apodrece
e cai.
(um dia, a fruta fratura. o tempo do amor: elã recíproco que, de tão fugaz, não passa de um minuto?)
amor: chover no molhado:
no início, o susto mútuo;
depois, o hábito;
por fim, o cava-rápido, que sepulta e enterra.
(secando lado a lado, como se vê nos mais variados casos, os amantes chovem no molhado.)
porém,
ainda que,
mesmo se,
o amor: como apreendê-lo?
como captá-lo, abeirar-se do seu fundo?
pensar sobre o amor: avistá-lo como bicho? como barco? como flor?
abeirar-se dele, abordar mais, chegar à borda, tocar com o bordo. dobrar as costelas a fim de mirá-lo e admirá-lo.
(e ele, o amor, ele ri de você ao vê-lo assim, curvado, tal qual um sinal de interrogação, tal qual abelha abestalhada vasculhando o que possa ser: bicho-barco-flor.)
o melhor a se fazer:
seja o que for o amor, cair, quedar em seu abismo (em admirações tamanhas), que dele, do amor & seu abismo, não se consiga sair.
amar é um grande exercício. amor não é fácil nem chega pronto. entretanto, creio que valha o esforço.
(não esqueçamos que no amor cabe o gozo!)
beijo carinhoso em todos,
o preto,
paulo sabino / paulinho.
____________________________________________________________________________________________
(do livro: Enquanto velo teu sono. autor: Adalberto Müller. editora: 7Letras.)
A FRUTA
Amoras, que o nome têm de amores (Camões)
A fruta não é
para durar:
madura
consome-se e
se esvai.
Assim esse amor
maduro
um dia apodrece
e cai.
(do livro: Parte alguma. autor: Nelson Ascher. editora: Companhia das Letras.)
Amar não passa de um minuto
(no máximo) de surto mútuo
e, como se converte em hábito,
até que chegue o cava-rápido,
ambos, secando lado a lado,
chover-nos-emos no molhado.
(do livro: Cinemateca. autor: Eucanaã Ferraz. editora: Companhia das Letras.)
O AMOR?
Não, não é uma flor
(pelo puríssimo prazer
do não-ser). Mas
você quer tentar
novamente, está bem.
Pense nele como: bicho.
Abeire-se dele, do abdômen,
aborde mais, chegue
à borda, toque
com o bordo, dobre
as costelas (algo de barco
no bicho).
Ele ri de você
ao vê-lo assim: curvado,
tal qual um sinal
de interrogação, abelha
vasculhando abestalhada
o que possa ser bicho-barco-flor
ou uma abertura para isso, disso,
fissura, fresta,
furo
(você o pensa como: poço?).
Não vale a pena
se abespinhar.
Faça melhor:
abisme-se
caindo
em admirações tamanhas
que de lá não possa sair.
Afinal, o amor é isso
(se fosse), pelo despenhadeiro prazer
de jamais oferecer garantias,
arras, bula.
Maravilha Paulinho! Chover no molhado mesmo, pois sem ela secamos.
bjs
Paulinho,
Belas escolhas! O amor é isso…
Abraço forte,
Adriano Nunes.
beijo em vocês, meninos!