TEATRO (autor: Paulo Sabino)
Meu palco:
o papel
E as palavras
— vestes com as quais enceno os espetáculos —
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senhores,
como clarice lispector,
considero-me um amador e um aprendiz na arte do manejo das palavras. é um processo “louco”, sem muito domínio meu (constato). as “coisas”, simplesmente, surgem à borda, à superfície, do meu imaginário.
(com “as coisas” quero dizer “as idéias”; indo mais fundo, quero dizer “as junturas das palavras que desenvolvem as idéias”.)
sim sim sim, há um trabalho meu, atencioso, astuto, de revisão textual. e, com a revisão textual, mudo palavras, troco a posição de frases, revejo a pontuação, repenso o conteúdo.
todavia, mesmo repensando-o, o conteúdo “jorra”. as frases vão nascendo “prontas”, “de vez”. o que faço, normalmente, é a correção de termos, de concordâncias, e a inclusão de mais idéias.
a minha construção de idéias não é estudada milimetricamente.
… a bem da verdade, é, sim; mas estudada milimetricamente depois de um “jorro”, de uma torrente de palavras que trava & desembesta, trava & desembesta, trava & desembesta.
trava & desembesta e sempre uma enxurrada, e como enxurrada, arredia, insubmissa, inelutável.
essa sensação de “mistério”, de falta de controle, de domínio (completo), sobre o processo de criação textual, desperta uma outra sensação, a de (certa) impotência para com a gênese dos textos, para com a desenvoltura das linhas, para com a montagem das peças-palavras do quebra-cabeça.
essa impotência gera a certeza do desconhecimento do processo criativo, portanto, a certeza de não saber escrever, de não obter o domínio, de não alcançar a técnica.
não obstante, essa constatação não me impede saber que, mesmo não sabendo escrever, escrevo bem.
entendam: paulo sabino não sabe escrever, não obstante sabe que escreve bem.
pode parecer um contrasenso, mas não há contrasenso algum na minha afirmação.
(afinal, paulo sabino está atento não só ao que escrevem, mas também, e sobretudo, ao que escreve.)
pensem a respeito.
beijo em vocês.
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(autor: Paulo Sabino.)
AR RISCAR (para Armando Freitas Filho)
cuido a poesia
talho cirúrgico
arriscado
à sua companhia
corro risco
de vida
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