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ao longo da caminhada,
passos & mais passos dados & largados percurso afora.
coladas aos passos: pegadas, marcas: rugas.
passos são rugas, deixam marcas na rua.
marcas levíssimas, quase ninguém vê. só mesmo o faro de um cachorro ou o ouvido tortuoso de um peão para catar os ecos que restam ao rés do chão.
no entanto,
todavia,
os passos & mais passos — dados & largados percurso afora — são realmente como: rugas?
os passos dados & largados percurso afora são realmente como marcas, ainda que mínimas, tatuadas na epiderme do asfalto?, gravadas na pele chã?
alguma coisa do passo firme, ou do passo falso, fica na quebra do cimento ou na frincha do asfalto?
ou será que o passo (seja ele firme ou falso, seja ele triste ou feliz) sequer existe em si, e cada passo (a)fundado em terra é sempre memória de outro passo dado?
restem ou não restem ao rés do chão, continuemos as nossas andanças & os seus passos, para que os lances da vida se realizem, se concretizem, em nós: aqui, acolá & além.
beijo bom em todos!
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Em trânsito. autor: Alberto Martins. editora: Companhia das Letras.)
TRANSEUNTE
passos
são rugas
deixam marcas
na rua
marcas levíssimas
quase ninguém vê
só o faro infra
vermelho de um cachorro
o ouvido tortuoso
de um peão
para catar esses ecos
ali onde se encontram
— papel rasgado bi
tuca de cigarro tam
pinha de plástico —
ao rés do chão
OUTRO TRANSEUNTE
passos
são rugas?
deixam marcas na rua?
na quebra
do cimento na frincha
do asfalto
alguma coisa fica
do passo firme
ou falso?
— ou o passo
sequer existe
em si
e cada passo
é sempre memória
de outro passo dado
aqui?
acolá?
além?
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