a vocês,
belíssima confissão poética, onde o meu (talentosíssimo) poeta das alagoas, adriano nunes, mostra que as diferenças podem & devem ser complementárias, inda mais se tratando de poesia.
uma coisa que não canso de proferir (digo & repito aos quatro ventos) é que:
belezas não nasceram para exclusão, nasceram para complementaridade.
sinto que a poesia, os poetas e os leitores só têm a ganhar com as singularidades de cada voz poética.
percebo que me torno melhor sendo o eco de tantas vozes divergentes; acumulo saberes.
detesto enquadramentos.
abomino rótulos.
não suporto classificações.
sinto-me fora de tudo: fora de esquadro, fora de foco, fora do centro. o trabalho que desempenho não tem nome, não pede enquadramento, rótulo ou classificação.
por isso absorvo tantos vates, sem pré-conceitos. acima de tudo, o que busco é autenticidade. e a autenticidade, senhores, pode ser encontrada em qualquer livro-ambiente. basta o ser: autêntico.
essa “libertinagem literária” (rs), que apoio inquestionavelmente, está presente nas linhas que seguem.
nos versos, o poeta revela ao leitor algumas importantes influências literárias suas, as mais díspares (e eu ADORO!):
engole ferreira gullar, dorme com carlos drummond, e, tamanha “libertinagem” (rs), é uma pessoa ligada em pessoa (no fernando) e, como o bardo português, repleto de pessoas na pessoa.
e continua poemafora:
andando a pé (o pé com a dor), pecador de ofício, segue dando bandeira ao lado do manuel. na visão, dois campos (o augusto e o haroldo). na razão, os mil anjos de rilke. às quintas, mário quintana & sua companhia.
(uma pausa para verificações: que sabe mais o poeta de si se tudo o que de si sabe está envolto em poesia?)
prossegue, fazendo um divertido jogo poético com a gênese que resultou no que hoje denominamos “brasil”: citação ao descobridor do país, pedro álvares cabral, que, nos versos, acaba por ser descoberto (rs), ao responsável pelo primeiro texto literário de que se tem notícia em terras brasileiras, que é a carta de pero vaz de caminha (famoso escrivão da esquadra de pedro álvares cabral), na qual descreve o seu deslumbramento ante o mundo novo que se descortinava ao seu olhar, e citação ao padre antônio vieira, jesuíta que viveu no brasil no século 17, famoso por seus satíricos sermões contra determinadas práticas da sua época, sermões de suma relevância para a literatura barroca brasileira & portuguesa.
de repente as linhas dão um salto para os modernos: e waly sailormoon?, onde está o navegante luarento? e adélia, será que junto ao seu: prado? e piva, o roberto, o poeta de paranóias da paulicéia desvairada, cadê?
são tantos os responsáveis pelo emaranhado de versos… a quem dedicá-los? a circe, a “feiticeira das odisséias”?, ou a cecília, a “poeta das canções”?
ao final, a constatação de que ficam muitos (tantos & tantos & tantos outros) poetas apenas no pensamento e na intenção, à margem desta confissão, e a ressalva, confessando ao último mestre citado, o grande paulo leminski, que lamenta por todos os outros não citados.
toda homenagem é um tanto “desfalcada”, um tanto “incompleta”, deixa sempre algo de fora. porém, o fato de deixar, sempre, algo de fora não a torna menos bonita, delicada & inspiradora.
deliciem-se com esta belíssima confissão, ventada das alagoas e devidamente pousada neste espaço!
beijo em todos!
um outro, especialíssimo, no meu querido poeta adriano nunes!
o preto,
paulo sabino / paulinho.
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(do blogue: QUEFAÇOCOMOQUENÃOFAÇO. de: Adriano Nunes.)
CONFISSÃO (autor: Adriano Nunes)
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engulo gullar
durmo com drummond
sou uma pessoa
ando muito a pé
pecador de ofício
dou tanta bandeira
na visão, dois campos
na razão, mil anjos
às quintas, quintana
que sei mais de mim?
descubro cabral
conto pra caminha
confesso a vieira
onde está waly?
no ar? nos túneis? nada!
eu, nunca? nem ela,
minha piva, adélia.
pra circe ou cecília?
os outros, os outros…
lamento, leminski!
durmo com drummond
sou uma pessoa
ando muito a pé
pecador de ofício
dou tanta bandeira
na visão, dois campos
na razão, mil anjos
às quintas, quintana
que sei mais de mim?
descubro cabral
conto pra caminha
confesso a vieira
onde está waly?
no ar? nos túneis? nada!
eu, nunca? nem ela,
minha piva, adélia.
pra circe ou cecília?
os outros, os outros…
lamento, leminski!
deu sentido ao que eu havia sentido.
Obrigado.
ô, marcio,
que bonito, que bacana.
volte sempre que quiser.
abraço grande!
Amado Paulinho,
Sinto-me honrado em ser dissecado por sua razão, sua percepção crítica. Você consegue ver coisas que eu , nem eu mesmo vi em meu poema. Juro que quando o criei, pensei em Augusto dos Anjos para a parte dos “Anjos”… Mas amei a referência dada a Rilke que passarei a adotar em futuras entrevistas e ensaios. Só um poeta sabe ao certo porque faz um poema, revelá-lo ao todo seria um crime! Muito obrigado! Paz e luz!
Adriano Nunes.
adriano, meu poeta das alagoas,
é sempre uma alegria receber os seus versos, sempre tão bem trabalhados, tão bem arquitetados.
exatamente pelo cuidado extremo que você possui, lê-lo, ler você, é sempre um IMENSO prazer!!
fico feliz sabendo que as minhas palavras sobre o seu poema lhe parecem de acordo! que bom!!
paz & luz para nós, meu QUERIDO!!
beijo ENORME!!