um exercício:
despir-se das roupas, das convicções, dos amores insolúveis, quando junto do mar.
a única roupa a vestir o corpo: a areia branca.
a única convicção: caminhar rumo ao mar, entre as conchas.
para, então, mergulhar fundo na placenta do mundo.
o mar: a grande placenta do mundo.
costumo dizer que o mar é um útero às vistas.
o primeiro indício de vida veio da água.
o primeiro momento das nossas vidas passamos numa enorme bolsa líquida.
os primeiros impulsos nervosos se fazem quando imersos num mundo líquido.
o parto de uma criança na água é uma modalidade de nascimento que procura trazer o bebê ao mundo exatamente como ele estava quando no útero.
por isso, concluo, sempre que imerso em águas calmas, sejam de mar ou de um rio caudaloso, estar no conforto de um útero.
eu realmente — isto é uma viagem minha, senhores (rs) — acredito que a água nos resgate sensações uterinas, sensações geradas pelos impulsos nervosos quando ainda somos crianças em desenvolvimento — de uma gestação feliz & desejada —. creio que estar imerso em água nos conecte àquelas sensações primordiais, de segurança, de tranqüilidade, de eterna paz, que sinto quando “me deixo deitado”, isto é, quando me deixo boiando, de olhos fechados, cabeça esvaziada, completamente despido de convicções, amores & preocupações, ligado apenas no doce balanço das águas que levam ao léu.
(e eu vou, na bubuia eu vou…)
adoro estar junto da água justamente por ela gerar sensações que me parecem primárias, que me parecem recuperadas dos primórdios, recuperadas de quando ainda acomodados no ventre materno.
pratique-se o exercício, delicioso. é uma espécie de meditação.
beijo bom & sereno, beijo calmo, em todos.
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Enquanto velo teu sono. autor: Adalberto Müller. editora: 7Letras.)
EXERCÍCIO MARINHO
Dispa-se das roupas
das convicções
dos amores insolúveis.
Deixe a areia branca
entrar pelos dedos.
Caminhe resoluto
entre as conchas.
Quando a água fria
alagar a virilha,
mergulhe fundo,
infantilmente,
na placenta do mundo.
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