SONHO DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA

sonho de uma terça-feira gorda:
 
mesmo um céu cinza, o sorriso branco.
 
sonho de uma terça-feira gorda:
 
ainda que um dia encoberto, a alegria & a fantasia extravasadas.
 
os dominós eram negros, e eram negras as suas máscaras.
 
iam, por entre a turba, com solenidade, com ar lúgubre, porém, por dentro, a profunda, a silenciosa alegria.
 
pois que era dentro deles, dos dominós, negros, que estava a alegria.
 
alegres, pois que sejam, e estejam, os foliões, para a batalha de confetes, e também para a batalha da vida, em prol de melhorias, atentos a decisões que dizem respeito às nossas vidas.
 
beijo bom & leve em todos!
paulo sabino.
 
(viajo para a região serrana na quarta-feira de cinzas, local sem internet. semana próxima estamos por aqui.)
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(do livro: Estrela da vida inteira. autor: Manuel Bandeira. editora: Nova Fronteira.)
 
 
SONHO DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA
 
 
Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, e negras eram as nossas
                                                                                                  [máscaras.
Íamos, por entre a turba, com solenidade,
Bem conscientes do nosso ar lúgubre
Tão contrastado pelo sentimento de felicidade
Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
Que nos penetrava… Que nos penetrava como uma espada de fogo…
Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas!
 
E a impressão em meu sonho era que se estávamos
Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
— Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro e luminoso!
 
Era terça-feira gorda. A multidão inumerável
Burburinhava. Entre clangores e fanfarra
Passavam préstitos apoteóticos.
Eram alegorias ingênuas ao gosto popular, em cores cruas.
 
Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida,
De peitos enormes — Vênus para caixeiros.
Figuravam deusas — deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas.
A turba, ávida de promiscuidade,
Acotovelava-se com algazarra,
Aclamava-se com alarido
E, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores.
 
Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
O ar lúgubre, negros, negros…
Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso!
Nem a alegria estava ali, fora de nós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
— A profunda, a silenciosa alegria…

2 Respostas

  1. Não sei se já lho disse, mas sigo sempre o seu blogue -muito bom, nos seus considerandos, como nos poemas escolhidos.Boa viagem e regresse breve.Um abraço

  2. ô, amelia,

    você já me disse algumas vezes que segue o meu blog, e é sempre muito bom saber que você está sempre por aqui, comigo.

    bom contar com leitores como você. isso me incentiva a continuar.

    beijo GRANDE!

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