o tempo vai longe.
o tempo vai até onde a vista não alcança.
o tempo: muito mais que os horizontes de todos os mundos de todo o universo.
o tempo é mais.
o tempo: compositor de destinos, tambor de todos os ritmos.
o tempo: deus inventivo & contínuo, eterno.
vai longe o tempo em que se sabia prever, através de símbolos criados no espaço, ou seja, através de símbolos (insígnias) criados pelas sociedades humanas à sua época, as maldições do apocalipse, as previsões para o fim do mundo, e as duras penas do juízo final, tribunal onde cada um de nós seria julgado pela força divina suprema.
vai longe, isto é, está longe, o tempo do sofrimento no patíbulo (espécie de forca montada em palanque ou estrado, em local público), está longe o tempo das lâminas da guilhotina, está longe o tempo das masmorras, onde as vítimas, na áspera pedra, apodreciam, está longe o tempo de quem, na forca, sacudia os músculos frios & lívidos.
e também vai longe o tempo que, na cruz vazia dos nossos tempos, não sobe um mártir ou outro alguém que nos redima.
vai longe, está longe, o tempo de todas as atrocidades cometidas e aqui comentadas.
todavia,
no entanto,
porém,
o mundo, de uma maneira mais polida, de um modo mais educado, de um modo mais elegante, mais inteligente, mais instruído, o mundo assassina, o mundo mata, o mundo liqüida, pessoas, sem deixar um só vestígio.
houve a mudança no modo de assassinar, no modo de provocar o assassinato, não deixando que o assassinado se dê conta de que sua morte se trata de: homicídio. pessoas são mortas, são aniquiladas, especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos, nos sertões mundo afora, interior adentro, nos campos de cultivo, na qualidade das funções ofertadas neste mundo cão, mundo de latidos & mordidas, mundo de disputas territoriais — seja pelo território de um país, seja pelo território do trabalho, seja pelo território da casa —.
os assassinatos são cometidos mas sem deixar um só vestígio. ninguém os percebe.
e, como não é enxergado o horror que pode ser a vida, como não é percebido o terror que pode ser “ser”, como não é percebido o terror que pode ser “viver”, não nos suicidamos.
e eu digo mais: não nos suicidamos, e, aos meus olhos, nem deveríamos.
acredito que devemos lutar, lutar por mudanças, batalhar por melhorias, defender uma existência mais confortável, menos agressiva, para todas as pessoas.
beijo todos!
paulo sabino.
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VAI LONGE O TEMPO
Vai longe o tempo em que sabias
gravar no espaço essas insígnias
com que os profetas anteviam
as maldições do Apocalipse
e as duras penas do Juízo.
Vai longe o tempo do martírio
e dos algozes no patíbulo,
das lâminas da guilhotina
e das masmorras onde as vítimas
na áspera pedra apodreciam.
Não ouço mais o grito estrídulo
dos que à tortura sucumbiam,
nem vejo a língua intumescida
de quem na forca sacudia
os músculos frios e lívidos.
Já não me cega os olhos vítreos
a luz dos ossos nos jazigos
e há muito que, à cruz vazia,
não sobe um mártir em suplício
nem outro alguém que nos redima.
Vai longe o tempo, e todavia
sequer por isso te suicidas
ante um mundo que, mais polido,
de outra maneira te assassina,
mas sem deixar um só vestígio.
E haja conectores, haja adversativas para compreendermos este tempo tão longe de não sermos ninguém… e vai longe o tempo onde a bárbarie é espaço e palco de insanos momentos que em nós agora latejam!
beijos, bom dia!!
Carmen.
um tempo tão longe, porém tão perto (em determinados aspectos)…
só espero que determinadas convergências do tempo que vai longe com o tempo atual, um dia, acabem como: divergências (rs).
vamos lutando por isso!
beijo bom, querida carmen!