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não é o ninho o lar do passarinho.
do passarinho, o lar é o ar.
é no ar, plainando, é no ar, traçando as suas rotas, é no ar, desbravando as suas travessias, que vivem os passarinhos.
o ninho é somente dormitório e lugar à cria. mesmo quando passarinho quer descansar, durante o dia, passarinho procura um galho de árvore por folhas encoberto, bem protegido.
o lar do passarinho é o ar.
e percebam: a palavra “lar”, que também significa “abrigo”, a palavra “lar“, concretamente, abriga o lar dos passarinhos: o ar.
assim como os lares dos passarinhos, as nossas moradas se fazem nas nossas travessias, se arquitetam nos caminhos que desbravamos mundo afora, nas rotas que construímos (& que desfazemos) durante a caminhada.
a vida é um eterno atravessar…
(eles passarão, e eu, passarinho – rs!)
a vida é um eterno traçar de rotas. avante sempre, sempre um outro momento: o que é, já foi, e o que será, um dia é, e se vai.
nesta travessia, o que eu quero?
respondo: eu quero a sina violeira.
eu desejo a sina violeira, eu almejo o destino correlacionado às composições musicais, na viola, a sina correlacionada aos violeiros modos (& às modas da viola):
quero viver de “desafio”;
amar de “improviso”;
e morrer de “repente”.
(“desafio”, “improviso” & “repente”: modos & trejeitos que a viola comporta.)
eu quero desafios, eu quero improvisos, & eu quero inesperados.
uma travessia onde o momento dite o momento, uma travessia onde o dia diga o dia.
viver dia após dia, viver um dia de cada vez, e vivê-lo, e vivenciá-lo, com todos os seus ineditismos & as suas singularidades.
viver cada coisa no seu próprio tempo, no seu próprio “coisa”.
portanto, viver sem pragmatismos. (talvez viver apenas com alguns poucos – rs…)
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O homem artificial. autor: Braulio Tavares. editora: Sette Letras.)
TRAVESSIA
O lar
do passarinho
é
o ar
não
é
o ninho.
SINA VIOLEIRA
O que eu quero
é viver de desafio
amar de improviso
e morrer de repente.
Continuo a gostar muito das suas introduções e escolhas poéticas.Um abraço deste lado do mar,que, segundo Fernando Pessoa, une e não divide…
Que maravilha, Amelia, saber que o “Prosa em poema” continua a agradá-la com os textos de apresentação & os poemas!
Este mar sempre nos uniu; afinal é no mesmo mar, no Atlântico, que nos banhamos.
Beijo GRANDE!
Bacana Paulo. Um dia ainda falaremos disso no Leme. Forte abraço
Vamos, sim, Edu!
Na quarta passada não deu, tive um compromisso. Pretendo, MESMO!, ir nesta próxima.
Abração!