adeus também foi feito para ser dito.
(adeus, adeus…)
todos os dias é um “vai & vem”.
a vida vem em ondas, como o mar.
tudo o que um dia se inicia, um dia termina.
em alguns momentos é muito duro dizer adeus, em alguns momentos é muito difícil assistir, de perto, ao fim de determinadas coisas, porém o fim de determinados fatos é necessário.
quando as palavras estão gastas e o que ficou não chega, não basta, para afastar o frio de quatro paredes, quando gastos os olhos com o sal das lágrimas, quando gastas as mãos com a força de terem sido apertadas, quando gasto o relógio — o tempo — e gastas as pedras das esquinas em esperas inúteis, quando sobrar apenas o silêncio, a boca muda, quando sobrar apenas a falta do verbo:
adeus.
se não há nada para dar, se, dentro, não há nada mais que peça a água de um corpo que, outrora, foi o aquário de uns olhos-peixes, peixes verdes, peixes imersos naquela natureza aquática, se as coisas não mais estremecem, quando murmurado o nome de quem se ama, no silêncio do coração, se o passado é inútil como um trapo, se, como já dito, as palavras estão gastas:
adeus.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poemas de Eugénio de Andrade. seleção: Arnaldo Saraiva. autor: Eugénio de Andrade. editora: Nova Fronteira.)
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sol das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
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Ótima lembrança, recomendação, indicação, apresentação e seleção. O entusiasmo é tanto com a boa poesia que um atrevimento nunca é demais…
Entre os teus lábios
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Edu,
que atrevimento pra lá de BOM!
ADOREI os versos, LINDOS!
abraço GRANDE!