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o canto é minha explicação.
a poesia é o que dá sentido ao meu rumo.
o poema é o meu grande guru.
(quem faz um poema salva um afogado.)
mesmo quando digo o que não sei, o canto é minha explicação: afinal, somos repletos de saberes & de desconhecimentos.
em verdade, nas vivências, mais não sabemos que sabemos.
o mundo, o entorno, é um absoluto silêncio, e esse silêncio soa-nos como uma absoluta incógnita.
sou o sentido do que se transforma, sou a rota do que se modifica, sou o norte do que se reconfigura, sou o sentido, sou a orientação, do que resiste à petrificação, do que não se cristaliza (o sempre ser para todo o sempre), e não conheço o declínio.
não conheço o declínio porque, na minha vida, o tombo é, no fundo, um passo a mais na trajetória de constante aprendiz: afinal, com os tombos aprende-se muito; as quedas principiam novas veredas, apontam setas inéditas, caminhos não imaginados não fossem os tombos.
vocês, que ouvem o que lhes digo:
saibam que tudo repara o tempo, em tudo o tempo dá jeito, tudo o tempo reinventa.
somos agentes, seres históricos, construímos, fazemos a História.
a existência é árdua. crises econômicas, pobreza, matança, extermínio, extinção, destruição. pessoas jurídicas, corporações nocivas ao convívio social, que destroem o que lhes atravesse o caminho, agindo, aqui & ali, lá & cá, diagnosticadas, inclusive, como “sociopatas”.
a existência é árdua. mas podemos repará-la.
(somos agentes, seres históricos, construímos, fazemos a história.)
tudo o tempo repara, menos a morte, mensageira do escuro, do oculto, do que finda, poderosa, que põe nos corações, desde o princípio, o seu germe vingador.
diz o dito popular: “para morrer, basta estar vivo”.
a morte coloca o seu germe vingador em nós desde o princípio: seja homem, mulher, jovem, velho, preto, branco, triste, feliz, saudável, doente, sensível, endurecido, hetero, gay, solteiro, casado, honesto, ladrão, crente, ateu, seja quem for, seja o que for, a morte, mensageira do escuro, implacável, poderosa, acerta-nos seu golpe, impiedoso, a qualquer hora do dia ou da noite, em momentos os mais variados possíveis.
nenhum sustento, nenhum amparo, nenhum apoio, nenhum suporte, nenhum sustentáculo, é eterno, ainda que tal sustento, que tal amparo, que tal apoio, que tal suporte, que tal sustentáculo, seja extraído da seiva que arde nas veias grossas do mundo.
nada é eterno. somos mortais. nada nos é dado sem o cobro, sem a cobrança, dos deuses — um dia, a seiva que arde nas veias grossas do mundo nos é negada, e chega ao fim a nossa jornada neste chão que pisamos…
por isso, ouçam:
aos senhores, estimo a insubmissão do amor, aos senhores, estimo a capacidade revolucionária do amor, de transformar realidades, de romper barreiras, de apagar fronteiras, aos senhores, estimo o desígnio divino do amor, de querer o bem-estar de tudo o que pulsa & compõe a sua paisagem.
aos senhores, também estimo a dor, pois a dor representa um modo de aprendizado. a dor é uma das dimensões existenciais; não existe vida sem insatisfações, sem inquietações, e sem cólera.
que a insatisfação & a dor & a cólera os salvem deste destino de todos, menor & implacável, que é: a morte.
(se sofremos, se a dor existe, é porque amamos. a dor está incluída no pacote. portanto, dêem-se por satisfeitos em abrigar a dor de amar.)
já que, um dia, nos será negada a seiva que arde nas veias grossas do mundo:
aproveitemos enquanto há tempo.
aos senhores, o amor & a sua dor!
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Antologia poética. autora: Marly de Oliveira. organização: João Cabral de Melo Neto. editora: Nova Fronteira.)
1.
O canto é minha explicação,
mesmo que diga o que não sei.
Sou o sentido do que se transforma,
do que resiste à petrificação
e não conheço o declínio. Ó vós que ouvis
o que vos diz Orpheu, sabei que tudo
repara o tempo, salvo a morte,
mensageira do escuro, poderosa,
que põe nos corações desde o princípio
seu germe vingador. Nenhuma Fúria
se lhe compara, nenhum sustento é eterno,
mesmo se subtraído à seiva que arde
nas veias grossas do mundo. Sois mortais
e vosso sacrifício há de ser grande,
que nada nos é dado sem o cobro
dos deuses.
Ouvi, no entanto, vós, que a ilusão
buscais sempre na vã agitação:
eu vos ensino a insubmissão do amor,
a inquietude que leva até o inferno
em vida, o êxtase, o delírio. Eu vos ensino
a dor e vos ensino a cólera,
que ela vos salve de vosso destino
menor e implacável. E vos ensino a glória.
E já que vamos morrer, amemos, doemos, poememos… e amemos, senhores, para que a vida não caiba na morte!
Beijos Paulo, uma boa semana.
Vamos amar, é isso que faz valer a PENA!
Beijo, Carmen querida!