AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: “OBAMA, VENHA COMIGO A CARTAGO”

aos senhores,
 
um vídeo com o poeta affonso romano de sant’anna falando do processo de criação do poema “obama, venha comigo a cartago”, do seu mais novo livro de poesias sísifo desce a montanha, cujo release (texto de divulgação para mídia) tive o prazer de escrever a convite da editora rocco.
 
após falar das motivações que o incitaram às linhas poéticas, o poeta declama este seu poema no vídeo.
 
bom proveito!
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do site: Youtube. poema: Obama, venha comigo a Cartago. livro: Sísifo desce a montanha. autor: Affonso Romano de Sant’Anna. editora: Rocco.)
 
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OBAMA, VENHA COMIGO A CARTAGO
 
 
Posso lhe convidar
                                                      para “a cup of coffee
ou se preferir, uma cerveja
                                                              nos jardins da Casa Branca 
como você fez com aquele professor negro e aquele policial
que equivocadamente se atritaram.
 
Mas o melhor lugar pra nosso encontro
                                                                                               — é Cartago.
 
Como dizia Garcia Lorca:
 
            Alli no pasa nada
            dos romanos matam siempre
            três cartagineses.
 
Certamente há lugares mais auspiciosos para se ir
e dialogar. A Cartago
                                                    Massada
                                                                                 ou Numância
se vai para resistir
                                                     — morrer. 
 
Na escola (quem sabe até na Palestina e Bagdá?)
nos ensinam 120 anos de “guerras púnicas”
até que na Terceira
                                                                DELENDA CARTAGO
Roma setenciou.
 
E após três anos de cerco
(como em Stalingrado
quando devorados os cães
já se devoravam os ratos)
fez-se o fiat ao revés:
por seis dias e seis noites hordas de legionários
atravessando arrasados vinhedos e olivais
se revezaram no sucessivo ataque.
 
Só Scipião Emiliano, o mais voraz
não descansava.
Alcançadas as primeiras casas de Byrsa
lançaram tábuas sobre os terraços
                                                                                           e avançavam
enquanto embaixo os estrídulos das espadas e os alaridos
das mulheres desventradas
                                                                         — lembravam My Lai. 
 
A fuga era impossível. Até as figuras imóveis dos mosaicos
se horrorizavam. Como uma lagarta incendiada
a história ardia
                                            como no Vietnam
                                            ardia a pele sob napalm.
 
Foi quando o legionário texano
— indiferente —
disse ao repórter de tevê:
— “I’m doing my job“.
 
E vieram os 10 senadores de Roma
conferir a destruição.
                                                            A pilhagem
foi liberada aos soldados,
mas o ouro, a prata, a oferenda aos deuses
e o petróleo
foram prometidos a outros nobres.
 
Nem Tanit, nem Ba’al
poderiam socorrer Aníbal
e seus 300 elefantes
como não puderam valer
a Asdrúbal — seu jovem irmão
e aos que não mais queriam a guerra.
 
Entre Cartago e Roma
(entre Dido e Enéias)
nunca foi fácil a ambígua relação:
                   O amor sempre rondou a morte
                   A morte sempre rondou o amor.
 
Entendo, enfim, porque os romanos ergueram em toda parte
tantas casas de banho
                             — era muito samgue a lavar.
 
Venha, Obama, passearemos aqui pelas ruínas
das Termas de Antonio Pius.
Não há água, não há chuva que lave
tanto remorso petrificado.
 
Agora, enquanto lhe escrevo, estou em Roma
a dez metros do portentoso Panteão
e olho o crepúsculo tingindo de ouro e sangue
as cúpulas e telhados.
Alguns pombos pousam sobre o templo de Agripa e Adriano
como se saídos da arca de Noé
ou daquele pôster de Picasso.
 
E eu, Romano, que ontem, em Cartago,
fiz o jejum de Ramadan
e cercado de oleandros e jasmins
contemplei a história dos altos jardins de Sidi Bou Said,
venho a Roma
acertar contas com Catão
e toda prole de Scipião o Africano.
 
Você não poderia ficar fora deste assunto, Obama
— “you are the man
E depois do que Catão e Scipião
fizeram no Iraque
temo que a próxima Cartago    
é o Afeganistão.
 
Os símbolos e as ruínas me perseguem.
Olho essa Lua islâmica, aquele alfanje afiando sua lâmina
na crispada torre barroca de Borromini.
 
Temos que conversar, Obama
you are the man 
 
E o melhor lugar, posto que o mais terrível
é Cartago: 
 
                  Alli no pasa nada
                 dos romanos matam siempre
                 três cartagineses.
 

2 Respostas

  1. Que post, meu querido! à altura do Grande Affonso Romano!!! Um passeio pelo que há de verdadeiramente belo em nossa literatura: A criação artística e lirica de um dos maiores escritores do Brasil. E a sua participação à convite da Rocco só fez acrescentar em grandeza ao belo livro em questão. Parabéns!

    Um beijo, doçurita!

    • Ô, minha doçura,

      Sempre bom receber a sua visita e as suas palavras! 🙂

      Beijoca boa, grande e DOCE!

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