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deixa que esse pesado corpo não pese na alma.
que também não pese na alma todo o prazer que aprouver apaziguar esse pesado corpo.
que, à alma, seja leve o pesado corpo, e tudo que o envolva.
no efêmero, no transitório, no passageiro,
buscar a eternidade do momento, buscar a eternidade do relâmpago & sua luz concentrada, luz veemente, febril, e passageira, transitória, efêmera: sangue etéreo da inflamada artéria do presente.
a inflamada artéria do presente: pulsa, bombeia, leva o sangue-luz, etéreo, sangue-luz que deve circular, ativo, pelo pesado corpo.
deixa que esse pesado corpo, sendo dono de si, se doe ao alcance de mãos terrenas do agora, do “já”, do “neste instante”.
que esse pesado corpo viva o que se tem a viver: o presente, o momento em que cada coisa “é”, o momento em que cada coisa “está”. (no fundo, isso é o que, de fato, nos resta.)
que esse pesado corpo só queira o cheiro, o tato, que esse pesado corpo só aceite o gosto, o som, a imagem, que esse pesado corpo só admita as sensações que o acometem, e que estas sejam a sua única memória: as suas vivências no “hoje”.
deixa que esse pesado fardo se embriague da paixão de ser completo, de sentir-se inteiro, pleno, realizado, para que o passado e o futuro sejam simples possibilidades, possibilidades que não muito importam justamente porque o que se quer é viver o presente. o resto que seja perfumaria (barata).
deixa que esse corpo seja a letra que, no calor do abraço & beijo de um outro igual corpo, se derreta, e, derretendo, silencie todo o dito & o por dizer.
que se cale esse pesado corpo e impere a linguagem muda dos momentos, que fala muito mais alto que qualquer bem escrito poema.
vamos viver o que há para viver. não adiemos a nossa felicidade, não pensemos nela para o “futuro”. a felicidade, assim como a tristeza, só acontece no quando, isto é, tanto a felicidade quanto a tristeza só existem, só podem existir, porque as vivenciamos. e “vivenciar” é uma experiência impreterivelmente ligada ao: presente.
sejamos felizes, estejamos bem, AGORA!
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Aqui dentro de mim. autora: Rosália Milsztajn. editora: Aeroplano.)
CORPO
Deixa que esse pesado corpo
Não pese na alma
E todo o prazer que o aprouver
Apaziguá-lo
E no efêmero buscar a eternidade
De um relâmpago, luz
Etéreo sangue
Da inflamada artéria do presente
Deixa que esse pesado corpo
Sendo dono de si se doe
Ao alcance de mãos terrenas do agora
E só queira o tato, o cheiro
Da infinita sensação, única memória
Deixa ainda que esse pesado fardo
Se embriague da paixão
De ser completo
Para que o passado e o futuro
Sejam simples possibilidades
Deixa que esse corpo seja a letra
Que no calor do abraço e beijo
De um outro igual corpo se derreta
E silencie todo o dito e o por dizer
Não sei se já lho disse – mas gosto semp+re tanto das suas introduções poéticas como dos poemas.
Querida Amélia,
Você já mo disse, mas é sempre bom ouvir.
Estimula a melhoras.
Bom contar com a sua presença neste espaço.
Por favor, venha me visitar sempre!
Beijão!