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pai,
neste mês de dezembro, mês em que você, se estivesse por aqui, venceria as suas 69 primaveras, quero trazer-lhe uns versos muito lindos, colhidos no mais íntimo de mim…
versos colhidos no mais íntimo de mim para o homem que me ensinou o bom-humor, a alegria, que me ensinou a ser piadista, a não me levar tão a sério. versos muito lindos ao homem que incitou o meu gosto por água, especialmente pelo mar, uma vez que nasci & vivo numa cidade tomada por ele, pelo mar, eloqüente, imponente em sua vastidão azul. versos ao homem que, aos domigos, religiosamente, levava a família para um passeio ao ar livre (o aterro do flamengo era um dos seus locais favoritos), e, depois, ao cinema, uma das suas GRANDES paixões. homem que sempre me admirou, que sempre apostou em mim, que sempre se preocupou com o meu bem-estar.
assim como você, pai, as palavras dos versos que desejo ofertar-lhe são simples, palavras singelas, porém palavras com uma luz tão forte, tão bonita, que você, pai, teria de fechar seus olhos para as ouvir.
sim!, uma luz forte, bonita, que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel.
sim!, uma luz forte, bonita, que viria de dentro das palavras, palavras iluminadas pela luz que vem de dentro das suas mãos, mãos que têm grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já cor de terra.
como, na minha memória, são belas as suas mãos!…
mãos que abrigaram a nobre cólera dos justos, a nobre cólera daqueles que não se conformam com um mundo tão cheio de mazelas, tão carecido de bons sentimentos. mãos que nunca me bateram, mãos firmes que guiavam sem violências, mãos a serviço do afago, da meiguice, da carícia, do zelo.
a luz das palavras que lhe trago, pai, vem dessa chama que, pouco a pouco, longamente, você, durante a sua jornada, veio alimentando na terrível solidão do mundo, chama que me alimenta, que nutre o meu ser, chama que me faz prosseguir buscando fortaleza mesmo nos momentos difíceis, momentos de certa escuridão, momentos de dores & dissabores.
a você, pai, trago palavras, apenas palavras… e que são escritas fora do papel, escritas no meu sentimento pelo amor que em mim existe & perdura, firme, forte, em riste.
são tantas coisas a dizer, pai, tantas coisas, que nem sei exatamente como dizê-las, e estas linhas vão morrendo, ardentes & puras, ao vento da poesia…
que bom, pai, que privilégio a sua passagem pela minha existência, como aprendemos um com o outro! salve!
agora fico por aqui.
eis a minha homenagem, mais que merecida, a você, pai, o grande homem da minha vida.
beijo imenso, meu “véio”.
amor eterno.
saudade longa.
seu filhote.
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(do livro: Poesia completa – volume único. autor: Mario Quintana. editora: Nova Fronteira.)
EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim…
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir…
Sim! uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas… e que estão escritas
do lado de fora do papel… Não sei, eu nunca
soube
o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia…
como
uma pobre lanterna que incendiou!
AS MÃOS DE MEU PAI
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
— como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre
cólera dos justos…
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se
chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua
cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste
alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra
o vento?
Ah! como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida
…e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
Paulo, poeta e prosador amigo, chego aqui e me emociono, e sabes por quê?
:
leio e digo contigo, Pai, chama viva, palavra desperta, luz de mundo, empréstimos de olhos, palavras compartidas das primeira imagens ainda difusas sem dono sem pátria..
Que o Véio te escuta temos certeza, pois irradias amor ao que te leem e isso, como disseste, foi implante do que recebeste…
um beijo grande e bom estar aqui Quintana, um pai poético, conVersando também.
Carmen.
Carmen amiga & querida no meu coração,
Como sempre, LINDAS as suas palavras!
Pois é, o “véio” foi um cara muito bacana, muito bonito, e realmente merece as palavras aqui lançadas.
Que bom, né?
Beijo GRANDE & BOM!
Comovente o seu preâmbulo. Perdi meu pai, também em dezembro, mas em 1962.Já.
Amélia, sempre querida, sempre benvinda,
Na verdade, “ganhei” meu pai em dezembro, no dia primeiro, data do seu nascimento. Ele faleceu em meados de outubro, há 7 anos.
Se vivo, ele teria completado 69 anos.
Saudade grande, porém o amor nosso fala mais alto & melhor. Graças!
Beijo GRANDE em você!