(Paulo Sabino em devoração da paisagem.)
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a sombra, como uma carícia, toma o meu corpo inteiro e se refina, e torna-se mais requintada, ainda mais fresca, ao toque dos dedos & lábios do vento.
sensação refrescante, confortável, feliz.
a mente se ergue, comovida, diante de um estar a que aspira.
a mente também deseja a vivência de um sombreado-carícia acompanhado do vento & seu frescor.
a mente se ergue comovida diante de um estar a que aspira, mas que é contrário às condições em que habita.
afinal, a mente trabalha o obscuro, o que corrói, o que faz sofrer, a mente trabalha o que, se não bem dosado, pode aniquilar.
na mente, não só o vento-brisa, que acaricia. na mente, ventos se enfrentam de todos os lados e as sombras são outras — sombras que impedem a visão.
incertezas, dúvidas, medos, hesitação, apreensão: tudo isso fabricado pela mente, sombras que impedem a visão.
incertezas, dúvidas, medos, hesitação, apreensão: um desabrigo (total) que nos impõe a disciplina, o rigor, o hábito, de construir o nosso próprio clima — se pegamos a tempestade e fazemos com que passe, permitindo a vinda de tempos melhores, ou se transformamos qualquer chuvinha no pior dos temporais.
somos nós os responsáveis por construir o nosso próprio clima — se vento, se ventania, se vendaval.
na construção do meu clima, devorar paisagens é de suma relevância.
o mar, o rio, o bicho, a flor, a montanha, o céu, o arvoredo, o casario, o desenho das nuvens, o vôo dos pássaros, o homem que passa, tudo isso me desperta — cores que ultrapassam distâncias, sugestão de texturas nas paisagens que desnudo sem pudor.
de repente, o que é só paisagem — diante das retinas — se contrai ao ver irromper, ao ver surgir, de algum lugar, a fera.
a fera: a mente, que entope a paisagem de significados que de nada servem.
ou que, pelo menos, servem (os significados) a quem os cria: é assim que a fera-mente realimenta a sua fome, é assim que a fera-mente reinventa o seu estar no mundo, contra o desabrigo (incertezas, dúvidas, medos, hesitação, apreensão) que nos abriga.
que saibamos construir o nosso próprio clima, bem devorando as paisagens que nos cercam & nos cabem.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Margem de uma onda. autor: Duda Machado. editora: Editora 34.)
AO DOBRAR UMA ESQUINA
a sombra como uma carícia
toma o corpo inteiro e se refina
mais ainda ao toque dos dedos
e lábios do vento
a mente se ergue comovida
diante de um estar a que aspira
mas tão contrário às condições
em que habita
onde ventos se enfrentam de todos
os lados e as sombras
são outras
— que impedem a visão
um desabrigo que nos
impõe a disciplina
de construir
nosso próprio clima
DEVORAÇÃO DA PAISAGEM
À esquerda, o morro. Logo
adiante casas, o arvoredo
vário. Um pouco abaixo,
a estrada, o riacho.
Cores que ultrapassam distâncias,
sugestões de textura
entre vegetação e vento;
o olhar que erra e se prolonga
em busca de sua moradia.
De algum lugar,
diante das retinas,
a fera irrompe
e de pronto,
a paisagem se contrai.
Já é presa,
repasto de significados
com que a fera
realimenta sua fome.
Que blog lindo!! Estou adorando!!!
Querido Paulo, Parabéns!!
Beijosss!!!!!
Marcelo,
Que coisa boa de ler!
Já viu no que resultou o seu BELO presente, a obra completa do Mario Quintana? Pois é (rs).
Venha sempre me fazer uma visita! E vamos marcar um encontro!
Beijo GRANDE!