(Na foto, a resistência na comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos — SP.)
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eu,
paulo sabino,
sou um homem comum, de carne & de memória, de osso & esquecimento.
ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião, e a vida sopra dentro de mim, pânica, a vida sopra dentro de mim de modo assustador, feito a chama de um maçarico (chama ameaçadora, que pode ferir), e pode, subitamente, cessar. de uma hora a outra, sem aviso prévio, assustadoramente.
eu,
paulo sabino,
sou como você, feito de coisas lembradas & esquecidas, rostos & mãos, defuntas alegrias, flores, passarinhos, feito de facho de tarde luminosa, feito de nomes que já nem sei, feito de tudo isso misturado.
eu,
paulo sabino,
sou um homem comum: brasileiro, maior de idade, solteiro, reservista.
e não vejo na vida, senhores, nenhum sentido (a vida apresenta-se como um grande & silencioso absurdo do acaso), senão lutarmos juntos por um mundo melhor.
determinadas agruras deveriam ser extirpadas do convívio social.
a poesia é rara, a poesia é incomum, é extra-ordinária, e não se encontra facilmente vidafora. por isso ela não comove, nem move, o pau-de-arara. ela, a poesia, por sua raridade, por não estar disposta por aí, não comove, nem move, a pobreza, o descaso social, a poesia não comove nem move (para fora da existência) a força mantenedora de todos os dissabores mundanos injustificáveis.
por isso, quero falar com os senhores, de homem para homens, apoiar-me em vocês, oferecer-lhes o meu braço, que o tempo é pouco e o latifúndio está aí, matando.
que o tempo é pouco e aí estão sabe-se lá quantos braços do “polvo”, braços deste sistema econômico, a nos sugar a vida & a bolsa (contendo o nosso parco & suado dinheiro).
homem comum, igual aos senhores, cruzo a avenida sob a pressão do imperialismo.
sim, sob a pressão do imperialismo: sob a pressão imperiosa exercida por homens como naji nahas, um fraudador que deve milhões em impostos aos cofres públicos, contra cerca de 1.500 famílias da comunidade do pinheirinho, em são josé dos campos (são paulo), que tentam fazer cumprir a “função social da propriedade”, prevista na constituição federal desde 1988 & no estatuto das cidades desde 2001, pressão exercida por um fraudador com o aval & o apoio do estado & sua milícia arbitrária.
a sombra do latifúndio mancha a paisagem (de sangue), turva as águas do mar, e a infância nos volta à boca, amarga, suja de lama & fome.
mas somos muitos milhões de homens comuns e podemos formar uma muralha com nossos corpos de sonho, corpos de desejo de uma vida mais justa & ajustada às necessidades de cada um, corpos de sonho & margaridas.
após os versos, das coisas mais GENIAIS que já ouvi:
a canção “brasil com p”.
notem que quase todas as palavras que a compõem iniciam com a letra “p”. digo “quase todas as palavras” porque apenas uma única palavra da canção não inicia com a letra “p”: irmão.
irmão. o que somos. o que deveríamos ser.
letra forte, direta, crua, na medula.
retrato em branco & preto do nosso brasil varonil.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Toda poesia. autor: Ferreira Gullar. editora: José Olympio.)
HOMEM COMUM
Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons,
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bocas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.
Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem,
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas.
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(do site: Youtube. canção: Brasil com p. autor & intérprete: GOG.)
Paulo, adorei este texto, como tudo que voce escreve, beijos
Que ótimo, Celia!
Isso muito me felicita!
Beijo grande & volte sempre! A casa é nossa!
Sou feito tu Paulo, iguais em morfologia, diversos em sintaxe, eis nossa matéria: humanidade…e José? deve querer estar aqui (rs)…
por isso, te leio, releio e me estendo ao batalhão onde o choque se faz necessário… que a Poesia perfure a realidade, ventile as mazelas de alguns poros e que ser um Homem Comum seja direito de vida a todos de sangue quente, latente, e que sigamos conVersando… pois, entre diálogos, estaremos em nossas maiores possibilidade.
Um beijo, amo estar aqui, boa semana.
Carmen.
Carmen, querida,
eu AMO a sua companhia & as nossas conVersa!
Estejamos juntos, sempre!
Beijão!