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sempre sempre sempre digo:
carlos drummond de andrade é deus.
não. mais que deus.
por sobre. acima:
um sobredeus.
aos senhores, vídeo com a magistral (eu a adoro, morro de paixão!) fernandinha torres interpretando a obra-prima do mestre:
necrológio dos desiludidos do amor.
o poema gira em torno da ilusão que a desilusão gera no peito de quem se mata por amor na esperança de que a pessoa amada sofra os remorsos do ato suicida & viva, dessa maneira, a história antes deixada para trás.
com boa dose de ironia, drummond atenta à inutilidade do ato, pois, com ou sem morte, a vida segue o seu destino & as pessoas, os seus rumos, inclusive a pessoa a quem tanto se queria (a imagem de que se utiliza o poeta, ao final do poema, para tratar da inuitilidade do suicídio, é fantástica!).
num outro poema seu intitulado não se mate, drummond ratifica esta sua posição:
(trecho)
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
não morram o amor, vivam-no!
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Antologia poética. autor: Carlos Drummond de Andrade. editora: Record.)
NECROLÓGIO DOS
DESILUDIDOS DO AMOR
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Visceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
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(do site: Youtube. Fernanda Torres interpreta o poema Necrológio dos desiludidos do amor, de Carlos Drummond de Andrade.)
Isto é ler poesia!
MODO
Um/ o modo da viver.
Então, deste modo, vive.
Poderá… até, quiçá, vivendo
a experiência de escrever versar
a experiência de experimentar
a experiência de criar
o manual desta efémera ciência
está no coração e nas mãos
tocando um teclado aqui
não convém abusar da sorte
não convém escrever de mais
não convém escrever de menos
é apenas conveniente sentir
cada palavra como canto
onde o encanto se dá
Comecei na prosa, na prosa acabo.
Ao fim ao cabo, a diferença
é o que se pensa!
(mudo, mudo de modo, fico)
Paulo Sabino,
um grande abraço!!
Opa, que maravilha, poeta!
Muitíssimobrigado!
Forte abraço!