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o palco iluminado: a vida como um teatro, a vida como um grande espetáculo, onde não sabemos o enredo & nem “como” nem “quando” terminará.
o palco iluminado: nesta vida, todos atores, todos representando os seus papéis mergulhados na dor & na delícia de ser o que é, todos mergulhados na dor & na delícia de ser o que escolhemos ser, todos mergulhados na dor & na delícia de ser o que podemos ser.
é preciso um tanto de coragem para seguir na vida: esta, em muitos casos, mostra-se ameaçadora, em muitos casos, a vida mostra-se intimidadora. em muitos casos, é preciso coragem para enfrentá-la, é preciso coragem para desafiá-la.
em muitos casos é preciso a calma de quem joga a vida, de quem joga a alma, no mais deslavado blefe. em muitos casos é preciso a calma de um jogador que joga a vida, que joga a alma, no mais descarado fingimento, na mais atrevida dissimulação (em muitos casos, a vida exige-nos uma boa dose de arrojo, uma dose boa de audácia): mãos firmes & voz cortante, e os olhos, desafiantes, provocantes, olhos de quem aguarda um tabefe.
em muitos casos, é preciso pulso firme para com a vida.
eu mesmo, senhores: confesso que não passo pelo melhor dos momentos. e vejo, e enxergo, que, para solucionar determinadas questões internas, questões que não envolvem terceiros — que só envolvem a mim —, é preciso voz cortante (comigo mesmo), é preciso mão firme (estar seguro — o quanto for possível — das decisões tomadas a fim de solucionar questões internas que suscitam soluções), e os olhos desafiantes (olhos de quem aguarda um tabefe, tabefe que pode não acontecer…).
voz cortante, mãos firmes, olhos desafiantes: vivendo & aprendendo a jogar: a calma de um jogador que joga a vida, que joga a alma, a fim de solucionar questões internas que suscitam soluções: porque, sinceramente:
não vou morrer de enfarte em plena festa nem de fome nesta fartura. (podem apostar.)
ante a abundância da existência, ante as cores & os sabores que a existência tem a nos oferecer, ante as satisfações & os prazeres que a existência abriga, não sou eu quem ficarei a ver navios, não sou eu quem perderei o bonde, por conta de questões internas que suscitam soluções ou por conta de quaisquer outras questões (que não as internas) que instiguem soluções.
quando sou a única estrela que me resta, isto é, quando não posso contar com o brilho de alguma estrela companheira, resolvo brilhar & aí ninguém me segura.
quando sou a única estrela que me resta, o que significa dizer: quando não resta nada além de mim, estrela que sou, eu brilho & ninguém me segura. (podem apostar.)
(no fundo, somos todos estrelas se pensarmos que, segundo a teoria mais difundida pelo meio científico, o que se configura o planeta que hoje habitamos surgiu da explosão de uma estrela; se o que se configura o planeta que hoje habitamos surgiu da explosão de uma estrela, então tudo o que apareceu no planeta que hoje habitamos, depois da explosão da estrela, é, em primeira instância, filho & fruto dessa estrela.)
estrela que sou, sendo — ou não — a única que me resta, eu brilho & ninguém me segura.
(gente é pra brilhar.)
que a vida nos seja sempre um palco iluminado onde o espetáculo nos conduza a uma sucessão de acontecimentos que teçam, apesar dos pesares, um enredo feliz.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O homem artificial. autor: Braulio Tavares. editora: Sette Letras.)
PALCO ILUMINADO 1
Preciso agora da calma
de quem joga a vida, a alma
no mais deslavado blefe:
mãos firmes e voz cortante
e os olhos desafiantes
de quem aguarda um tabefe.
PALCO ILUMINADO 2
Não vou
morrer de enfarte
em plena festa
nem de fome
nesta fartura.
Quando sou
a última estrela que me resta,
resolvo brilhar
e aí ninguém me segura.
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