ACONTECEU: PORTUGAL, MEU AVOZINHO

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a língua portuguesa é uma das grandes paixões da minha vida.

  
acho-a linda, sofisticada, elegante, adoro sua sonoridade, as palavras que a moldam.
 
sou, de fato, um seu apaixonado.
 
(a língua é minha pátria. o que penso, o modo de processar as coisas, penso, processo, em português. paulo sabino existe em língua portuguesa. nenhuma pátria me pariu. quem me pariu, e continua parindo, é a língua.)
 
e a herança da língua que tanto me encanta, e que canto tanto, devo a portugal, meu avozinho.
 
só por isso, só pela língua (e por conseqüência: só por camões, por pessoa, por al berto, por eugénio, por sophia, por natália, e por tantos outros), já me é válida a herança portuguesa.
 
o que, hoje, conhecemos como brasil, tem a sua gênese a partir da chegada dos portugueses. portugal, pai do brasil. eu, como filho deste solo, como mais um filho do solo brasileiro, tenho portugal de avô.
 
portugal, pai desta terra conhecida por brasil, portanto, portugal, meu avozinho, como foi que temperaste — qual o ponto? — esse gosto misturado de saudade & de carinho?
 
(ter saudades é viver. e o português é saudades.)
 
portugal, pai desta terra conhecida por brasil, portanto, portugal, meu avozinho, como foi que temperaste — qual o ponto? — esse gosto misturado de pele branca & de pele trigueira — gosto de áfrica & de europa, que é o da gente brasileira?
 
(gosto de samba & de fado, portugal, meu avozinho.)
 
brasil, grande mundo de ternura (& de agrura!), brasil, grande mundo feito da miscigenação de três continentes, de três mundos — tupã, deus, oxalá…
 
foram os portugueses os grandes responsáveis pelo encontro (marcado a ferro fogo luta sangue) dos três continentes no solo que viu nascer este a que chamamos brasil. portugal, pai do brasil, portanto, meu avozinho de carinhos & castigos, meu avozinho de bênçãos & maldições, meu avozinho de amores & açoites.
  
nos dias atuais, passados tantos anos, a relação entre portugal & o seu filho brasil & os filhos do seu filho brasil é de admiração mútua, entendida a força das suas culturas — no teatro, na dança, na música, na literatura.
 
nos dias atuais, passados tantos anos, a relação de admiração mútua aconteceu.
 
a relação de admiração mútua (portugal – brasil) aconteceu com o passar dos anos, com o passar do tempo — só o tempo fez a cama, como em todo grande amor.
 
o amor brasil – portugal foi chegando de mansinho, se espalhou devagarinho, foi ficando até ficar. sem maiores encantamentos — sem um sino para tocar, sem que o chão tivesse estrelas, sem um raio de luar.
 
a relação de admiração mútua (portugal – brasil) simplesmente: aconteceu.
 
a prova está aqui, nesta publicação: manuel bandeira, um neto ilustre, louvando em versos o seu avozinho de além-mar; também o poeta-compositor péricles cavalcanti & um seu poema-canção, em roupagem de fado, na interpretação da cantora portuguesa cristina branco.
 
(gosto de samba & de fado, portugal, meu avozinho.)
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Estrela da vida inteira. autor: Manuel Bandeira. editora: Nova Fronteira.)
 
 
PORTUGAL, MEU AVOZINHO
 
 
Como foi que temperaste,
Portugal, meu avozinho,
Esse gosto misturado
De saudade e de carinho?
 
Esse gosto misturado
De pele branca e trigueira,
— Gosto de África e de Europa,
Que é o da gente brasileira?
 
Gosto de samba e de fado,
Portugal, meu avozinho.
Ai Portugal que ensinaste
Ao Brasil o teu carinho!
 
Tu de um lado, e de outro lado
Nós… No meio o mar profun-
                    do…
Mas, por mais fundo que seja,
Somos os dois um só mundo.
 
Grande mundo de ternura,
Feito de três continentes…
Ai, mundo de Portugal,
Gente mãe de tantas gentes!
 
Ai, Portugal, de Camões,
Do bom trigo e do bom vinho,
Que nos deste, ai avozinho,
Este gosto misturado,
Que é saudade e que é carinho!
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(autor: Péricles Cavalcanti.)
 
 
ACONTECEU
 
 
Aconteceu quando a gente não esperava
Aconteceu sem um sino pra tocar
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar
 
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas
Aconteceu sem um raio de luar
O nosso amor foi chegando de mansinho
Se espalhou devagarinho
Foi ficando até ficar
 
Aconteceu sem que o mundo agradecesse
Sem que rosas florescessem
Sem um canto de louvor
 
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama
Só o tempo fez a cama
Como em todo grande amor
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(do site: Youtube. canção: Aconteceu. autor da canção: Péricles Cavalcanti. intérprete: Cristina Branco.)
 
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2 Respostas

  1. Lendo o poema de Bandeira, lembrei de:

    • Puxa, que lindo vídeo, Ronaldo, adorei!

      Casa muito bem com o poema do Bandeira. Somos, de fato, fruto de tudo que apresentam as imagens.

      Obrigadíssimo, querido, por compartilhar! Adorei conhecer!

      Beijo grande!

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