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(excertos do prefácio feito ao livro: Laringes de grafite. autor do prefácio: Antonio Cicero. editora: Vidráguas.)
Se é verdade que o poeta moderno é aquele que, a partir da assimilação da lição das vanguardas do século XX, sabe aproveitar as possibilidades tanto de abrir novos caminhos formais e temáticos para sua arte quanto de nela trilhar e/ou modificar qualquer dos caminhos já abertos pelas inúmeras tradições que o mundo sem fronteiras temporais ou espaciais lhe dá a conhecer, então devemos, usando a expressão de Rimbaud, dizer que Adriano Nunes é um poeta absolutamente moderno.
(…)
Não tendo a menor dúvida de que Adriano Nunes é um dos mais expressivos poetas de sua geração ou de que, livre de amarras, dogmas, ideologias e escolas, Laringes de grafite é um dos mais belos livros de poemas dos últimos tempos, deixo as últimas palavras com três versos do poema “do que quer ser concebido”:
palavras são para isso,
sim, para inventar
o paraíso.
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o poeta deseja ao pássaro:
o passo, rosas, asas.
ao pássaro o poeta deseja: o passo, a possibilidade de o pássaro andar; rosas, flores de pétalas-penas, macias, como se asas florais, flores delicadas & belas de estrutura frágil, como a do pássaro; asas, para que ao pássaro seja permitido o vôo.
ao pássaro: o passo, rosas, asas: ao pássaro, os elementos que cabem no pássaro: notem: o passo / rosas / asas são palavras que se formam com as letras que formam o pássaro:
p a s s a r o (o p a s s o / r o s a s / a s a s).
o poeta adentra o pássaro:
e, dentro dele, o poeta encontra:
raspas, aspas, o ar.
percebam que o que o poeta encontra no pássaro ao adentrá-lo, raspas / aspas / o ar, assim como o passo / rosas / asas, são palavras que se formam com as letras que formam o pássaro:
p a s s a r o (r a s p a s / a s p a s / o a r).
ao adentrar o pássaro, encontra o poeta: raspas, isto é: lascas, fragmentos, partes, pedaços, do pássaro, pois o poeta sabe que o pássaro também voa longe dos seus olhos, plaina em outras tantas paragens; ao adentrar o pássaro, encontra o poeta: aspas, pois o pássaro que o poeta adentra é formado de palavras, portanto, de aspas (muitas!), pássaro cujo canto é entoado em espaço escrito (em blog, em folha de papel), pássaro cujo canto é cantado sob forma de palavras; ao adentrar o pássaro, encontra o poeta: o ar, pois o pássaro habita o vento, a liberdade, o livre transitar, e também porque, de certa forma, o poeta capta o pássaro a certa distância, em céu de letras (em blog, em folha de papel).
percebe o poeta:
no centro do sentimento do pássaro, céu habitar.
o céu habitar, isto é, no céu morar, percebe o poeta, é o desejo maior do sentimento que cabe ao pássaro.
do pássaro, o seu habitat é o céu habitar.
habitar o céu, habitar o ar, habitar o que é elevado, habitar o que está suspenso sobre: o céu habitar: o seu habitat (o habitat do pássaro).
que alegria pelo pássaro!
adriano nunes, meu poeta das alagoas, meu amigo, meu irmão, a você o meu mais alto & estimado agradecimento. por tudo.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Laringes de grafite. autor: Adriano Nunes. editora: Vidráguas.)
PÁSSARO
Para Paulo Sabino
ao pássaro
o passo
rosas
asas
adentro-o
raspas
aspas
o ar
no centro
do sentimento
o céu
habitar.
Paulinho,
plenamente honrado e muito feliz! Muito obrigado!
Adriano Nunes.
Meu poeta das Alagoas,
Felizes e honrados ficamos nós, leitores da boa poesia, leitores da sua poesia, sempre encantada, sempre surpreendente, sempre emocionada.
Que presente da vida contar com o seu talento, coisa linda, coisa boa!
Beijo, meu anjo!
A você, todo o sucesso do mundo!