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o mundo visto sem figuras de retórica, a existência entendida sem figuras de linguagem:
costumamos dizer: o sol nasceu. a lua nasceu. o dia nasceu.
nascer: na acepção literal do verbo, segundo o dicionário houaiss, “passar a ter vida exterior no mundo”.
o sol, a lua, o dia, estes não nascem; o sol, a lua & o dia são elementos que compõem o mundo, elementos que estão já no mundo, em sua vida exteriorizada.
portanto: o sol nasceu, a lua nasceu, o dia nasceu: é tudo mentira (tais elementos não nascem). é tudo figura (de retórica): quem nasceu, segundo a acepção literal do termo (“passou a ter vida exterior no mundo”), fui eu; quem nasceu, segundo a acepção literal do termo (“passou a ter vida exterior no mundo”), foi você. somos nós, bichos, quem nascemos.
e a gente (que nasce), diferentemente da planta (que brota), não sabe bem como nasceu a raça humana, qual é exatamente a sua origem, a gente (que nasce) não sabe bem como surgiu a vida que gerou as vidas que geraram a vida humana, e a gente nem sabe por que nasceu, e a gente nem sabe se, de fato, existe alguma razão, algum fundamento, que justifique a existência humana.
o mundo visto sem figuras de retórica, a existência entendida sem figuras de linguagem:
à mãe natureza, o templo do pai.
o templo do pai para a mãe natureza.
mãe: na acepção literal da palavra, segundo o dicionário houaiss, “mulher que deu à luz, que cria ou criou um ou mais filhos”.
pai: na acepção literal da palavra, segundo o dicionário houaiss, “homem que deu origem a outro; genitor, progenitor”.
na existência que fundamos, também chamamos “pai” a — suposta — força criadora do universo.
no entanto, a natureza não é mãe (na acepção literal da palavra) mas um conjunto de elementos do mundo natural — mares, montanhas, animais etc.
e, caso exista alguma força criadora do universo, tal força não seria pai (na acepção literal da palavra) mas o elemento/agente físico que teria originado o universo que, por sua vez, promove a sua contínua expansão.
portanto: para a mãe natureza o templo do pai: é tudo mentira (a natureza não é mãe nem é pai a — suposta — força criadora do universo). é tudo figura (de retórica): quem tem mãe, segundo a acepção literal da palavra (“mulher que deu à luz, que cria ou criou um ou mais filhos”), sou eu; quem tem pai, segundo a acepção literal da palavra (“homem que deu origem a outro; genitor, progenitor”), é você. somos nós quem temos mãe, somos nós quem temos pai, que, embora não fiquem o resto das suas vidas do nosso lado (meu pai já partiu…), é impossível esquecer.
(pai & mãe seguem conosco o resto da jornada.)
o mundo visto sem figuras de retórica, a existência entendida sem figuras de linguagem:
quem nasceu? eu? você? minha mãe? seu pai? o sol? a lua? o dia?
quem é mãe? quem é pai? você? eu? a natureza? a — suposta — força criadora do universo?
a existência, aos nossos olhos miúdos & erráticos, é uma grande alegoria.
(é tudo mentira. é tudo figura.)
beijo todos!
paulo sabino.
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(autor: Péricles Cavalcanti.)
QUEM NASCEU?
O sol nasceu
A lua nasceu
O dia nasceu
O sol nasceu
É tudo mentira
É tudo figura
O sol nasceu
A lua nasceu
O dia nasceu
O sol nasceu
É tudo mentira
É tudo figura
Quem nasceu fui eu
Quem nasceu foi você
E a gente não sabe bem como
E nem sabe por quê
Pra mãe natureza
O templo do pai
Pra mãe natureza
O templo do pai
É tudo mentira
É tudo figura
Pra mãe natureza
O templo do pai
Pra mãe natureza
O templo do pai
É tudo mentira
É tudo figura
Quem tem mãe sou eu
Quem tem pai é você
Que embora não fiquem com a gente
É impossível esquecer
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(do site: Youtube. áudio extraído do cd: Mulheres de Péricles. artista: Vários. canção: Quem nasceu? intérprete: Laura Lavieri. autor da canção: Péricles Cavalcanti. selo: Joia Moderna.)
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