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e eis que a folia momesca atravessa o brasil de norte a sul, leste a oeste.
no “prosa em poema” não seria diferente.
o “samba-enredo” que aporta faz uma homenagem a matsuo bashô, o grande mestre inventor do haicai que conhecemos hoje.
bashô viveu como um guerreiro samurai durante os seus 23 primeiros anos de vida. com a morte do seu mestre, dedicou-se basicamente ao zen budismo & à poesia, recriando o haicai (com novos temas) & tornando-se um monge peregrino, viajante em busca de respostas às suas indagações existenciais.
nas suas tantas viagens, bashô dedicava-se a escrever diários, guardando, assim, as paisagens & impressões dos lugares por onde passava. “sendas de oku” é um dos mais famosos diários escritos por bashô.
dos poemas, o mais célebre é o “haicai da rã” (ou “haicai do sapo”), onde bashô descreve o salto de uma rã/um sapo (em japonês, a palavra “kawazu” pode significar tanto “sapo” quanto “rã”) num lago de água parada, produzindo, com o salto anfíbio, o movimento do que, antes, imóvel, inanimado (a água do lago), a expansão do movimento da água em círculos concêntricos:
assim como a água do lago, antes parada & depois em movimento com o salto da rã/do sapo, nossa consciência deve saltar por sobre o silêncio (mundo mudo, que nada nos diz & que, portanto, recebe a nossa interpretação acerca do que ele é) & expandir-se como expande o movimento dos círculos concêntricos na água, em sucessivas ondas de associações.
depois do mestre, outros grandes poetas japoneses dedicaram-se a transmitir o legado deixado por bashô, como os poetas kobayashi issa (1763 – 1827) & takoboku ishikawa (1885 -1912), fazendo com que o haicai atravessasse 3 séculos de existência.
baixou bashô no terreiro! baixou bashô no pandeiro! na sapucaí, carnaval, saltou o sapo a noite inteira!
um belo carnaval é o que o “prosa em poema” deseja aos senhores!
divirtam-se!
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O menos vendido. autor: Ricardo Silvestrin. editora: Nankin Editorial.)
SAMBA-ENREDO
Desci o monte Fuji
e hoje vim cantar na avenida
a história do monge que foi soldado
no início da sua vida.
Nesta noite de esplendor,
lembro o mestre-samurai,
o maestro do silêncio
(sem lenço e sem documento)
inventor do nosso haicai.
Bashô, Bashô,
baixou Buda no terreiro.
Saltou, saltou,
saltou o sapo muambeiro.
Deixou, deixou,
nesse salto o seu mistério.
Peguei as sendas de Oku
e caí na Sapucaí.
Virei Issa e Takoboku,
há três séculos estou aqui.
Rezei a primeira missa,
na segunda me perdi,
seguindo o mestre Bananeira
como o mestre-sala
segue a porta-bandeira.
Bashô, Bashô,
baixou Buda no pandeiro.
Saltou, saltou,
saltou o sapo a noite inteira.
Deixou, deixou,
em três versos um samba-enredo:
céu de fevereiro
quem tem samba no pé
se ilumina primeiro
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