RESGATE

Cai a tardeCai a tarde 2

 

(Na foto acima, Orlando, meu camelo azul da cor do mar, companheiro de pedaladas & paisagens nos fins de tarde.)
______________________________________________________________________

cai a tarde & não há quem o retarde (o cair da tarde).

cai a tarde, e o cair da tarde, não há quem o faça tardar a chegar, não há quem faça a tarde alongar-se, prolongar-se, não há quem faça o cair da tarde chegar ainda mais tarde, e não há quem faça a tarde tornar-se tarde novamente, não há quem nem o que: “re-tarde”, não há quem nem o que reedite a tarde.

cai a tarde, que, ao cair, me invade com seus efeitos & delírios cromáticos.

cai a tarde & não cai à parte. cai a tarde, que, ao cair, não cai separadamente de tudo que abriga. cai a tarde e, junto com ela, o canto de pássaros & os hibiscos vermelhos também caem, também escondem-se, também desaparecem, dos nossos ouvidos & das nossas vistas.

(no cair da tarde, onde caem o canto de pássaros & hibiscos vermelhos? para onde fogem, que dimensão habitam?…)

tarde de outono; tarde de começo de outono… folhas ainda nas árvores — as folhas não caíram das árvores assim como a tarde, que cai do pé do dia.

sem alarde, cai a tarde & o que com ela cai (o canto dos pássaros, os hibiscos vermelhos). e não cai pela metade (ao cair, a tarde não cai separadamente de tudo que abriga).

cai mais esta tarde de sol, finda, encerra-se. cai a tarde e, com ela, tudo o que é dia, o que é manhã.

num desenlace: noite.

cai a tarde, acéfala no céu, sem a sua cabeça coroada pela luz solar, cai a tarde, acéfala no céu quase já escuro, sem qualquer possibilidade de resgate, de retorno, de reconquista, sem qualquer possibilidade de que seja reeditada, de que: re-tarde.

(cai a tarde & não há quem retarde o cair da tarde.)

que a tarde caia caiando — pintando colorindo ornando — o fim do dia com seus delírios cromáticos.

(e que se edifiquem outras tantas!)

beijo todos!
paulo sabino.
______________________________________________________________________

(do livro: Até agora. autor: Régis Bonvicino. editora: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.)

 

 

RESGATE

 

Cai a tarde
e não há quem o retarde
o cair da tarde
Cai a tarde

que, ao cair, me invade
Cai a tarde
e não cai à parte
Cai a tarde de sábado

na tarde, de canto de pássaros e
hibiscos vermelhos
caem onde?
tarde de outono

tarde de começo de outono
folhas ainda nas árvores
as folhas não caíram das árvores
cai a tarde

e o que com ela cai
sem alarde
cai a tarde
e não cai pela metade

cai mais esta tarde de sol
cai a tarde e com ela a manhã
num desenlace
noite

cai a tarde
acéfala no céu já quase escuro
sem qualquer possibilidade
de resgate

There are no comments on this post.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: