(Flores para te enfeitar, flores para te agradar.)
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porque pedes (e não precisarias pedir, porque a tua satisfação é o meu maior prazer), trago flores & derramo-as em teu leito, porque pedes, trago flores & derramo-as sobre teus úmidos pêlos, porque pedes, trago flores & derramo-as entre os gomos de teu peito, refúgio meu para um sono apaziguado.
porque pedes (e não precisarias pedir, porque ver-te sorrir é um alimento à alma), planto flores no lugar do desespero & mudo os tons da palheta — que te pigmentam o humor & a disposição — do negro (luto, tristeza, desânimo) para o vermelho (vitalidade, ânimo, vontade acesa).
porque pedes (e não precisarias pedir, porque o teu pedido me soa uma ordem), colho flores até na escarpa mais erma, na escarpa mais infrutífera, porque pedes, colho flores até nos desertos onde a seca mostra a vida pelo avesso, onde a seca mostra a vida destituída de vida.
porque pedes (e não precisarias pedir, porque te obedeço, cego da tua branca luz), ponho flores nos tetos & nas paredes, e são elas (as flores), não as letras, que dão sentido ao que escrevo.
as letras, sem as flores, não fazem o menor sentido, pois são as flores que direcionam, aqui, o caminho das letras.
as flores que te ofereço. as flores que te clamam. as flores que te querem.
porque pedes (e não precisarias pedir, porque a tua luz & corpo brancos me despertam o melhor), deito flores às ondas de teus cabelos, e elas (as flores) faíscam, as flores fagulham — feito estrelas no céu — no pélago em que as semeio; as flores, que adornam os teus cabelos, fagulham — como estrelas — no abismo em que as semeio, em que as distribuo (o abismo: teu corpo branco, macio, onde o meu delírio fez morada).
(a ti, esta canção.)
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poesia reunida. autor: Ivan Junqueira. editora: A Girafa.)
CANÇÃO
Porque pedes, trago flores
e derramo-as em teu leito,
sobre teus úmidos pêlos,
entre os gomos de teu seio.
Porque pedes, planto flores
em lugar do desespero
e mudo os tons da palheta
do negro para o vermelho.
Porque pedes, colho flores
até na escarpa mais erma,
nos desertos onde a seca
mostra a vida pelo avesso.
Porque pedes, ponho flores
nos tetos e nas paredes
e são elas, não as letras,
que dão sentido ao que escrevo.
Porque pedes, deito flores
às ondas de teus cabelos
e elas faíscam — estrelas —
no pélago em que as semeio.
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