(Na foto, o dono & atendente da livraria Poesia Incompleta, Changuito.)
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POESIA INCOMPLETA:
a única livraria de que se tem notícia — no Brasil — inteiramente dedicada à poesia!
Tive a alegria de conhecê-la & de conhecer o seu proprietário, que é também o atendente da livraria, o português radicado no Brasil conhecido como Changuito.
Changuito é dessas figuras com quem não se deseja parar de conversar. Além de muita troca sobre o tema que a livraria abarca (tema que Changuito conhece como pouquíssimos), tive o prazer de sua leitura para vários poemas. Todas as dicas foram ilustradas com, pelo menos, uma poesia do autor indicado. Ele me mostrou coisas lindas, surpreendentes!
Não bastando, ainda houve o contento de um bate-papo sobre mercado editorial, as diferenças & proximidades entre brasileiros & portugueses, os novos “talentos” (muitas aspas!) da arte poética (alguns dos que ganham, hoje, alguma projeção da mídia “especializada” — muitas aspas!), e sobre música popular brasileira (outra grande paixão minha & do Changuito), ouvindo canções cabo-verdianas, Pixinguinha & Clementina de Jesus(!).
Um dos grandes baratos da livraria é que há diversas publicações de editoras portuguesas. Changuito fez questão de trazer, na íntegra, o que a sua livraria em Lisboa possuía dos títulos editados por lá.
Por isso consegui encontrar umas coisas que procurava há anos & não achava: as obras completas dos grandes poetas portugueses Natália Correia (no Brasil não há uma antologia poética com as obras dessa poeta!) & Cesário Verde, além de preciosidades que, já disse ao Changuito, voltarei para buscar.
Acho que passei umas 3 horas entre livros, música & conversa de altíssima qualidade.
Changuito é uma figura tão simpática, além de inteligente & culto, que aos amantes de poesia vale muitíssimo conhecer a livraria Poesia Incompleta.
A quem desejar ou interessar, o espaço fica na rua da Lapa, 120, 11º andar, sala 1110, Lapa, Rio de Janeiro.
Aqui, aos senhores, o endereço do blog Poesia Incompleta, com fotos de alguns dos títulos da livraria: http://poesia-incompleta.blogspot.com.
Fica a (super) dica!
Abaixo, uma lindíssima poesia de Natália Correia a respeito da “mão oculta”, a mão que arrebata, que fascina, que rouba, que toma, o canto do poeta, a mão que, por debaixo das mangas, escreve com a mão do poeta: a respeito do misterioso ato que é o ato de escrever.
Exatamente de que região, de que área, de que gruta, de que recanto, brotam as palavras que brotam por sobre o papel? E quando brotam, as palavras brotam em razão do quê?…
Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Poesia completa — O sol nas noites e o luar nos dias. autora: Natália Correia. editora: Dom Quixote.)
O MISTÉRIO
Misterioso ciclo da poesia
que como a roda das estações
sobre o meu peito gira.
Que mão oculta move o ponteiro agora
e arrebata o meu canto na suspensão da hora?
Onde se constroem estas tempestades estes oceanos
a água que rasga a terra que fica
mais verde e mais rica?
Gera-os a esperança ou os desenganos?
Serás o desenlace dum fantasma
sempre perto sempre frio sempre a esmo
forma que dei ao medo comigo concebido
e que é o meu vulto reclinado
no que nele mesmo não foi percorrido?
Ou serei eu de olhos abertos
noutras manhãs noutros países
cantando aqui de olhos fechados
a memória de tempos mais felizes?
Serás tu a abominação
o remorso do que não completei
e que completo na canção
do que não vi do que não sei?
Serás a dor que se desloca
no pedido que a boca formula
à voz que na alma canta
e que nunca nunca chega à garganta?
Ou serás apenas mediunidade
o acaso na concha retendo o mar?
A improvisação doutra vontade
que em mim quer continuar?
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