TUDO ESTÁ EM TUDO

Pôr do sol na cidade

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uma regra que é da vida: podemos, e devemos, aprender com toda a gente.

por acreditar piamente nessa regra, não faço, procuro não fazer, mesmo!, distinção alguma entre os homens: aprende-se com tudo & todos: com letrados & iletrados; com sábios & ignorantes; com intelectuais & indoutos: a vida nos tange a todos.

a vida nos tange a todos: há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães & bandidos, assim como aprendemos com os austeros & responsáveis, há filosofias que nos ministram os estúpidos, assim como nos ministram os eruditos, há lições de firmeza & de lei que vêm no acaso & nos que são do acaso, assim como as lições de firmeza & de lei que vêm no que é estável, no que é sólido, no que é inabalável.

tudo está em tudo: cada pessoa me traz uma notícia, cada casa me dá uma novidade, cada cartaz tem um aviso para mim.

(aprende-se com tudo & todos: com letrados & iletrados; com sábios & ignorantes; com intelectuais & indoutos: a vida nos tange a todos.)

quando ando só, meu passeio calado é uma conversa contínua com o mundo (com as coisas que vejo, ouço, sinto, percebo, cheiro), e todos nós — homens, casas, pedras, cartazes & céu — somos uma grande multidão amiga (afinal, aprende-se com tudo & todos), acotovelando-se de palavras (os signos que nos possibilitam aprender o mundo) na grande procissão do destino.

tenhamos os sentidos sempre abertos ao que nos traz a vida: lembremos: tudo está em tudo: aprende-se com tudo & todos.

beijo tudo & todos!
paulo sabino.
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(do livro: Livro do desassossego. autor: Bernardo Soares, heterônimo de: Fernando Pessoa. editora: Companhia das Letras.)

 

 

357.

 

Regra é da vida que podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que vêm no acaso e nos que são do acaso. Tudo está em tudo.

Em certos momentos muito claros da meditação, como aqueles em que, pelo princípio da tarde, vagueio observante pelas ruas, cada pessoa me traz uma notícia, cada casa me dá uma novidade, cada cartaz tem um aviso para mim.

Meu passeio calado é uma conversa contínua, e todos nós, homens, casas, pedras, cartazes e céu, somos uma grande multidão amiga, acotovelando-se de palavras na grande procissão do Destino.

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