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acorda, joão!
acorda, meu santo! hoje é dia de festa, meu menino!
hoje, 24 de junho, é o seu dia & o meu aniversário. exatas 38 primaveras vencidas.
38 primaveras vencidas & muito a agradecer à vida as oportunidades & chances de amadurecimento, de crescimento, muito a agradecer à vida pelas experiências & andanças trilhafora.
acorda, joão, que eu também quero ser batizado nas águas do rio de janeiro!
êta, menino sapeca, capeta! dispara, espoleta!
êta, menino ladino, porreta, danado, divino!
acorda, são joão, e, no dia da tua festa, faz o menino levado saltar de dentro da velha & do velho enferrujado, faz o menino levado saltar de dentro de todo & qualquer enferrujado, mas não faz muita zoada!
joão dorme seu sono em paz, e, se acorda assustado, nem sei do que é capaz… sei não, com a sua fogueira, fogueira de sua festa, incendeia o mundo, e até o meu coração.
acorda, joão, meu santo menino, que eu também quero contigo brincar!
acorda, meu santo, acorda, são joão xangô menino! (xangô, na mitologia afro-brasileira, é o orixá do fogo & da justiça.)
minha boca saliva porque tenho fome, e essa fome é uma gula voraz que me traz cativo, que me traz preso, amarrado, atrás do genuíno grão da alegria, que destrói o tédio & restaura o sol.
no coração do meu corpo, existe um porta-jóia. dentro dele, um talismã sem par, que anula o mesquinho, o feio & o triste, mas que nunca resiste a quem bem o souber burilar.
minha sede não é qualquer copo d’água que mata. essa sede é uma sede que é sede do próprio mar. e tal sede só se desata se minha língua passeia sobre a pele bruta da areia.
(o mar, meu amante maior para todo o sempre.)
sonho colher a flor na maré-cheia vasta; eu mergulho & não é ilusão quando volto, triunfante, feliz, com a fronte coroada de sargaço & sal.
coragem grande é poder dizer sim. dizer sim à existência mundana, com todos os dissabores dentro.
e eu digo: sim.
sim, quem, dentre todos vocês, minha sorte quer comigo gozar?
a quem interessar comigo minha sorte gozar: sigamos juntos nesta bela jornada que é a viagem pelos versos.
salve a poesia!
salve a sua existência na minha!
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poesia total. autor: Waly Salomão. editora: Companhia das Letras.)
LENDA DE SÃO JOÃO
Acorda, João
Que eu também quero ser
Batizado nas águas do Rio Jordão
Êta menino sapeca capeta
Dispara espoleta
Êta menino ladino porreta danado divino
Acorda, São João, e faz o menino levado
Saltar de dentro da velha
E do velho enferrujado
Mas não faz muita zuada
João dorme seu sono em paz
E se acorda assustado
Nem sei do que é capaz
Sei não, incendeia o mundo
E até o meu coração
Sapeca mandureba na fogueira
E acabou-se a brincadeira
Acorda, João
Que eu também quero ser
Batizado nas águas do Rio Jordão
TALISMÃ
minha boca saliva porque tenho fome
e essa fome é uma gula voraz
que me traz cativo
atrás do genuíno grão de alegria
que destrói o tédio
e restaura o sol
no coração do meu corpo
um porta-joia existe
dentro dele um talismã sem par
que anula o mesquinho, o feio e o triste
mas que nunca resiste
a quem bem o souber burilar
sim,
quem dentre todos vocês
minha sorte
quer comigo
gozar?
Minha sede não é qualquer copo d’água que mata
essa sede é uma sede que é sede do próprio mar
essa sede é uma sede que só se desata
se minha língua passeia
sobre a pele bruta da areia
sonho colher a flor na maré-cheia vasta
eu mergulho e não é ilusão
não, não é ilusão
pois da flor-de-coral
trago no colo a marca
quando volto triunfante
com a fronte coroada de sargaço e sal
sim,
quem dentre todos vocês
minha sorte
quer comigo
gozar?
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