(Na foto, a capa do mais novo livro de Salgado Maranhão, “O mapa da tribo”. No meu exemplar, a dedicatória: “Para Paulo Sabino, que vive, sonha e respira poesia. Salgado Maranhão”.)
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trans: prefixo de origem latina que pode significar “através de”, “para além de”, e que engloba, entre outras, a acepção de “mudança”, de “trans-formação”, de “trans-mutação”.
trans: “através de” signos, “através de” determinados símbolos, as mudanças, as trans-formações, as trans-mutações, que operamos caminho afora.
estou grudado à pele, estou colado na superfície, destes signos que me adestram pela noite imêmore, pela noite esquecida, tantas as “noites-trans”, noites de trans-formações, noites de trans-mutações, através dos signos que me adestram.
os signos, os símbolos, que me adestram, que me condicionam, que me habilitam, que me capacitam, pela noite imêmore, esquecida (tantas as “noites-trans”): as palavras, unidades lingüísticas sem as quais não conseguiríamos sobreviver, pois, com elas, organizamos & ordenamos as coisas do mundo para que possamos nele “existir”. o mundo, sem tal ordenamento, sem tais signos, não passaria de um grande caos.
os signos, os símbolos, que me adestram, que me condicionam, que me habilitam, que me capacitam, pela noite imêmore, esquecida (tantas as “noites-trans”): as palavras, matéria do trabalho que realizo através da poesia.
por eles, pelos signos, através deles, me relâmpago, me acendo clarão intenso entre matilhas, me acendo clarão intenso entre agrupamentos ordinários, de pouco valor.
neles, nos signos, através deles, teci minhas ráfias, tramei minhas misérias de luz & sombra (estão nas palavras, na poesia, as minhas dores & as minhas alegrias, os meus dissabores & os meus fascínios).
deles, dos signos, são meus labirintos de safira, dos signos — isto é: das palavras — são meus enredamentos de safira, deles — dos signos — são meus emaranhados de caminhos nos quais me perco, emaranhados de caminhos feitos da pedra preciosa de coloração azul, cor linda & fria.
um dia, uma fênix grafou meu nome em suas asas (fênix: ave lendária, única de sua espécie, e que, por conseguinte, não pode reproduzir-se como todos os outros animais. quando percebe aproximar-se o fim da sua existência, deixa-se arder em um braseiro para, em seguida, renascer das próprias cinzas).
desde então, desde que uma fênix grafou meu nome em suas asas, me encanto (me delicio, me deslumbro, me seduzo, me enfeitiço) apenas, somente, para renascer:
desde então, desde que uma fênix grafou meu nome em suas asas, me en/canto em canto — de poesia — a/penas, a custo das minhas penas & aflições, para renascer:
trans-bordante em cada mim, indo “para além de” cada mim, ultrapassando a minha própria borda:
trans-bordante em cada mim: derramado, entornado, excedido, em cada paulo sabino que renasce “através de” trans-formações, “através de” trans-mutações, que operamos caminho afora.
(trans: prefixo de origem latina que pode significar “através de”, “para além de”, e que engloba, entre outras, a acepção de “mudança”, de “trans-formação”, de “trans-mutação”.)
os signos, os símbolos, que me adestram, que me condicionam, que me habilitam, que me capacitam: as palavras, matéria do trabalho que realizo através da poesia, com quem me relâmpago, com quem me acendo clarão intenso.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: O mapa da tribo. autor: Salgado Maranhão. editora: 7Letras.)
TRANS
Estou grudado à pele
destes signos
………………….que me adestram
pela noite imêmore.
Por eles me relâmpago
entre matilhas; neles
teci minhas ráfias de luz
…………………………………..e sombra; deles
são meus labirintos de safira.
Um dia uma fênix
grafou meu nome
…………………………em suas asas;
desde então me encanto
……………………………………(apenas)
para renascer:
transbordante de mim.
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