NOVÍSSIMO ORFEU

Orpheus (1894)_Károly Ferenczy (Húngaro)

(Na foto, o quadro Orpheus, 1894, do pintor húngaro Károly Ferenczy.)
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 para Murilo, novíssimo Orfeu, que chegará ao mundo em dezembro

 

 

(do: Dicionário da mitologia grega e romana. autor: Pierre Grimal. editora: Bertrand Brasil.)

 

 

ORFEU. Orfeu é unanimemente reconhecido como filho de Eagro (v. Eagro). As tradições divergem no que respeita ao nome da mãe: passa, mais vulgarmente, por filho de Calíope, que detém a mais alta dignidade entre as Musas; mas por vezes, em vez desta é referida Menipe, filha de Tâmiris. Orfeu é de origem trácia. Como as Musas, habita perto do Olimpo, onde é geralmente representado, cantando, vestido com os trajos dos Trácios. Os mitógrafos fazem dele o rei desta região: dos Bístones, dos Odrísios e dos Macedónios, etc. Orfeu é o Cantor por excelência, o músico e o poeta. Toca lira e “cítara”, instrumento cuja invenção lhe é atribuída. Quando esta honra lhe é negada, admite-se que foi ele que aumentou o número de cordas do instrumento, que não seriam inicialmente mais do que sete e passaram a ser nove, “tantas quanto as Musas”. Seja como for, Orfeu sabia cantar melodias tão suaves que até as feras o seguiam, as árvores e as plantas se inclinavam na sua direcção e os homens mais rudes se acalmavam.

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novíssimo orfeu:

vou onde a poesia me chama, vou onde a poesia me clama.

o amor é minha biografia, o amor é minha história de vida, texto de argila & fogo.

o amor: texto de argila & fogo: de argila, pois, segundo a mitologia cristã, o homem veio do barro, veio da terra, e para a terra retornará, e é na terra que o homem constitui a sua história, a sua biografia; de fogo, elemento que existe a partir da combustão de um corpo, que desprende luz & calor, corpo que arde, que queima, que aquece, que ilumina.

aves contemporâneas, pássaros dos dias atuais, largam do meu peito, alçando vôos & levando recado aos homens, meus irmãos na terra: o amor é dos sentimentos o mais nobre; belezas nasceram para serem complementares & não excludentes; apesar dos pesares, a vida vale o sorriso & o brilho no olhar.

o mundo alegórico se esvai, o mundo repleto de simbolismo & elementos figurados se dissipa, o mundo recheado de mitologias desfalece, o uso da razão & a ciência derrubam as alegorias mundanas & as crenças fantásticas, fica esta substância de luta, real, permanece esta matéria de batalha que travamos por uma existência mais frutífera, menos tacanha, de onde a eternidade se descortina, de onde o tempo se revela.

a estrela azul familiar vira as costas, foi-se embora…

(estrela azul: estrela de luminosidade intensa, de temperatura altíssima, com massa que pode ser até 18 vezes maior que a massa solar, associada, a sua aparição no céu, a épocas de bonança, a momentos de prosperidade, a tempos de mansuetude.)

a estrela azul conhecida, familiar, disse adeus…

mesmo assim, mesmo sem a estrela azul familiar no céu, ainda que esta não mais aponte épocas de bonança, momentos de prosperidade, tempos de mansuetude, a poesia, musa maior na vida, sopra onde quer.

apesar dos pesares, apesar da substância de luta de onde se descortina a eternidade, de onde a realidade se revela, a poesia sopra o seu vento lírico, a poesia sopra o seu vento onírico, a poesia sopra o seu vento alegórico, a fim de que a vida vivida ganhe um brilho ainda mais vívido, ainda mais colorido, ainda mais definido.

salve o sopro sortido & sagaz da poesia!

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Antologia poética. autor: Murilo Mendes. editora: Cosac Naify.)

 

 

NOVÍSSIMO ORFEU

 

Vou onde a Poesia me chama.

O amor é minha biografia,
Texto de argila e fogo.

Aves contemporâneas
Largam do meu peito
Levando recado aos homens.

O mundo alegórico se esvai,
Fica esta substância de luta
De onde se descortina a eternidade.

A estrela azul familiar
Vira as costas, foi-se embora…
A poesia sopra onde quer.

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