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na canção que canto, alguns desejos:
que saia, da noite, a última estrela da avareza, que vá embora, da noite, o último brilho da mesquinharia, da usura, da sovinice, e a esperança, e a vontade de uma existência mais sadia, venha arder em nosso peito.
e saiam também, da terra, os rios da paciência, os rios da resignação, os rios da submissão, da renúncia, os rios parados que não nos permitem a navegação. é no mar que a aventura de viver tem as margens que merece: largas, que não se pode enxergar, margens onde não se pode agarrar, a aventura entregue às extensas & profundas águas marinhas, a aventura pondo-se ao sabor do acaso, pondo-se onde o vento decidir ventar.
e saiam todos os sóis que apodreceram no céu dos que não quiseram ver, e saiam todos os sóis que pereceram no céu dos que se recusaram a enxergar o lado feio do mundo — mas que saiam (os sóis que apodreceram no céu dos que não quiseram ver) de joelhos, que saiam conscientes da sua falta, a falta de luz.
e que, das mãos inventivas, das mãos criadoras, das nossas mãos capacitadas, saiam gestos, saiam atitudes, de pura transformação.
entre o real, que são as vivências, e o sonho, que são as projeções, seremos nós a vertigem, seremos nós o desatino, o desvario, a loucura, de pintar o real com as mais variadas cores do sonho feliz de bem-estar a todos.
seja a minha canção, seja a minha voz, a minha poesia, propaganda voraz desses meus desejos:
hei-de mandar arrastar, com muito orgulho, pelo pequeno avião de propaganda, no céu inocente da cidade do rio de janeiro, um dos meus versos, um dos meus mais sonoros & compridos versos:
e certamente será um verso de amor…
(é tudo amor, e mais coisa nenhuma de que sequer se guarde uma lembrança.)
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Poesias completas. autor: Alexandre O’Neill. editora: Assírio & Alvim.)
CANÇÃO
Que saia a última estrela
da avareza da noite
e a esperança venha arder
venha arder em nosso peito
E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece
E saiam todos os sóis
que apodreceram no céu
dos que não quiseram ver
— mas que saiam de joelhos
E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
seremos nós a vertigem
POESIA E PROPAGANDA
Hei-de mandar arrastar com muito orgulho,
Pelo pequeno avião da propaganda
E no céu inocente de Lisboa,
Um dos meus versos, um dos meus
Mais sonoros e compridos versos:
E será um verso de amor…
Olá, Paulo. Tudo bem? Meu nome é Daniel, tenho 21 anos e sou carioca. Descobri, por mero acaso, o seu blog. Procurei no Google o poema “O Menino Azul”, da Cecília Meirelles, e acabei encontrando um post seu com um título similar. Comecei a ler esse e outros posts e estou adorando. Você tem um ótimo gosto para poesia. Parabéns, mesmo! Abraço, querido!
Daniel,
Que maravilha saber, que coisa boa as suas linhas! Espero, portanto, mais visitas suas à página!
Venha, sim! Digo sempre que a poesia é a casa de todos que queiram nela se abrigar. A casa é nossa!
Abraço grande, querido!