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toda & qualquer coisa é composta de outras tantas coisas.
não existe “coisa em si”.
toda & qualquer coisa forma uma identidade. identidade que se forme, que se molde, que se construa, sem que tenda para alguma coisa, sem que sofra a influência de alguma coisa, sem que penda para algum lado, sem que dependa de alguma outra coisa, não existe.
tudo tende, pende, depende.
tudo, até as palavras: não há nenhuma palavra que exista “em si”, que exista sem que haja, nela, algo que também forme, também molde, também construa, outras palavras: tende / pende / depende.
palavra puxa palavra.
o mar, que molha a ilha, molha o continente.
o ar que se respira traz o que recende, o que exala, o que se espalha. o ar que injetamos nos pulmões é o mesmo que, livre, toca o cheiro das coisas & o traz, de longe, até nós.
tudo é rente, é próximo, é contíguo. tudo é tangente, é tocável, é acessível. tudo é inerente, é dependente, é inseparável.
tudo é rente, tangente, inerente.
tudo, até as palavras: não há nenhuma palavra que exista “em si”, que exista sem que haja, nela, algo que também forme, também molde, também construa, outras palavras: rente / tangente / inerente.
palavra puxa palavra.
não existe coisa assim: isenta, sem ambiente, coisa partida do seu próprio pó, sem mistura, coisa sem sombra na parede, coisa sem margem ou afluente que a alcance, que a toque: as coisas existem & necessariamente, obrigatoriamente, estabelecem inter-relações: não há coração sem mente, não há paraíso sem serpente. não existiria som se não houvesse o silêncio. não haveria luz se não fosse a escuridão.
a vida é mesmo assim: dia & noite, não & sim.
“coisa em si” inexiste.
só existe o que se sente, só existe o que é percebido através dos sentidos. uma coisa, mesmo que exista, se não for sentida por nós, isto é, se não for percebida por nós, essa coisa não existe para nós. para que exista para nós, portanto, as coisas precisam, as coisas dependem, as coisas necessitam, as coisas carecem, existir, antes, para os nossos sentidos.
tudo tende, pende, depende. tudo é rente, tangente, inerente.
não existe “coisa em si”.
a miscigenação, a mistura, a mesclagem, a influência, a tendência, a confluência, sempre foi & sempre será o caminho de toda & qualquer coisa.
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: ET Eu Tu. poemas: Arnaldo Antunes. fotos: Marcia Xavier. editora: Cosac & Naify.)
coisa em si
não existe
tudo tende
pende
depende
o mar que molha
a ilha molha
o continente
o ar que se
respira traz
o que recende
coisa em si
não existe
tudo é rente
tangente
inerente
pedra
assemelha
semente
sol nascente:
sol poente
coisa em si
não existe
mesmo que
aparente
coisa em si
coisa só
partida do seu
próprio pó
sem sombra
sobre
a parede
sem mar
gem
ou afluente
não existe
coisa assim
isenta
sem ambiente
não há coração
sem mente
paraíso
sem serpente
coisa em si
inexiste
só existe
o que se
sente
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