(Camilla Amado & Geraldo Carneiro)
(Vitor Thiré & Luiza Maldonado)
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A quem possa interessar, 3 vídeos da 3ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido no dia 24 de fevereiro (quarta-feira), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de um elenco estelar: Geraldo Carneiro, Bruce Gomlevsky, Tonico Pereira, Vitor Thiré, Maria Padilha, Camilla Amado, Luiza Maldonado, Luana Vieira, Danilo Caymmi & Alice Caymmi.
Em todos os vídeos desta publicação, textos do grande homenageado da noite, o requintado poeta & dramaturgo, além de querido amigo, Geraldo Carneiro: nos 2 primeiros vídeos, a atriz Camilla Amado, juntamente com Geraldo Carneiro, recita “Miragem em abismo”, “Filosofia” & “O sopro da deusa”. No terceiro & último vídeo, o ator Vitor Thiré & a atriz Luiza Maldonado interpretam um trecho da peça “Romeu e Julieta”, do poeta & dramaturgo inglês William Shakespeare, na tradução do Geraldo Carneiro & sob a direção do ator & diretor Bruce Gomlevsky.
No primeiro vídeo, no vídeo que abre as publicações, notem que falo sobre um imbróglio, com gritos da platéia: o teatro lotou & algumas pessoas, depois de iniciado o espetáculo, não conseguiram entrar — não havia mais assentos disponíveis. No entanto, ao fim de tudo, tudo deu certo & todos se acomodaram.
Mais vídeos chegarão!
Divirtam-se!
Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Camilla Amado e Geraldo Carneiro recitam Miragem em abismo e Filosofia, poemas de Geraldo Carneiro.)
MIRAGEM EM ABISMO (Geraldo Carneiro)
não sei de que tecido é feito o ser.
meus planos sonhos enganos
se tecem na fábrica da vida
e se destecem na arquitetura do caos.
vou criando edifícios em que me
…………………………………..demoro
e de onde salto em busca de não sei.
meu ser é parte dessa miragem
…………………………………..em abismo
um espelho em que me não vejo
e em me não vendo acendo a chama
que se chama desejo.
talvez do outro lado exista um cais.
sei que sempre existe certa distância
…………………………………..entre mim
e o circo da minha circunstância
FILOSOFIA (Geraldo Carneiro)
o tempo é uma ficção criada há pouco
…………………………………………………tempo.
será desinventada no futuro
onde as rosas prescindem do jardim.
o tempo do relógio é uma miragem
tão irreal quanto qualquer camelo
passando no buraco de uma agulha.
metáforas são flores do pensamento
pensadas para que se possa pressentir
que o tempo é uma aventura aqui,
…………………………………………………agora
que se eterniza ou sequer agoniza:
se precipita no caos
de onde as naus nunca regressarão
porque haveria sempre um tempo a mais
entre uma nau e a ideia do seu cais.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Camilla Amado e Geraldo Carneiro recitam O sopro da deusa, poema de Geraldo Carneiro.)
O SOPRO DA DEUSA (Geraldo Carneiro)
me deleito no leito da poesia
a deusa que me acolhe com constância.
as outras, conforme a circunstância,
a fome de inventar o vento-amor.
sopro suas velas e ela se revela
em sua precariedade e seu esplendor.
é um rito que repito sem saber
se outra mão ampara a minha mão,
se sou ou se não sou conquistador
dessas conquistas feitas só de éter.
minhas palavras nunca foram minhas,
mas foram me forjando com sua força
até que me tornasse esse não-ser
feito de arquiteturas sem lugar
senão no reino-sonho que fundei.
essas palavras sopram-me presságios
e nelas plantarei os meus naufrágios.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [3ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 24/02/2016. Vitor Thiré e Luiza Maldonado interpretam um trecho da peça Romeu e Julieta. autor da peça: William Shakespeare. tradução: Geraldo Carneiro. direção de cena: Bruce Gomlevsky.)
(trecho da peça: Romeu e Julieta. autor: William Shakespeare. tradução: Geraldo Carneiro.)
De ROMEU E JULIETA
(A cena do balcão: Romeu contempla Julieta à janela, oculto no jardim da mansão dos Capuletos.)
— Romeu
Que luz é essa que irrompe na janela?
Será o nascente, e Julieta é o sol?
Levanta, sol, e assim mata essa lua,
Que já está pálida com a dor da inveja
Por seres tão mais bela do que ela.
[…]
É a minha amada, oh sim: é o meu amor.
Quisera ela soubesse o que ela é!
Ela fala, ainda quando não diz nada.
Seu olhar discursa: quero responder.
Sou um atrevido: não é a mim que ela fala.
Duas dentre as estrelas mais bonitas
Que há em todo o céu, por terem outros deveres,
Deixaram esplandecendo os olhos dela
Em suas esferas, até que voltassem.
E se seus olhos estivessem lá,
E elas aqui? O brilho do seu rosto
Causaria vergonha nas estrelas,
Como o brilho do dia faz com as velas,
Seus olhos lá no céu brilhariam tanto
Que até os passarinhos cantariam,
Pensando que não fosse mais noite.
Como ela ampara o rosto sobre a mão!
Ah, se eu fosse essa luva em sua mão,
Se eu pudesse tocar aquele rosto!
— Julieta
Ai de mim!
— Romeu
(à parte, encantado) Ela fala!
Fala de novo, anjo esplendoroso,
Pois esplandeces tanto nesta noite
Suspenso acima da minha cabeça,
Como se fosse um mensageiro alado
Do céu, diante dos olhos encantados
Dos mortais, que se inclinam pra admirar-te
Quando cavalgas nuvens vagarosas
E sobre o seio do ar vais navegando.
— Julieta
Ó Romeu, Romeu. Por que és Romeu?
Nega teu pai, recusa esse nome;
Senão, é só jurar-me o teu amor,
E eu já não serei uma Capuleto.
— Romeu
(à parte)
Escuto mais, ou devo responder?
— Julieta
É só teu nome que é meu inimigo.
Tu és tu mesmo, não és um Montéquio.
O que é um Montéquio? Não é mão, nem pé,
Nem braço ou rosto, ou qualquer outra parte
Que a alguém pertença. Encarna um outro nome.
O que há num nome? O que chamamos rosa
Com outro nome perde o seu perfume?
[…]
Romeu, despe o teu nome, e em vez do nome,
Que não faz parte do teu ser,
Toma posse completa de mim mesma.
— Romeu
Tomo posse de ti por tua palavra!
Basta que tu me chames meu amor,
E então serei de novo batizado.
De hoje em diante, não serei Romeu.
— Julieta
Quem és que sob a tela desta noite
Assim penetras no meu pensamento?
— Romeu
Por um nome não posso apresentar-me.
Meu nome, minha querida, é detestável
Pra mim mesmo, porque é teu inimigo.
Se eu o tivesse escrito, eu o rasgaria.
— Julieta
Ainda não escutei nem cem palavras
Da tua voz, mas já sei qual é o seu som.
Será que não és Romeu e não és Montéquio?
— Romeu
Nenhum dos dois, se a ti desagradam.
— Julieta
Como chegaste aqui, me diz? Por onde?
Os muros do pomar são muito altos,
Difíceis de escalar, vai ser tua morte,
Se algum parente meu te achar aqui.
— Romeu
Saltei esses muros com as asas do amor.
Não há limites de pedra contra o amor.
E o que o amor não conquista, quando ousa?
Teus parentes não podem me conter.
— Julieta
Se eles te virem aqui, vão te matar.
— Romeu
Tem mais perigo morando em teus olhos
Que em cem de suas espadas. Só me basta
Que me olhes com doçura e isso me guarda
Contra qualquer inimizade deles.
— Julieta
Por nada quero que te vejam aqui.
— Romeu
Tenho o manto da noite que me esconde.
Se não me amares, deixa que me encontrem.
Prefiro que o ódio acabe com a minha vida,
Que a morte adiada, sem o teu amor.
— Julieta
Quem te ensinou a vir a este lugar?
— Romeu
O amor foi quem me fez investigar,
Me aconselhou, e eu lhe emprestei meus olhos.
Não sou navegador, mas se estivesses
Na praia mais distante deste mundo,
Ao vasto mar eu me aventuraria
Para alcançar essa mercadoria.
— Julieta
Sabes que a máscara da noite está em meu rosto,
Senão eu coraria de vergonha
Por teres escutado o que eu falei.
Quisera ter mantido a cerimônia,
Quisera desmentir o que eu já disse.
Mas adeus, compostura! Tu me amas?
Já sei que dirás sim, e aceitarei
Tua palavra. Ainda que, se jurasses,
Podia ser que te mostrasses falso.
Dizem que as falsas juras dos amantes
Fazem Júpiter rir. Gentil Romeu,
Se tu me amas, proclama a tua fé.
Ou, se julgares que sou muito fácil,
Serei malvada e te direi que não,
Para que tenhas que me cortejar.
Senão, belo Montéquio, nem pensar!
Sinceramente, eu estou apaixonada;
Por isso podes me julgar leviana.
Mas acredites que sou mais sincera
Do que essas que simulam mais recato.
Confesso que eu seria mais discreta,
Se não escutasses sobre o meu amor
Sem que eu soubesse. Eu te peço perdão.
Não consideres um amor leviano
Esse que a escura noite assim mostrou.
— Romeu
Senhora, por essa bendita lua
Que enche de prata as copas destas árvores,
Eu juro…
— Julieta
…………..Não, não jures pela lua,
Que muda a cada mês em sua órbita,
Para que teu amor não mude igual.
— Romeu
Então por que é que eu vou jurar?
— Julieta
………………………………………………..Por nada.
Ou se quiseres jura por ti mesmo,
Porque és o deus da minha adoração.
E vou acreditar.
— Romeu
Se o meu amor —
— Julieta
(cortando)
Não jura, não.
Embora eu tenha em ti minha alegria,
Não me alegra essa aliança em meio à noite,
Tão brusca, repentina e tão imprevista,
Como um relâmpago que logo apaga
Antes que alguém proclame a sua luz.
Boa noite, amor. Que o sopro do verão
Transforme esse botão de amor em flor
Quando nos encontrarmos outra vez.
Boa noite, e que tenhamos toda a calma
Tanto em teu coração quanto em minha alma.
— Romeu
Vais me deixar assim insatisfeito?
— Julieta
Mas que satisfação querias hoje?
— Romeu
Que nós trocássemos juras de amor.
— Julieta
Já fiz as minhas, antes que pedisses.
E ainda quero fazê-las outra vez.
— Romeu
Você as retiraria, amor? Por quê?
— Julieta
Só pra ser franca, e fazê-las de novo.
Mas só estou desejando o que já tenho.
A generosidade em mim é um mar:
Meu amor por ti é fundo e é infinito,
Quanto mais dou, mais tenho para dar.
(Julieta ouve o chamado da Ama.)
Ouvi um barulho em casa. Adeus, amor.
[…] Sejas sincero, meu doce Montéquio.
Fica um pouquinho mais, eu volto já.
(Julieta sai)
— Romeu
Ó noite abençoada, tenho medo
Que, por ser noite, seja tudo um sonho
Doce demais para ser verdadeiro.
(Julieta reaparece)
— Julieta
Três palavras, Romeu, depois boa noite.
Se as tuas intenções de amor são sérias,
Se o teu propósito é o casamento,
Manda comunicar-me quando e onde
Pretendes realizar a cerimônia,
Por quem te procurar da minha parte,
Que eu depositarei tudo o que tenho
Aos teus pés, para então seguir contigo
Até o final do mundo, meu senhor.
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