OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (15ª EDIÇÃO) — EUCANAÃ FERRAZ & CONVIDADOS
7 de novembro de 2018

(O homenageado desta edição do projeto: o poeta Eucanaã Ferraz)

(Convite)

(Paulo Sabino e Antonio Cicero)

(Eduardo Coelho)

(Bruno Cosentino)

(Capa do livro Hamlet e a lagartixa: uma leitura da poesia de Eucanaã Ferraz, da professora Marlene de Castro Correia)
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Gente poética,
 
Encerrando este 2018, a 15ª edição do projeto Ocupação Poética presta a sua homenagem ao super poeta EUCANAÃ FERRAZ! O Eucanaã, além de ser dono de uma obra linda, é responsável pela antologia de poemas “Veneno antimonotonia – os melhores poemas e canções contra o tédio”, pela reunião de letras das canções do Caetano Veloso, “Letra só”, e da Adriana Calcanhotto, “Pra que é que serve uma canção como essa?”, e pela edição em 2 volumes de toda a obra (música, poesia, prosa e teatro) do Vinicius de Moraes.
 
A noite conta com as participações do poeta, filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Antonio Cicero, do cantor e compositor Bruno Cosentino e dos professores Eduardo Coelho e Marlene de Castro Correia. Além da leitura de poemas e apresentação de canções (parcerias do Bruno Cosentino e Eucanaã), haverá o lançamento do livro “Hamlet e a lagartixa: uma leitura da poesia de Eucanaã Ferraz” (editora 7Letras), um ensaio de Marlene de Castro Correia sobre a obra do homenageado.
 
Esperamos vocês!
 
Serviço:
Ocupação Poética – Eucanaã Ferraz e convidados
Com Antonio Cicero, Bruno Cosentino, Eduardo Coelho, Marlene de Castro Correia e Paulo Sabino
12/11 (segunda-feira)
20h
Teatro Cândido Mendes
Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema
Tel: (21) 2523-3663
Entrada: R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)*
Classificação: 14 anos
 
*Nomes no comentário desta postagem entram na lista-amiga e garantem a meia-entrada (R$ 10,00)
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(do livro: Escuta. autor: Eucanaã Ferraz. editora: Companhia das Letras.)

 

 

SIMPLES

 

Se você não sai da minha cabeça,
minha cabeça é seu apartamento.
Já você, sendo você, é um chapéu
que uso dentro, como se usa um caroço.
Porque minha cabeça todo o tempo
está em você, suas pernas não saem
da minha cabeça e sinto seus braços
se formarem nos mesmos escaninhos.
Não tenho cabeça para outro assunto,
guarda-chuva chapéu pernas ou versos
que não sejam você. Devia pensar
noutras coisas — alfinetes perdidos,
convicções perdidas praias desertas
ou novas medidas de segurança
para a cena do atirador de facas.
Perdi a cabeça e já não há remédio.
Mas quem havia de a querer no lugar
se seus dedos brotam em meus cabelos?
Você me subiu à cabeça — forças
belezas alegrias me pertencem.
Havia muito sangue na calçada
dizem. Ai, sou um equilibrista em queda
livre. Desempregado. E se giro
por aí com a cabeça no ar
carregando você, minha cabeça
é um balão bailando então. Sim, daqui
a Cordilheira dos Andes é nítida.
Escute, escreverei uma coisa
tão simples assim: você é meu sol.
Porque você me deixa com a cabeça
quente. E sem juízo, imaginando.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): EVENTO & VÍDEOS
16 de setembro de 2015

Ocupação Poética_Menezes Turiba Participações

(Na ponta esquerda: Cristiano Menezes & Luis Turiba; ao lado, os convidados dos poetas participantes: Luca Andrade & Fernando Reis.)

Ocupação Poética_Tavinho Paes 1

(Na ponta esquerda, os poetas participantes da primeira noite, 09/09, Cristiano Menezes & Luis Turiba; ao lado, o grande compositor & poeta Tavinho Paes, que estava na platéia, e Paulo Sabino.)

Ocupação Poética_Claufe Mauro Participações

(Do lado esquerdo, o poeta participante Claufe Rodrigues & sua convidada, a escritora & cantora Mônica Montone; do lado direito, o poeta participante Mauro Sta Cecília & seu convidado, o guitarrista & cria Julio Santa Cecília.)

Ocupação Poética_Claufe Mauro Poetas na platéia

(Os poetas participantes da segunda noite, 10/09, Claufe Rodrigues & Mauro Sta Cecília, acompanhados dos seus convidados, mais os poetas participantes do projeto, Cristiano Menezes, que abriu a noite da segunda edição, e Salgado Maranhão, participante da primeira edição.)
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Aos senhores, 4 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Em 3 vídeos, este que vos escreve recita 3 poemas de 3 sofisticados poetas: Waly Salomão, Gilberto Gil & Tavinho Paes. No quarto & último vídeo, o encerramento da primeira noite, que teve direito a “Parabéns pra você” com bolo surpresa para o aniversariante da noite (09/09), o poeta participante Cristiano Menezes.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita Fábrica do poema, poema de Waly Salomão.)

 

FÁBRICA DO POEMA  (Waly Salomão)

sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.

sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
…..sob que máscara retornará o recalcado?

(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra “recalcado” é uma expressão
por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema.)

pois a questão-chave é:
…..sob que máscara retornará?
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: A fábrica do poema. artista & intérprete: Adriana Calcanhotto. canção: A fábrica do poema. música: Adriana Calcanhotto. poema: Waly Salomão. gravadora: Epic.)

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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita A paz, poema-canção de Gilberto Gil.)

 

A PAZ  (Gilberto Gil)

A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Unplugged MTV. artista & intérprete: Gilberto Gil. canção: A paz. música: João Donato. versos: Gilberto Gil. gravadora: Warner Music.)

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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita Saudade, poema de Tavinho Paes.)

 

SAUDADE  (Tavinho Paes)

saudade é perfume raro
cheiro de gente
para quem tem faro
sentimento que independe
de consentimento
emoção que nunca é descartável
carta que sente falta do baralho

saudade é chuva
que só chove no molhado
assunto delicado
que não dá para negociar
ninguém leva vantagem
em esquecer
de quem deve lembrar
nem com quem deve sonhar
mas, será que há alguém
que tem coragem de sonhar
com alguém que ama
…e acordar?

neste mundo existem milhões
que nunca disseram a ninguém
EU TE AMO
além de outros zilhões
que nunca ouviram isto de alguém
e mesmo assim
saudade todo mundo tem
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Encerramento da noite, por Paulo Sabino, e o Parabéns pra você ao poeta aniversariante Cristiano Menezes.)

OCUPAÇÃO POÉTICA – TEATRO CÂNDIDO MENDES: O EVENTO
4 de agosto de 2015

Poetas Ocupação Poética Cândido Mendes

(Os participantes do projeto “Ocupação Poética”: em pé: Salgado Maranhão, Adriano Espínola, Antonio Carlos Secchin, Alex Varella & Antonio Cicero; abaixados: Paulo Henriques Britto & Paulo Sabino.)

Ocupação Poética_Plateia 2

Ocupação Poética_Plateia

(Casa cheia — platéia do teatro Cândido Mendes.)

Adriana Calcanhotto e Paulo Sabino

(Na platéia, uma das minhas musas, a cantora & compositora Adriana Calcanhotto.)

Ocupação Poética_Geraldo Carneiro & Paulo Sabino

(Paulo Sabino & um dos grandes mestres da poesia, que estava na platéia, Geraldo Carneiro, rosados.)
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Na primeira foto, o TIMAÇO de poetas escalado para o projeto “OCUPAÇÃO POÉTICA – TEATRO CÂNDIDO MENDES” (Ipanema – RJ), acontecido nos dias 31/07, 01/08 & 02/08.

Só CRAQUES! Bateram um bolão!

O projeto foi tão bonito, tão emocionado, tudo deu tão certo, que surgiu a idéia (e o mais bacana: a idéia partiu dos próprios poetas participantes!) de fazermos, neste mesmo formato, um fim de semana em SÃO PAULO!

Estou SUPER animado & vou batalhar para que este desejo (de todos nós!) se torne realidade!

Eu sou PURA GRATIDÃO! Só tenho a agradecer a TODOS OS MESTRES que confiaram em mim, de peito aberto, para a coordenação dos saraus, todos EXUBERANTES!

Vamos que vamos, porque, no que depender de mim, levaremos POESIA aos quatro cantos do mundo!

“A poesia sopra onde quer”, versejou Murilo Mendes. E eu concordo plenamente.

(Em breve, videozinhos com algumas leituras.)

Aos senhores, uma das poesias da seleção do poeta Alex Varella, poesia que fez bastante sucesso na sua leitura. E muito divertida, bem-humorada, leve, como foi todo o evento.

Beijo todos!
Paulo Sabino.

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(autor: Décio Escobar.)

 

 

VICENTE

 

 

Dei à minha morte o nome de Vicente.
Anotei Vicente num cartão
e guardei Vicente no bolso do paletó.
Para cima e para baixo eu ando com Vicente;
Vicente é um silogismo, uma consumição, mas
não chega a ser a dor.
Encontro Vicente quando vou pegar o ônibus,
o lotação, a entrada para o teatro; Vicente
transita de um bolso para outro,
misturou-se com os meus papéis,
o meu passaporte, a minha identidade, o telefone
da Margarida… o diabo.
Vicente anda amarfalhado, apalpado, usado;
dobro e desdobro Vicente.
Um dia
eu perco Vicente
na rua, na praia, no escritório,
e vai e alguém acha Vicente — e pronto, e eu
fico ETERNO.

AS BORBOLETAS
24 de setembro de 2014

Borboletas

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Eu vou lhe dar de presente uma coisa.
É assim: borboleta é pétala que voa.

(Clarice Lispector)

 

primavera: segundo o dicionário houaiss: “estação temperada e amena, entre o inverno e o verão. [No hemisfério sul, estende-se do equinócio de setembro (22) ao solstício de dezembro (20); no hemisfério norte, do equinócio de março (21) ao solstício de junho (20).]”

primavera: estação considerada a estação das flores, representante do renascimento, da transformação.

a estação das flores é a estação das borboletas.

borboletas: segundo o dicionário aurélio: “designação comum aos insetos lepidópteros diurnos, cujas antenas são clavadas. As larvas das borboletas não tecem casulos, passando o período ninfal sob forma de crisálidas.”

borboletas: insetos diurnos que se alimentam principalmente do néctar das flores & cujo desenvolvimento se caracteriza por quatro fases: o ovo, a lagarta, a pupa (quando em transformação, em metamorfose, dentro da crisálida) & a fase adulta (já borboleta).

sendo o néctar das flores um dos principais alimentos das borboletas, a primavera, estação que se inicia, estação considerada a estação das flores, é, também, a estação das borboletas, bichinhos que, além de flores, gostam do dia.

brancas, azuis, amarelas & pretas: uma profusão de cores soltas no ar: brincam, na luz do dia, as belas borboletas.

soltas no ar, delicadas, levíssimas, qual pétalas a voar, brincam as borboletas, que se misturam, se embaralham, se desordenam, em cores as mais diversas: brancas, azuis, amarelas & pretas.

enquanto brincam, na luz, as belas borboletas, brancas, azuis, amarelas & pretas, a poesia trata de lhes dar as rimas fantásticas, rimas lúdicas, como a brincadeira das borboletas à luz do dia, para que elas sofram mais uma metamorfose, para que elas se transformem em pura lírica:

borboletas brancas são alegres & francas.

borboletas azuis gostam muito de luz.

as amarelinhas são tão bonitinhas!

e as pretas, então… que escuridão!

enquanto brinca de rima a poesia, metamorfoseando borboletas em pura lírica, brincam, na luz, as belas borboletas: brancas, azuis, amarelas & pretas.

primavera: estação considerada a estação das flores, representante do renascimento, da transformação.

borboleta: pétala que voa.

que a estação que se inicia (in)vente a todos as belezas que lhe são caras, as belezas que lhe são estimadas, as belezas que reflitam a sua cara, que reflitam o seu rosto: que belas borboletas — brancas, azuis, amarelas & pretas — brinquem à luz do olhar de cada um nesta primavera.

beijo todos!
paulo sabino.
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(do site: Vinicius de Moraes — Oficial. autor: Vinicius de Moraes.)

 

 

AS BORBOLETAS

 

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Partimpim Dois. artista & intérprete: Adriana Calcanhotto. canção: As borboletas. poema: Vinicius de Moraes. música: Cid Campos. gravadora: Sony-BMG.)

AINDA
28 de novembro de 2013

Passarinho_Vôo

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ainda: advérbio utilizado para dar continuidade a uma determinada ação.

a vida é um eterno começar. nunca o fim, sempre o começo: de uma manhã, de uma tarde, de uma noite, de um sentimento, de uma ação.

as coisas não findam: as coisas recomeçam. por tanto, um eterno aprendiz, para sempre um desconhecedor.

como as coisas recomeçam incessantemente, nunca sabemos ao certo o que virá.

o incerto é a única certeza.

por tudo isso, ainda começo de novo, ainda me lanço do zero (um eterno aprendiz, para sempre um desconhecedor), ainda percorro, como que por inteiro (porque nunca somos inteiramente aquilo que pensamos ser), o incerto.

espero querer de novo. e quero, ainda, mais um pouco.

eu vôo ainda sob o mesmo teto, eu vôo ainda sob o mesmo céu que me abriga, eu vôo ainda sobre aquele mesmo sonho: o de ver a poesia como o veneno anti-monotonia de muitos outros, o de ver a arte da escrita como o caminho eficaz contra os males da alma.

um poema, uma letra de música, um artigo, trechos de um romance, um conto, uma peça teatral, uma entrevista, uma crônica: para mim, tudo pode ser matéria poética.

(ainda bem.)

beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Algumas letras. autora: Adriana Calcanhotto. editora: Quasi Edições.)

 

 

AINDA

 

Começo de novo
Me lanço do zero
Percorro como que por inteiro
O incerto

Espero
Querer de novo

E quero
Ainda mais um pouco

Eu vôo
Ainda sob o mesmo teto
Ainda sobre aquele mesmo sonho

INVERNO
26 de outubro de 2012

(Há algo que jamais se esclareceu: onde foi exatamente que larguei, naquele dia mesmo, o leão que sempre cavalguei?…)
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o mais feliz pela sua partida, o mais feliz por pensar que você ia embora.

no dia  em que fui mais feliz, eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir.

você, espelhando, no olhar, um avião, e eu feliz por isso. você, espelhando a partida no olhar, você, espelhando a viagem no olhar, e eu feliz por isso.

de lá pra cá (desde o dia em que vi um avião se espelhar no seu olhar, passado algum tempo), não sei… não sei se tão feliz como antes…

de lá pra cá, não sei… caminho ao longo do canal; pensativo, faço longas cartas pra ninguém; e o inverno, no leblon, é quase glacial. inverno rigoroso, de ventos fortes & frios…

há algo que jamais, nesse meio tempo, se esclareceu:

onde foi (em que parte) exatamente que larguei, naquele dia mesmo (no dia em que fui mais feliz, vendo um avião se espelhar no seu olhar, até sumir), o leão que sempre cavalguei?

há algo que jamais se esclareceu:

em que parte daquele dia larguei o leão que sempre cavalguei?…

o leão que sempre cavalguei:

eu, capaz de domar uma fera, o rei dos animais, um leão. eu, capaz de cavalgar um leão, arisco, violento, solitário.

naquele dia mesmo (no dia em que vi um avião se espelhar no seu olhar, até sumir, no dia em que fui mais feliz), onde foi exatamente que larguei o leão que sempre cavalguei?…

(esse acontecimento, esse “algo”, a mim, jamais se esclareceu.)

lá mesmo (lá no dia em que fui mais feliz, lá no dia em que larguei, perdido, o leão que sempre cavalguei) também esqueci que o destino — destino que tracei por sobre o leão que cavalguei — sempre me quis só. sempre só, no deserto, num local ermo (somente eu & o leão, bicho arisco, intratável), sem saudades, sem remorsos, no deserto, só, sem amarras (sem cabos ou cordas ou correntes), barco embriagado ao mar, barco extasiado, barco embebedado, do mar, barco que deseja só viajar, sem amarras, barco que só almeja o mar & o livre navegar.

por isso, por ser um barco embriagado ao mar, não sei o que (ou quem), em mim, só quer me lembrar que, um dia, o céu reuniu-se à terra, um instante, por nós dois.

não sei o que (ou quem), em mim, só quer me lembrar que, um dia, o céu reuniu-se à terra por nós dois: o céu na terra: o paraíso ao alcance dos dedos: o dia que o céu reuniu-se à terra (um instante) por nós dois.

porque, afinal, no dia em que fui mais feliz eu vi, nos seus olhos, a sua viagem, a sua partida — sim, eu, cujo destino sempre quis só, no deserto, sem saudades, sem remorsos, só, sem amarras, barco embriagado ao mar.

por isso, não sei o que, em mim, só quer me lembrar que, um dia, o céu reuniu-se à terra, um instante, por nós dois, pouco antes do ocidente se assombrar, pouco antes do ocidente tornar-se sombreado, pouco antes do ocidente tornar-se menos luminoso, menos claro: um inverno quase glacial.

(no dia em que fui mais feliz… de lá pra cá, não sei… o leão que sempre cavalguei, cadê?…)

beijo todos!
paulo sabino.

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(do livro: Guardar. autor: Antonio Cicero. editora: Record.)

 

INVERNO                                                    (para Suzana Morais)

 

No dia em que fui mais feliz
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir

de lá pra cá não sei
caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial.

Há algo que jamais se esclareceu:
onde foi exatamente que larguei
naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei?

Lá mesmo esqueci
que o destino
sempre me quis só
no deserto sem saudades, sem remorsos, só
sem amarras, barco embriagado ao mar

Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.

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(do site: Youtube. áudio extraído do cd: A fábrica do poema. artista & intérprete: Adriana Calcanhotto. canção: Inverno. versos: Antonio Cicero. música: Adriana Calcanhotto. gravadora: Epic Records.)

ESTRELAS
23 de outubro de 2012

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estrelas, eu as quero, eu as desejo, para mim!

estrelas para mim!

para mim: estrelas!

para mim,
para o meu pensamento,
na minha opinião,

estrelas são para mim.

estrelas para mim: estrelas estrelas!

estrelas para mim: “para quê?”

“para quê?”
“para quê?”

oras, “para quê?” para mim!

estrelas para mim, só para mim!

para mim!
para mim!
para mim!

estrelas para mim & a treva entre as estrelas — só para mim!

para mim eu quero, eu desejo: as cintilações & a escuridão entre as cintilações durante o trajeto. assim como na esfera celeste.

beijo todos!
paulo sabino.

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(autores: Arnaldo Antunes / Sérgio Britto.) 

 

 

ESTRELAS

 

Estrelas
Para mim
Para mim
Estrelas

 

São para mim
Estrelas para mim
Estrelas
Estrelas

Para quê?
Para quê?
Para quê?

Estrelas para mim
Só para mim

Para mim
Para mim
Para mim

E a treva entre as estrelas
Só para mim

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(áudio extraído do cd: A fábrica do poema. artista e intérprete:Adriana Calcanhotto. canção: Estrelas. autores da canção: Arnaldo Antunes e Sérgio Britto. gravadora: Epic Records.)

VAI SABER…
5 de junho de 2012

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a vida, sabemos, é uma caixinha de surpresas.
 
a vida é o imponderável, o imprevisível, aquilo que não se espera.
 
vivemos com os pés no presente, vivenciamos o hoje. o próximo instante, o próximo minuto, nunca sabemos o que será até que seja. o futuro, diz o dito popular, “a deus pertence”.
 
o futuro, isto é, o amanhã, vai saber…
 
em determinadas questões, determinações — ordens, mandados — não resolvem absolutamente nada.
 
com o amor é assim: não adianta pensar que “determinou” o que só o amor pode saber. pois só o amor pode saber o amor.
 
não adianta determinar o fim do amor se o amor determina não findar. não adianta determinar a insistência do amor se o amor determina não insistir.
 
só ao amor cabe o amor. ele é quem manda, ele é quem determina.
 
o mundo dá voltas. o único ponto final (de fato) é aquele que interrompe a linha vital. fora esse ponto, nenhum outro é definitivo.
 
o fato de não querer o amor hoje não é empecilho para que se queira amanhã, o fato de não querer o amor hoje (presente) não significa que, amanhã (isto é: no futuro, não importa se próximo ou distante), não se tenha do que duvidar, o fato de não querer o amor hoje não significa que, amanhã, não se tenha o que considerar, o fato de não querer o amor hoje não significa que, amanhã, não se venha a reconsiderar.
 
pois o amor, nas tantas voltas que o mundo dá, ele gosta muito de mudar, o amor, nas tantas voltas que o mundo dá, ele gosta muito de se dar, o amor, nas tantas voltas que o mundo dá, ele gosta muito de jogar, e, assim sendo, ele, o amor, pode aparecer onde ninguém poderia supor (supor no intuito de antecipá-lo, de prevê-lo), o amor (que gosta muito de mudar, de se dar, de jogar) pode aparecer onde ninguém poderia se pôr (a fim de impedi-lo, de embarreirá-lo). de repente, não mais que de repente, surpresa: eis o amor realizado de trejeitos inopinados.
 
(vai saber…)
 
como “o futuro a deus pertence” (diz o dito) & ao amor não cabem determinações, o melhor, senão o possível, é deixar ser. viver o que tiver de ser vivido. sem medos.
 
os medos não resolvem as aflições suscitadas pelo amor. 
 
viver o amor é, também, viver a dor. não viver o amor é, tal & qual, viver a dor. então, se a dor é vivenciada com ou sem a experiência do amor, acho mais saboroso vivenciá-la — a dor — amando (assim mesmo: o amor no gerúndio). 
 
deixar ser. viver o que tiver de ser vivido. sem medos.
 
aproveitar o que tiver de ser aproveitado. sem amarras.
 
beijo todos!
paulo sabino. 
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(poema-canção extraído do site oficial de: Adriana Calcanhotto. autora: Adriana Calcanhotto.)
 
 
 
VAI SABER?
 
 
para Mart’nália
 
 
Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se pôr
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha o que considerar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

Não vá pensando que determinou
Sobre o que só o amor pode saber
Só porque disse que não me quer
Não quer dizer que não vá querer
Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de jogar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor
Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não venha a reconsiderar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber?

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(áudio extraído do cd: Universo ao meu redor. artista & intérprete: Marisa Monte. canção: Vai saber? compositora: Adriana Calcanhotto. gravadora: selo Phonomotor.)
 

CALIPSO: DIA DE FESTA NO MAR
2 de fevereiro de 2012

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dia 02 de fevereiro é dia de festa no mar.
 
eu, que não quero (nem preciso) ser o primeiro, venho saudar a rainha do meu amante maior, popularmente conhecida como iemanjá.
 
o mar é um dos maiores encantos da minha vida. não sei, sinceramente, com a profunda relação que desenvolvi com ele, como seria morar em região onde ele não pouse o seu manto azul.
 
a senhora das águas marítimas é famosa por enfeitiçar seus amantes com o seu canto de sereia, até arrastá-los para o fundo do mar sem jamais devolvê-los à terra firme.
 
os versos que seguem narram a história de um navegante que, assim como ulisses (herói da mitologia grega, protagonista da guerra de tróia no clássico poema épico atribuído a homero, odisséia), é amarrado no mastro da embarcação em que está com as orelhas tapadas para resistir ao encanto do canto das sereias marinhas.
 
ao chegar à praia, o navegante não resiste & cai nos braços de calipso.
 
calipso: na mitologia grega, é uma ninfa do mar, uma sereia.
 
calipso: gênero musical originário do caribe, com ritmo apropriado à dança & ao canto.
 
as linhas poéticas brincam com o sentido duplo que “calipso” pode ter (a sereia & o ritmo musical caribenho).
 
eu, paulo sabino, um homem comum, desde o primeiro contato com o mar, não tive nenhum outro vício senão dançar ao ritmo de calipso; eu caí nas graças de calipso; não resisti ao encanto de calipso; só sei dançar ao ritmo de calipso.
 
salve a deusa do mar & o seu canto! salve a senhora das águas & o seu encanto!
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do encarte do cd: Maré. artista: Adriana Calcanhotto. gravadora: Sony & BMG. autor dos versos: Péricles Cavalcanti.)
 
 
 
PORTO ALEGRE (NOS BRAÇOS DE CALIPSO)
 
 
Amarrado num mastro
Tapando as orelhas
Eu resisti
Ao encanto das sereias
Eu não ouvi
O canto das sereias
Eu resisti
 
Mas chegando à praia
Não fiz nada disso
Então caí
Nos braços de Calipso
Eu sucumbi
Ao encanto de Calipso
Não resisti
 
Desde então eu não tive
Nenhum outro vício
Senão dançar
Ao ritmo de Calipso
Pois eu caí
Nas graças de Calipso
Não resisti
Ao encanto de Calipso
Só sei dançar
Ao ritmo de Calipso

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(do site: Youtube. canção: Porto Alegre (nos braços de Calipso). autor: Péricles Cavalcanti. intérprete: Adriana Calcanhotto.)
 

EU VIVO A SORRIR
27 de julho de 2011

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eu vivo a sorrir.
 
eu vivo a sorrir, pro caso de o acaso que está sempre por aí, margeando, beirando, o centro de tudo.
 
se cara emburrada, mau humor & pesares resolvessem, ou pelo menos ajudassem a resolver, tudo aquilo que nos atormenta, se caras & bocas feias solucionassem, ou pelo menos ajudassem a solucionar, tudo aquilo que nos aflige, eu seria o primeiro a clamar pelos maus humores & rostos carrancudos.
 
porém, contudo, todavia: cara emburrada, feia, mal humorada, carrancuda, além de em NADA ajudar, além de em NADA auxiliar, cara emburrada, feia, mal humorada, carrancuda, ainda carrega, para dentro do ser, uma série de sentimentos espinhentos, desfavoráveis, perniciosos.
 
como não desejo ver, refletidos em mim, sentimentos tão ásperos, sentimentos tão agrestes, sentimentos que em NADA me socorrem nos momentos em que preciso de amparo: 
 
eu vivo a sorrir.
 
a alegria, um sorriso no rosto, é uma forma de resistência. estar bem, alçar vôo à procura do que brilhe, do que esplandece, fortalece para os momentos nebulosos, momentos de desgaste, momentos que nos aparecem, naturalmente, inevitavelmente, sem que tenhamos que correr atrás deles.
 
eu vivo a sorrir, e afirmo: sorrir me salva a vida, alivia a barra de viver.
 
beijo todos!
paulo sabino. 
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(poema-canção extraído do site oficial de: Adriana Calcanhotto. autora: Adriana Calcanhotto.)
 
 
EU VIVO A SORRIR
 
eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
pro caso de você virar a esquina
e adentrar a livraria
pro caso de o acaso estar num bom dia
pro caso de o destino me haver reservado a alegria
e o meu fado estar fadado a ser a sua sina
 
eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
pro caso de você errar a vereda
e acertar o elevador
pro caso de o acaso estar inspirado
e emaranhar por capricho tempo e espaço
cruzando as nossas linhas soltas num laço
 
eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir
vai que se materializa o meu sonho dourado
vai que me espera com boas notícias o inesperado
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(do site: Youtube. Canção: Eu vivo a sorrir. do cd: O micróbio do samba. gravadora: EMI. autora: Adriana Calcanhotto.)