FESTIVAL CCBB (BRASÍLIA) — QUANTO MAIS TROPICÁLIA, MELHOR — FOTOS (RIO DE JANEIRO & BRASÍLIA), ROTEIRO & TEXTO SOBRE O FESTIVAL
5 de setembro de 2017

(Paulo Sabino — Foto: Rogério von Krüger)

(Com Gilberto Gil ao fundo — Foto: Karina Zambrana)

(Com Gilberto Gil ao fundo — Foto: Karina Zambrana)

(Foto: Karina Zambrana)

(Foto: Luis Turiba)

(Foto: Luis Turiba)

(Céu — Foto: Rogério von Krüger)

(Foto: Rogério von Krüger)

(Fernanda Takai — Foto: Rogério von Krüger)

(Pato Fu — Foto: Rogério von Krüger)

(Pedro Luís — Foto: Rogério von Krüger)

(Foto: Rogério von Krüger)

(Tom Zé, sua banda e equipe do festival — Foto: Karina Zambrana)

(Tom Zé, a banda e o público de 3 mil pessoas)
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Imagine-se subindo ao palco de um festival de música para dizer poesia para uma platéia de 3 mil pessoas e ver, lá de cima, as 3 mil pessoas comprando o seu barulho… Gente, é lindo demais, meu coração realmente não contenta! Brasília, te amo! Obrigadíssimo por tudo! Por cada olhar, por cada abraço, por cada aperto de mão, por cada palavra de felicitação, por cada pergunta a respeito do meu trabalho com a literatura. Isso me abastece de ânimo e coragem pra persistir e prosseguir neste caminho que venho trilhando. Sim, não é só a “carcaça” do poeta que brilha com a purpurina, a alma também!

Tantas lindas lembranças eu trago comigo, momentos mágicos, de muita beleza, que não fugirão de mim. Valeu demais, Brasília! 2 dias lindos pra este poeta que deseja apenas dividir as coisas que realmente importam na sua vida. Valeu, Rio de Janeiro! Valeu, “Festival CCBB Quanto mais Tropicália, melhor”! Valeu, Monica Ramalho! Valeu, equipe Baluarte Cultura! Valeu, Tom Zé, mestre dos mestres! Valeu, Pato Fu! Valeu, Céu! Valeu, Pedro Luís e A Parede! Valeu, público, que me mostrou que poesia dá pé, sim! Valeu, Poesia, minha Musa maior! Eu quero mais! Eu quero sempre!

(É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte.)

Aos interessados, o roteiro e os poemas das noites do festival.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(roteiro das noites do Festival CCBB Quanto Mais Tropicália, Melhor. datas e locais: 18 e 19/08 — Rio de Janeiro; 02 e 03/09 — Brasília. artistas: Pato Fu, Céu, Pedro Luís e A Parede e Tom Zé. roteiro e seleção de textos: Paulo Sabino. autores dos textos: Rogério Duarte e Alberto Pucheu.)

 

 

O meu boa noite a todos. Pra quem não me conhece, me chamo Paulo Sabino, sou poeta e farei às honras de mestre de cerimônias do festival.
 
Lerei pra vocês um texto do designer gráfico, escritor, músico e um dos pensadores e criadores da Tropicália, Rogério Duarte, publicado na contracapa do disco tropicalista de Gilberto Gil, de 1968, onde, na capa, o Gil veste o fardão dos membros da Academia Brasileira de Letras.

 

TEXTO DE GILBERTO GIL PSICOGRAFADO POR ROGÉRIO DUARTE

Eu sempre estive nu. Na Academia de Acordeão Regina tocando La Cumparsita, eu estava nu. Eu só sabia que estava nu, e ao lado ficava o camarim cheio de roupas coloridas, roupas de astronauta, pirata, guerrilheiro. E eu, do mais pobre da minha nudez, queria vestir todas. Todas, para não trair minha nudez. Mas eles gostam de uniformes, admitiriam até a minha nudez, contanto que depois pudessem me esfolar e estender a minha pele no meio da praça como se fosse uma bandeira, um guarda-chuva. Mas não há guarda-chuva contra o amor, contra os Beatles, contra os Mutantes. Não há guarda-chuva contra Caetano Veloso, Guilherme Araújo, Rogério Duarte, Rogério Duprat, Dirceu, Torquato Neto, Gilberto Gil, contra o câncer, contra a nudez. Eu sempre estive nu. Com o fardão da Academia, eu estava nu. Minha nudez Raios X varava os zuartes, as camisas listradas. E esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa eu vou pro samba que você me convidou? Qual a fantasia que eles vão me pedir que eu vista para tolerar meu corpo nu? Vou andar até explodir colorido. O negro é a soma de todas as cores. A nudez é a soma de todas as roupas.

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Agora lerei um poema pra vocês, de um poeta lá do Rio, chamado Alberto Pucheu, poema que adoro ler porque serve muito como metáfora à vida. Porque, assim como acontece no mar, na vida há momentos em que estamos surfando na crista da onda dos acontecimentos, e outros em que tomamos um verdadeiro caldo, um verdadeiro caixote, uma verdadeira vaca, dos acontecimentos. E nesses momentos de turbulência, é preciso calma e paciência para não afogar e morrer na praia. E eu acho que o Brasil e o mundo atravessam, hoje, um momento histórico de caldos e turbulências. Por isso, este poema é dedicado a todos nós, brasileiros e residentes do Brasil, como um sopro de ânimo e resistência a este momento que atravessamos.

 

É PRECISO APRENDER A FICAR SUBMERSO – ALBERTO PUCHEU

 

É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo. É preciso aprender.
Há dias de sol por cima da prancha,
há outros, em que tudo é caixote, vaca,
caldo. É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a persistir, a não desistir, é preciso,
é preciso aprender a ficar submerso,
é preciso aprender a ficar lá embaixo,
no círculo sem luz, no furacão de água
que o arremessa ainda mais para baixo,
onde estão os desafiadores dos limites
humanos. É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, a persistir, a não desistir,
a não achar que o pulmão vai estourar,
a não achar que o estômago vai estourar,
que as veias salgadas como charque
vão estourar, que um coral vai estourar
os miolos – os seus miolos –, que você
nunca mais verá o sol por cima da água.
É preciso aprender a ficar submerso, a não
falar, a não gritar, a não querer gritar
quando a areia cuspir navalhas em seu rosto,
quando a rocha soltar britadeiras
em sua cabeça, quando seu corpo
se retorcer feito meia em máquina de lavar,
é preciso ser duro, é preciso aguentar,
é preciso persistir, é preciso não desistir.
É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a aguentar, é preciso aguentar
esperar, é preciso aguentar esperar
até se esquecer do tempo, até se esquecer
do que se espera, até se esquecer da espera,
é preciso aguentar ficar submerso
até se esquecer de que está aguentando,
é preciso aguentar ficar submerso
até que o voluntarioso vulcão de água
arremesse você de volta para fora dele.

É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de Temer a morte***

 

(***Citação de Divino-maravilhoso, parceria de Caetano Veloso e Gilberto Gil.)

O POETA & O RINOCERONTE
18 de abril de 2011

o rinoceronte — bicho grande, forte, imponente, e: exato. exato em suas linhas, exato em suas formas, exato em suas funções.

o poeta, ao contrário do rinoceronte — inexato, com os seus sobejos & sua escassez, com o seu corpo perdido pelos cantos das palavras alojadas. ainda que precário, ainda que inexato, o vate pode apropriar-se da voz anginosa do rinoceronte. pode, exatamente por sua indefinição, também ser definido: rinoceronte. o poeta consegue suas formas pela multidão exatamente por sua posição disforme; ele pode ser tudo por ser exatamente: nada (ou quase).

o corpo do poeta: disforme, angaria faltas & excessos por onde anda — um guindaste se apropria do sexo do poeta, o chifre lhe cresce pelo nariz, o queixo começa a se empinar, o bardo guincha o que nunca escutou: a voz do rinoceronte.

o poeta & a sua voz — que é a poesia — podem transfigurar-se em tudo & qualquer coisa.

na voz do poema cabem quaisquer vozes, inclusive a voz anginosa, voz dolorosa, de um rinocerante.

(salve a arte poética!)

beijo todos!
paulo sabino.
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(extraído do blog: Acontecimentos / http://antoniocicero.blogspot.com. blog de: Antonio Cicero. autor da poesia: Alberto Pucheu.)

(poesia contida no livro: A fronteira desguarnecida — poesia reunida 1993 – 2007. editora: Azougue.)

 

POEMA UNGULADO Nº 2

Nenhuma gordura empanturra o corpo
do rinoceronte, varando suas cercas.
Nenhum couro escorrega em torno
da carne. Nenhuma dúvida quanto
a seu peso, quanto à coragem
ou a sua tranqüilidade. A armadura
talhada nos músculos, os chifres,
o rabo espanando qualquer súplica.
Olhos para ver. Boca para comer.
Patas para pisar. Orelhas para ouvir.
O corpo… na medida exata do corpo.
E o meu, tão distante, perdido pela multidão, pelos cantos das
palavras alojadas, angaria faltas e excessos por onde anda: um
guindaste se apropria de meu sexo, o combustível escasso para mais
alguns quilômetros, o chifre crescendo pelo nariz. Quando o queixo
começa a se empinar, guincho o que nunca escutei: a voz anginosa
do rinoceronte.

AVISO AOS NAVEGANTES — COLEÇÃO “CIRANDA DA POESIA”
22 de dezembro de 2010

senhores,

o querido professor & poeta italo moriconi, atualmente editor executivo da EdUERJ (editora da universidade do estado do rio de janeiro), organizou a belíssima (e necessária) coleção “ciranda da poesia”. a coleção consiste em sete volumes, todos sobre crítica de poesia contemporânea. sete grandes poetas são analisados por sete grandes profissionais da área literária — poetas e/ou críticos.

como se não bastasse o conteúdo, riquíssimo, em cada livro existe uma antologia organizada por quem escreve o ensaio.

portanto, além de toda a informação sobre a obra do poeta, há alguns poemas que servem de base também ao leitor, para que este possa acompanhar mais de perto o que dizem as linhas críticas. isso é um grande ganho!

compõem a coleção os seguintes títulos:

ANTONIO CICERO
por Alberto Pucheu
;

CARLITO AZEVEDO
por Susana Scramim
;

CHACAL
por Fernanda Medeiros
;

CLAUDIA ROQUETTE-PINTO
por Paulo Henriques Britto
;

GUILHERME ZARVOS
por Renato Rezende
;

LEONARDO FRÓES
por Angela Melim
;

SEBASTIÃO UCHOA LEITE
por Franklin Alves Dassie
;
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recomendo a leitura de toda a coleção com muito gosto!

àqueles que se interessarem em obtê-la, ou em obter alguns livros, deixo, logo abaixo, os contatos da EdUERJ:

telefones: (55) 21 2334-0720 / 2334-0721

e-mails: eduerj@uerj.br / eduerj@gmail.com

site: www.eduerj.uerj.br
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fica a super dica, prezados!

beijo nocês tudo!
paulo sabino / paulinho.