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diz o empirista, afirma o racionalista, anuncia o ser sem metafísica:
“a vida está aqui! a vida é só isso!”
“lá há vida além disso, além da nossa experiência mundana?!”
“a vida é a presente! a vida é a vida tida aqui, entre os homens!”
“a vida é a visível, é a que tocamos, apalpamos, alcançamos! a vida é a dos pés no chão, firmes na terra!”
“pois a vida é o vivo dizer: vida!, agora, neste instante, já que a vida é a hora, é o tempo que nos perpassa, e a vida é o motivo, é a razão de ser de qualquer coisa que nos diga respeito!”
“a vida é a de cá, é a do solo mundano, é a das experiências terrenas, e não a de ‘lá’, a suposta vida que fica para além das nuvens! a vida está aquém & não além!”
eu sigo à risca o que diz o empirista, o que afirma o racionalista, o que anuncia o ser sem metafísica: a vida é o que podemos ter. se estamos aqui, num mundo material, isto é, num mundo de materialidades (a pedra, o mato, o bicho, a nuvem), é aqui o que temos para viver. o que está ao nosso alcance, o que está à nossa disposição, é a vida que se nos apresenta, todos os dias, aos nossos olhos, boca, narinas & orelhas.
a vida que importa é a vida que podemos provar, tocar & sentir, nenhuma outra.
sabemos o que é vida graças a esta vida mundana. e ponto.
porém, ainda que o mais importante, para nós, seja viver a vida terrena, mundana, não podemos afirmar categoricamente que a existência se resume estritamente às nossas vivências.
temos que, humildemente, aceitar esta ignorância atávica que nos persegue & rege, dada a nossa dimensão — mínima, irrelevante — frente à grandiosidade do universo.
podemos afirmar que viver o agora, o já, o instante presente, sem contar com a “chance”, com a “possibilidade”, de uma outra vida, é a melhor maneira de viver. só não podemos afirmar categoricamente que toda a existência se resume a isso.
somos muito pouco para saber: pensando por essa ótica, no fundo, todos nós, dada a ignorância atávica que nos persegue & rege frente à grandiosidade do universo, todos nós: metafísicos anônimos, os mais variados, caminhantes desconhecidos, perdidos em meio à multidão.
ainda que não sejamos metafísicos, mesmo sendo “viver o hoje, o agora, o já, crendo que não haja nada mais além da existência mundana/material” a grande tônica, o grande lema, do caminho que vamos traçando, todos nós: metafísicos anônimos quando a noite, quando a escuridão, quando a falta de clareza, nos enfrenta.
(isso soa como uma provocação. e é – rs.)
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: A chama inextinguível. autor: Alexei Bueno. editora: Nova Fronteira.)
OS METAFÍSICOS ANÔNIMOS
“A vida está aqui!
A vida é só isso!
Lá há vida além disso?!
A vida, ei-la aí!
É a vida, isso é a vida!
É a vida aí na frente!
A vida é a presente!
A vida é a aqui tida!
Tal vida é a que amamos!
É a vida que é viva!
É a vida aí cativa!
É a vida que odiamos!
É a vida visível!
É a vida dos pés!
É a vida e os cafés
Que é a vida vivível!
Pois a vida é o vivo
Dizer: vida!, agora,
Já que a vida é a hora
E a vida é o motivo!
A vida é a de cá!
A vida está aquém!
A vida é, não vem!
A vida é ela e já!”
E assim ele tenta
Na rua mais física
Ser sem metafísica,
Mas a noite o enfrenta.