EUROPA & ÁFRICA: RELAÇÕES
21 de julho de 2014

Mapa_África & Europa

 

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esta publicação atira numa questão muito relevante, numa questão que tem a ver com o que se discute, hoje, sobre misturas de culturas & etnias.

como já comprovam alguns estudos, a troca entre a áfrica & a grécia antigas, troca cultural, comercial, ocorria de forma intensa desde tempos imemoriais.

tal relação de permuta entre essas culturas, certamente, criava, ajudava a criar, as identidades culturais de ambos os lados.

quando a europa — e o seu cientificismo do século XIX — se apropria de preceitos originários da antigüidade clássica, da grécia antiga, para a edificação de suas “sociedades civilizadas”, de suas sociedades “geneticamente superiores” às demais, a europa dos tempos modernos escamoteia, encobre, esconde, sistematicamente, toda a influência da cultura africana na cultura grega.

segundo o professor de história antiga do instituto de filosofia e ciências sociais (ifcs) da universidade federal do rio de janeiro (ufrj), andré chevitarese, um grande especialista em grécia antiga, a tradução mais fiel para as características de édipo, para o seu biotipo, célebre personagem da tragédia grega “édipo rei”, escrita pelo dramaturgo grego sófocles por volta de 427 a.C., é a de um homem “amorenado”, queimado pelo sol, com um tom de pele mais escuro, e não a do herói de “cútis alva como a neve”, como traduziram maliciosamente os europeus em suas versões para a peça original.

as trocas entre culturas, entre sociedades, por mais que alguns tentem negar, acontecem desde que o mundo é mundo.

inclusive, sabe-se já que, durante um período da história da humanidade, o norte da áfrica foi muito mais desenvolvido do que qualquer sociedade européia à época, concentrando cidades populosas, grandes obras públicas & feitos importantes nas áreas das ciências & das artes.

há claros indícios, em estudos sobre a américa pré-colombiana, de que os nossos índios, muitos localizados na região de minas gerais, mantinham trocas comerciais, culturais, e até científicas (sobre modos de preparo da terra, para o plantio, e também  sobre o cultivo do milho) com os índios que vinham do méxico(!). o intercâmbio que na américa ocorria, entre os residentes pré-colombianos, ia do leste ao oeste (do atlântico ao pacífico) & do norte ao sul.

o reggae maranhense é fruto das trocas culturais com o caribe, trocas que, segundo pesquisadores, existiam desde antes da chegada de colombo às terras americanas.

“cultura pura”, “cultura genuína”, “cultura de raiz”, são termos que não servem para muita coisa; na verdade, creio que não sirvam para nada. pois nada pode ser “genuinamente puro”, “intocado”, “virgem”, “de raiz”, feito, surgido, sob influência nenhuma. não existe um fundo próprio das coisas; na verdade, o fundo, sempre, é falso.

cultura que se deseja viva tem que viver a vida. e viver a vida significa estar inserido nela. o que se nega a trocar, a compartilhar, uma hora, é esquecido. e morre.

ser é visível, ser é estar à vista.

o que faz a vida é a troca. os brancos ensinaram, e ensinam, aos pretos tanto quanto os pretos ensinaram, e ensinam, aos brancos. em pé de igualdade.

isso só prova que o racismo se trata de uma grande burrice, isso só prova que o racismo se trata de uma grande estupidez.

misturar, mesclar, miscigenar: eis a única maneira de criar, eis a única maneira de gerar, eis a única maneira de inventar, coisas no mundo.

(próprio da beleza é o aparecer.)

beijo todos!
paulo sabino.
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(do: Dicionário da antiguidade africana. autor: Nei Lopes. editora: Civilização Brasileira.)

 

 

EUROPA E ÁFRICA: relações. À época da VI dinastia egípcia, por volta do século XX a.C., tempo em que, segundo Anta Diop, a Europa inteira não passava de um continente selvagem, em que Paris e Londres não eram mais que grandes extensões pantanosas, e Roma e Atenas dois lugares desertos, a África contava já, no vale do Nilo, com uma pujante civilização, onde pulsavam cidades populosas; onde o paciente esforço de várias gerações trabalhava o solo e erguia grandes obras públicas; onde as ciências e as artes alcançavam alturas insuspeitas, e onde, inclusive, a fé já havia criado deuses e deusas por muito tempo venerados (cf. Diop, 1979, vol. I, p. 231, nota I, a partir de J. Weulersse, 1934, p. 11). Nesse tempo, as rotas comerciais do vale do Nilo incluíam um ramo que começava no litoral egípcio, estendia-se para o oeste através do Mediterrâneo, e para o norte, ao longo do litoral da Europa ocidental, no mar Báltico, do qual os africanos extraíam âmbar. Segundo Don Luke, essa rota chegava às Ilhas Britânicas e à Escandinávia. Ver CÓLQUIDOS; ROTAS DE COMÉRCIO.

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(do livro: Céu em Cima / Mar Em baixo. autor: Alex Varella. editora: Topbooks.)

 

 

NEGRA GREGA

Negra negra

grega grega

de palavras & mercancias

no Porto das Palavras

de Alexandria

beleza é o ser visível

ser é visível

negra grega

da África Clássica

próprio da beleza é o aparecer