queridos,
abaixo, um poema que amo, que acho a minha cara, feito sob medida (rs).
poema que aponta para este lindo e decidido verso de vinicius de moraes: meu tempo é quando, não medido (apenas) por relógio, por tempo aprisionado em caixas digitais; não mesmo. tempo, o que é meu, muito mais medido pelo pulsar do peito, o tempo do pulso, o batimento sempre à frente, angariando todo resto, compulsivo.
como nos versos de um poema-canção integrante do novo trabalho da cantora e compositora céu, trabalho intitulado vagarosa:
olho aberto
papo reto
o peito como bússola
(“bubuia”, parceria de céu, anelis assumpção e thalma de freitas)
meu espaço: o dia-a-dia nosso de cada dia, conduzido, quer pelos pássaros de mar e montanha, quer pelo tráfego que me traga às avenidas desta nossa avenida brasil. nos percursos: olhos voltados para o belo, para a festa, e também para a fome feia, a fome desamparada, a fome que sustenta a bomba de tempo que almejo ver, um dia, desarmada.
seguem as linhas com o desejo de um ótimo dia, de uma boa vida para todos nós (sem os nós desnecessários, nós que amarram, que impedem, que atravancam).
cuidemos das delicadezas.
beijo grande!
o preto.
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(poema extraído do livro Toda Poesia – Ferreira Gullar, editora José Olympio)
MINHA MEDIDA
Meu espaço é o dia
de braços abertos
tocando a fímbria de uma e outra noite
o dia
que gira
colado ao planeta
e que sustenta numa das mãos a aurora
e na outra
um crepúsculo de Buenos Aires
Meu espaço, cara,
é o dia terrestre
quer o conduzam os pássaros do mar
ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil
o dia
medido mais pelo pulso
do que
pelo meu relógio de pulso
Meu espaço — desmedido —
é o nosso pessoal aí, é nossa
gente,
de braços abertos tocando a fímbria
de uma e outra fome,
o povo, cara,
que numa das mãos sustenta a festa
e na outra
uma bomba de tempo