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na noite acesa de um luar certeiro, de um luar altaneiro, o paradeiro do poeta foi a velha mesa de onde foi presa, de onde foi a caça, quando aventureiro do primeiro amor que lhe deu tristeza.
de uma beleza de não ter parceiro, de uma beleza sem par, beleza ímpar, única, o candeeiro branco da princesa (candeeiro: no brasil colonial, chapéu de três pontas, também chamado tricórnio) causou surpresa, espanto, pasmo, ao poeta violeiro, que se deu inteiramente à boniteza da princesa & seu candeeiro branco.
sendo, o poeta, cavaleiro de sua princesa, alteza do seu reino amoroso, o poeta pôs, no tinteiro, a pena com firmeza, e, com presteza, foi o mensageiro de sua alteza, que é o seu amor.
findo, com delicadeza, o roteiro em versos, o poeta deixa, na velha mesa (de onde foi a presa, de onde foi a caça), um verso brasileiro que, no fim das contas, resulta em homenagem ao cancioneiro & à língua portuguesa.
pois, ainda que o poeta desejasse secreta a sua paixão por sua alteza, paixão nenhuma nunca foi secreta.
paixão nenhuma nunca foi secreta: tem sempre um rastro, um rabo, um indício, que vai ser achado. por mais oculta que ela tenha estado, nasce uma luz quando a paixão se projeta.
paixão nenhuma nunca foi secreta: no tronco velho da árvore, um coração cavado; dentro dele, a ponta de uma seta. um simples nome escrito ali, dentro ou próximo ao coração, completa o antigo indício de um apaixonado.
paixão nenhuma nunca foi secreta: tem sempre um rastro, um rabo, um indício, que vai ser achado. por mais que a alma queira ser discreta, o coração quer ser desmascarado: a luz da paixão, do amor, confunde o peito iluminado, iluminado pela luz de um candeeiro, pela luz de um lampião, que vai dentro.
o amor não deixa vida alguma quieta, sossegada: há sempre um arroubo, um desvario, um disparate, a ser cometido.
para o amor não há muitas escolhas: ou morre dele quem ficar calado, abafando-o, sufocando-o, reprimindo-o, ou vive dele quem virar poeta, confessando-o, declarando-o, louvando-o, em versos.
(paulo sabino escolheu viver dele.)
beijo todos!
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(do livro: Sonetos sentimentais pra violão e orquestra. autor: Paulo César Pinheiro. editora: 7Letras.)
PARADEIRO
Na noite acesa
De um luar certeiro
Meu paradeiro
Foi a velha mesa
De onde fui presa
Quando aventureiro
Do amor primeiro
Que me deu tristeza.
De uma beleza
De não ter parceiro
O candeeiro
Branco da Princesa
Causou surpresa
A esse violeiro
Que deu-se inteiro
À sua boniteza.
De Sua Alteza
Sendo cavaleiro
Pus no tinteiro
A pena com firmeza
E com presteza
Fui seu mensageiro.
Findo o roteiro
E com delicadeza
Deixo na mesa
Um verso brasileiro
Ao Cancioneiro
E à Língua Portuguesa.
INDÍCIO
No tronco velho um coração cavado
E dentro dele a ponta de uma seta.
Um simples nome escrito ali completa
O antigo indício de um apaixonado.
Paixão nenhuma nunca foi secreta.
Tem sempre um rastro que vai ser achado.
Por mais oculta que ela tenha estado
Nasce uma luz quando ela se projeta.
A luz confunde o peito iluminado.
Por mais que a alma queira ser discreta
O coração quer ser desmascarado.
O amor não deixa vida alguma quieta.
Ou morre dele quem ficar calado
Ou vive dele quem virar poeta.