RIO
19 de janeiro de 2012

 
(Rio de Janeiro, de Fevereiro, de Março, Rio de todos os meses: uma alegria pra sempre.)
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dia 20 de janeiro: dia de são sebastião, padroeiro da cidade do rio de janeiro.
 
o rio é basicamente o mar.
 
a cidade constituiu-se toda à beira-mar.
 
zona sul, zona oeste, centro, zona norte: aonde quer que se vá, o mar como companheiro de navegação.
 
o rio é basicamente o mar & amor. o rio é basicamente amor ao mar.
 
o mar & amor, amor & o mar: a palavra “amor” abriga “o mar” dentro de si, abriga o mar que abriga o rio.
 
atlanticamente amar, e ir a mar de modo atlântico…
 
o rio é basicamente o riso. alegria de morar nesta cidade.
 
eu rio pelo rio.
 
humor & amor, amor & humor: o rolar das ondas, o rolar do rio, o rolar do riso.
 
paisagens do meu delírio, paisagens em que me afogo: a baía & sua esfinge de açúcar em pedra:
 
água na boca é a guanabara. 
 
o arpoador & sua pedraria: jóia rara, linda, pedraria mais que preciosa, muitíssimo bem localizada para que se assista ao espetáculo, todo fim de tarde, da derrocada do sol águabaixo, de ângulo privilegiado. 
 
pelas curvas desse rio-paisagens, rio exuberante de belezas naturais, belezas que, de tão belas, quase arrombam a retina de quem vê, ninguém vai morrer de frio, porque, se frio houver nas curvas desse rio, é só se espriguiçar no sol que sai detrás do mar.
 
sol & céu & mar & pedras & florestas: assim o é o rio de janeiro, assim o é o rio de fevereiro, o rio de março, o rio de todos os meses do ano:
 
uma alegria na minha vida, um alarido de cores no meu coração!
 
salve a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil!
 
beijo todos!
paulo sabino.
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(do livro: Belvedere [1971 – 2007]. autor: Chacal. editoras: 7Letras / Cosac & Naify.)
 
 
 
RIO
 
 
o rio é basicamente o mar
o mar e o amor
amor e mar
atlânticamente amar
 
o rio é basicamente o riso
humor amor
amor humor
para rolar de rir
 
água na boca é a guanabara
e o arpoador é jóia rara
 
pelas curvas desse rio
ninguém vai morrer de frio
porque é só se espreguiçar
no sol que sai detrás do mar

AVISO AOS NAVEGANTES — COLEÇÃO “CIRANDA DA POESIA”
22 de dezembro de 2010

senhores,

o querido professor & poeta italo moriconi, atualmente editor executivo da EdUERJ (editora da universidade do estado do rio de janeiro), organizou a belíssima (e necessária) coleção “ciranda da poesia”. a coleção consiste em sete volumes, todos sobre crítica de poesia contemporânea. sete grandes poetas são analisados por sete grandes profissionais da área literária — poetas e/ou críticos.

como se não bastasse o conteúdo, riquíssimo, em cada livro existe uma antologia organizada por quem escreve o ensaio.

portanto, além de toda a informação sobre a obra do poeta, há alguns poemas que servem de base também ao leitor, para que este possa acompanhar mais de perto o que dizem as linhas críticas. isso é um grande ganho!

compõem a coleção os seguintes títulos:

ANTONIO CICERO
por Alberto Pucheu
;

CARLITO AZEVEDO
por Susana Scramim
;

CHACAL
por Fernanda Medeiros
;

CLAUDIA ROQUETTE-PINTO
por Paulo Henriques Britto
;

GUILHERME ZARVOS
por Renato Rezende
;

LEONARDO FRÓES
por Angela Melim
;

SEBASTIÃO UCHOA LEITE
por Franklin Alves Dassie
;
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recomendo a leitura de toda a coleção com muito gosto!

àqueles que se interessarem em obtê-la, ou em obter alguns livros, deixo, logo abaixo, os contatos da EdUERJ:

telefones: (55) 21 2334-0720 / 2334-0721

e-mails: eduerj@uerj.br / eduerj@gmail.com

site: www.eduerj.uerj.br
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fica a super dica, prezados!

beijo nocês tudo!
paulo sabino / paulinho.

O PÃO NOSSO
27 de setembro de 2010

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que bicho é esse, que guarda a baía como um cão?
 
que esfinge é essa, que atormenta os navegantes com os seus enigmas?
 
que nume é esse, que deidade é essa, com nome de doce e cara de cão?
 
que morro é esse, que viu sebastião guerrear?
 
que granito é esse, que mira e é mirado com mil “câmeras-olho”?
 
que acidente é esse, que a geografia nos brindou sem cerimônia ou discurso?
 
que pedra é essa que fia, com seus bondinhos, partituras de sol a sol?
 
(que coisa?, que rocha?, que penhasco?, que penedo?, que camelo?)
 
que pérola é essa que quem vê, pára e ora convertido?:
 
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia
 
(oswald de andrade, “escapulário”)
 
que postal é esse, que qualquer mão desenha?
 
que bicho é esse enigma, vestido de pedra e sal?
 
que musa é essa, compactada em milênios de admiração?
 
abaixo,
 
a minha singela homenagem a esse pão, pão que é mais música do que pedra, que é mais pedra do que açúcar, pão que, todos os dias, com o mesmo gosto e a mesma vontade, saboreio e devoro com os lábios (insaciáveis) da retina, lábios que sempre pedem mais um pedaço-regalo dessa iguaria rochosa.
 
assim sigo, alimentando, além do estômago, os olhos, tendo, obrigatoriamente na dieta das retinas, fatias generosas de beleza.
 
(estas fatias fazem um bem danado ao corpo do espírito, ao organismo da alma.) 
 
beijo em todos!
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Belvedere [1971 – 2007]. autor: Chacal. editoras: 7Letras / Cosac & Naify.)
 
 
O PÃO NOSSO
 
que bicho é esse que guarda a baía como um cão?
que esfinge é essa que atormenta os navegantes com
                                      [suas adivinhas:
quem amanhece verde e rosa? quem vai dormir sob aplausos?
que pedra é essa que fia com seus bondinhos
                                      [partituras de sol a sol?
que morro é esse que viu sebastião guerrear?
que navio é esse que espera paciente se lançar ao mar?
que granito é esse que mira e é mirado com mil
                                      [câmeras-olho?
que acidente é esse que a geografia nos brindou sem
                                      [cerimônia ou discurso?
que ponto é esse que invade o atlântico na ponta dos
                                      [pés?
que pop star é esse que encarna uma cidade sem
                                      [piscar?
que postal é esse que qualquer mão desenha?
que coisa é essa que sentada no tempo nos decora o
                                      [espaço?
que rocha é essa sem peso deitada sobre a urca
                                      [delicada?
que penedo é esse que partiu essa cidade sur la mer?
que camelo é esse que escova com as corcovas as
                                      [cáries do céu?
que musa é essa compactada em milênios de
                                      [admiração?
que mina é essa que tem ouro a seus pés?
que pico é esse que transtorna os navios e enlouquece
                                      [turistas?
que nume é esse com nome doce e cara de cão? 
que cume é esse que zimbra sobre a cidade sua
                                      [batucada?
que penhasco é esse que zurze impiedoso franceses
                                      [fantasmas?
que pão é esse mais música que pedra, mais pedra que
                                      [açúcar?
que pérola é essa que quem vê, pára e ora convertido?
que peixe é esse isca irresistível a atrair traíras?
que música é essa filigrana satie?
que tela é essa desenho de klee?
que imagem é essa viagem, miragem, pura visagem?
que bicho é esse enigma vestido de pedra e sal?

OBSESSÃO
12 de junho de 2010

obsessão:
 
compulsão mania atração fixação motivação.
 
obsessão:
 
a doença no homem.
 
no artista, a saúde.
 
(os temas & assuntos & acontecimentos nas peças de nelson rodrigues, os temas & assuntos & situações nos filmes de woody allen & pedro almodóvar, os traços de picasso, os paradoxos em pessoa, a secura & exatidão nos versos de cabral, a porra-louquice lúcida de waly, o suingue nas músicas de benjor, o esmero nos efeitos poéticos das letras de chico buarque, a precisão das notas na voz & no violão de joão gilberto:
 
a tudo isso: obsessão.)
 
ali a ilha nesse mar tão desmedido, ali a luz no escuro inexpressivo: obsessão diária, renitente, recorrente (minha).
 
 
(a obsessão dos poetas: por mais viciantes o cigarro, o sexo, o álcool, viciam, ainda mais: as palavras.)
 
 
beijo bom & carinhoso em vocês,
paulo sabino / paulinho.
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(do livro: Belvedere [1971-2007]. autor: Chacal. editora: 7Letras / Cosac Nairfy.)
 
 
OBSESSÃO
 
ali a linha
que atravessa
o labirinto
ali o fio
da meada
interminável
 
obsessão
 
(toda peça
— adultérios, incestos, tabus —
a mesma peça
em nelson
todo poema a mesma pancada
em cabral
toda canção a mesma levada
em benjor)
 
obsessão
 
o cara só pensa nisso
a mina não entra em outra
 
obsessão
 
ali a ilha
nesse mar
tão desmedido
ali a luz
no escuro
inexpressivo
 
obsessão