(Há pouco tempo, indo votar — ela, já desobrigada.)
(A figa, antes do meu pai, agora minha.)
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“PAULO SABINO, meu irmão,
Que lindo o seu poema para a ‘nossa mãe’! Desejo para a ‘CABOCLA JUREMA’ uma longa e boa vida, alegria e… Axé! Muito Axé! Com abraços, MARTINHO DA VILA.”
(Martinho da Vila — cantor & compositor)
Que alegria! Vê-la completar o seu septuagésimo quarto ano novo (74) lúcida, recém-recuperada de um problema no cérebro.
Em junho, há exatos 4 meses, me perguntava como seria este dia para ela & para mim, com o medo de que ela ainda estivesse doente.
Escrevi o texto que segue em itálico para amigos bem no início do mês de julho:
Queridos & Queridas,
Há quase 2 meses, a minha mãe, peça fundamental da minha existência, a grande responsável pelo meu amor à literatura e, mais especificamente, à poesia, a minha cabocla Jurema Armond, não anda bem da saúde.
Estamos na luta para diagnosticar o que, há quase 2 meses, vem causando nela uma fraqueza grande nas pernas & nos braços (precisa de ajuda para absolutamente tudo: para levantar, sentar, deitar, comer, tomar banho) & uns desnorteios de tempo & espaço (agora há pouco tive que consolá-la, ela estava aos prantos, desejando chegar em casa, chegar no lugar de onde ela não sai há quase 2 meses, não contando as saídas para consultas médicas & exames).
Tem sido bem difícil para mim. Sou filho único, meu pai já não está mais entre nós, e sou eu só a tomar as decisões sobre a saúde da minha cabocla, a gerir a casa & as contas. Cansaço emocional & físico imensos.
Hoje, procurando travessas & potes aqui em casa, a fim de organizar a cozinha para a pessoa que me ajudará com a casa duas vezes na semana, me deparei com esta figa de madeira do meu pai, de cuja existência nem mais me lembrava. Chorei tanto ao vê-la, ao tocá-la, tudo tão simbólico neste momento — encontrar na estante da sala uma figa, e que era do meu pai, de quem, pela sensibilidade & humor ímpar, sinto tanta falta, inda mais num momento como este…
Agora ela está na minha mesa de trabalho, acompanhada das minhas outras pequenas preciosidades. Está, na mesa, exatamente de frente para mim.
Tomara que esta figa, antes do meu pai, agora minha, me traga a sorte & o axé necessários na melhoria desta situação.
E conto com as preces & orações & energia positiva de quem acredita em preces & orações & energia positiva. Incluam a minha cabocla Jurema Armond em seus pedidos de saúde & recuperação. Torçam comigo.
E vamos que vamos. A vida urge, o tempo não pára.
Depois de muitos medos, muitas incertezas, muitas dificuldades, muitas lágrimas, e muitos exames, no início de agosto conseguimos o diagnóstico & desde então ela só faz melhorar.
O poema que segue, eu o escrevi para ela há muitos anos. Mais do que nunca, faz todo o sentido publicá-lo hoje, 19 de outubro, em homenagem à minha cabocla.
Mais do que nunca, depois deste mau tempo que atravessamos, o sol da saúde desponta com a sua luz & o seu calor, mostrando-nos que a vida renova-se a cada instante, que, por isso, a vida é uma eterna estréia. Nunca sabemos que momento da trama nos aguarda no próximo capítulo; o script/roteiro é escrito no decorrer de cada cena. Com isso, o amor também faz-se & refaz-se a cada vivência nossa.
Mãe, depois de tanto, depois de tudo, eu só posso desejar que o céu aberto de dias azuis permaneça límpido, sem mudanças tão bruscas.
Mãe, depois de tanto, depois de tudo, a conclusão de que, aqui, o amor existe — firme, forte, em riste.
Graças!
Feliz aniversário! Feliz 74 primaveras vencidas!
Beijo todos & especialmente a minha cabocla Jurema Armond!
Paulo Sabino.
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(autor: Paulo Sabino.)
ESTRÉIA
te escrevo porque
te mereço,
porque és diva,
a dama divina
— mulher maravilha
da minha ilha
cercada de carinhos
por todos os lados —.
todos os cafunés, todas as lágrimas e desabafos
é onde me acabo em ti.
por ti meu riso ri,
por isso minha prece,
minha missa.
minha oração se aquece
em teus escaninhos, teus desalinhos, teus achados.
assim é que te amasso,
te acho,
te cato.
porque humana sem desacato.
eu te amo e é outra estréia,
sem vida histérica,
sem amor estéril.
pelo contrário, é amor de império,
o carinho sem enterro e cemitério,
a poesia livre de impropério.
és o meu hemisfério,
o meu norte,
os versos sem corte.
eu te amo e não há miséria,
há beleza, há estética
— revelação, reverberação
que insiste
em mostrar ao mundo triste
que, aqui, o amor existe:
firme
forte
em riste —.