TRIBUTO AOS CAMALEÕES — PEDRO BIAL, CLAUFE RODRIGUES & LUIZ PETRY — SESC COPACABANA
13 de julho de 2018

(Paulo Sabino — o novo camaleão da noite do Rio)

(Os Camaleões — os verdadeiros: Pedro Bial, Luiz Petry e Claufe Rodrigues)

(Os Camaleões em cena)

(Na parte de cima, os Camaleões; na parte de baixo, o camaleãozinho)

(Pedro Bial e Paulo Sabino)

(Claufe Rodrigues e Paulo Sabino)

(Paulo Sabino e Luiz Petry)

(O meu exemplar de “O livro dos camaleões” devidamente autografado pelo trio camaleônico)

(A capa de “O livro dos camaleões”)
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Na matéria que o Jornal do Brasil, no seu caderno de cultura (foto), fez sobre o meu trabalho, carinhosamente a jornalista Mônica Riani, na chamada, me intitulou “o novo camaleão da noite do Rio”, numa referência direta aos Camaleões, trio de poetas, formado por Claufe Rodrigues, Pedro Bial e Luiz Petry (foto), que incendiou as noites cariocas na década de 80 com a potência e irreverência dos seus recitais. Depois de 20 anos, os Camaleões voltaram para mais uma apresentação, ocorrida na quinta-feira (12/07), às 20h30, no Sesc Copacabana.
 
Reverberando na memória e no coração a linda e divertida noite de Tributo aos Camaleões.
 
Partilhar uma coisa com vocês: quanta alegria essa relação com a poesia tem me trazido! Quantos encontros felizes, quantos momentos incríveis! São constatações que vão se tornando certezas: o palco, o teatro, a rua, a praça, a palavra escrita, a palavra falada: eis o caminho. O bom disso tudo é que, cada vez mais, tenho me sentido em casa. Valeu demais, Camaleões! O camaleãozinho aqui só faz agradecer.
 
Pra quem não sabe, os Camaleões tinham as suas personalidades camaleônicas, os seus “heterônimos”: Baby The Billy (Claufe Rodrigues), Peter Pane (Pedro Bial) e Patrick Jack, o coiote solitário (Luiz Petry).
 
De brinde a vocês, o poema do livro dos Camaleões que li na apresentação. Poema do Peter Pane.
 
Beijo todos!
Paulo Sabino.

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[de: O livro dos camaleões. autores: Pedro Bial (Peter Pane)/ Claufe Rodrigues (Baby The Billy)/ Luiz Petry (Patrick Jack). editora: Anima.]

 

 

eu poderia fazer versos que embalam
os sonhos de inocência, construir as frases
que incendeiam a adolescência, dizer palavras de
consolo aos solitários, queria me abrir em um milhão de
páginas
plenas de compreensão e doçura.
entrementes, escuto as correntes se arrastando
no andar de cima, a angústia se instala na poltrona em
frente,
as luzes de neon me parecem estranhamente lúgubres,
e a minha alegria se manifesta de uma forma diferente:
rolam lágrimas pela face do homem sentado à máquina
de escrever.

 

PETER PANE

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (12ª EDIÇÃO) — MANO MELO & CONVIDADOS
28 de abril de 2018

(Todas as fotos: Luciana Queiroz)

(A plateia que encheu o teatro Cândido Mendes de Ipanema)

(O coordenador, idealizador & produtor do projeto — Paulo Sabino)

(O ator Igor Cotrim)

(A escritora & cantora Mônica Montone)

(O poeta & jornalista Claufe Rodrigues)

(A poeta Marisa Vieira)

(O poeta & compositor Tavinho Paes)

(O poeta & jornalista Luis Turiba)

(A atriz Geovana Pires)

(O grande homenageado da noite & seu parceiro de canções — Mano Melo & Mu Chebabi)

(O grande homenageado da noite — Mano Melo)

(Participantes + homenageado)

(Paulo Sabino + Mano Melo)
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Que noite divertida!

Segunda-feira, 16 de abril, na 12ª edição da Ocupação Poética, no Teatro Cândido Mendes de Ipanema (fotos acima), o que mais se viu, no público que encheu o espaço & nos participantes, foi uma farta distribuição de sorrisos & risadas. Que maravilha! Que noite leve & lírica a homenagem ao grande poeta & ator Mano Melo!

As apresentações dos poemas foram fantásticas, os convidados arrebentaram! Saímos todos — público, homenageado & participantes — felizes da vida. Agradecer demais ao Mano pela sua poesia, que tanto inspira e comove, por fazer parte do projeto. Agradecer aos participantes, porque sem vocês não haveria a menor graça: Igor Cotrim, Luis Turiba, Mônica Montone, Claufe Rodrigues, Marisa Vieira, Tavinho Paes, Geovana Pires & Mu Chebabi.

Agradecer à nossa fotógrafa poderosa, Luciana Queiroz, os cliques maravilhosos.

Agradecer à equipe do teatro & aos administradores Adil Tiscatti & Fernanda Oliveira.

Agradecer à Belmira Comunicação a assessoria de imprensa.

Agradecer às pessoas presentes, por fazerem da noite uma noite feliz, que guardarei pra sempre na memória.

O que nos ficou deste momento, como uma espécie de lição: que, apesar dos prejuízos, nada vai apagar nossos sorrisos!

Salve Mano Melo!
Salve a sua poesia!

Aproveito para informar que temos a data da próxima edição da Ocupação Poética (a 13ª): 18 de junho. Salvem o dia! Aguardem maiores informações.

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do livro: Poemas do amor eterno. autor: Mano Melo. editora: Cangaceiro Elétrico.)

 

 

NADA VAI APAGAR MEU SORRISO

 

Podem ameaçar com as bombas e morteiros
da Marinha americana,
podem roubar meu dinheiro
e chamar os hômes pra me levar em cana.
Nem que as vacas tussam e as porcas torçam seus rabos,
nem que eu seja atacado por mil cachorros brabos,
mesmo que me acusem de tudo que é heresia
e arranquem meu dente de siso
sem anestesia,
nada vai apagar meu sorriso.

Podem ameaçar com o Armageddon
e as trombetas do Juízo Final.
Podem pintar o mar de marrom
e botar dez mil crianças assaltando no sinal,
podem parar o mundo e apagar a luz,
abrir a caixa dos pregos e me pregar na cruz,
podem rodar a baiana, podem soltar a franga,
bordar tudo mais feio que o cão chupando manga,
destruir a ferro e fogo os frutos do paraíso,
nada vai apagar meu sorriso.

Podem sujar a atmosfera
até fazer doloroso o ato de respirar.
Podem abrir a jaula e soltar a besta-fera
com sua boca horrenda para me devorar,
perfurar meus olhos com setas envenenadas
até que fiquem cegos,
me fechar no escuro junto com morcegos,
ratazanas e baratas aladas,
sem nenhum sinal ou prévio aviso,
nada vai apagar meu sorriso.
Entre os campos de batalha dessa guerra infame,
busco trocar amor com quem também me ame.
E sei que a maioria das pessoas são pessoas decentes,
gente do bem trabalhando para criar filhos
e passar sua herança de conhecimentos.
Por isso, quando o trem parece correr fora dos trilhos
e o dragão ameaça cuspir fogo pelas ventas,
eu sei que tudo na vida tem uma explicação
e que existem razões que são estranhas à própria razão.
Não importa as teias que a aranha teça,
a gente tem que se cuidar  pra não virar presa.
Se a aranha tá a fim de te jantar,
você não pode permanecer passivo.
Não apenas navegar, viver também é preciso.
Eu fico mais forte quando penso nisso:
nada vai apagar meu sorriso.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): VÍDEO (V)
9 de outubro de 2015

PS_Ocup Poet_09 Set 2015
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Eu jurei que a postagem anterior a esta seria a última sobre o projeto em questão.

Só que não.

Me veio o desejo de não deixar passar o registro deste poema que amo de paixão desde que o li pela primeira vez. O poema tem um post neste espaço. Adoro dizê-lo.

E, neste vídeo, que é, de fato, o encerramento da primeira noite da segunda edição do projeto “Ocupação Poética” (09/09), no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), eu digo o poema sem errar nada. Percebi há pouco. Isso me deixou feliz. E também me deixou feliz a introdução que faço antes da leitura. Acho que o vídeo vale a publicação.

Como escrevi, para este espaço, uma postagem bonita sobre este poema, resolvi deixá-la aqui — um repeteco — na tentativa de facilitar a absorção dos versos.

Bom, a princípio, ficamos por aqui. (Não serei tão assertivo quanto no post anterior, porque, afinal, estou eu com mais um vídeo…)

Espero que tenham se divertido com os poemas tanto quanto nós, participantes, nos divertimos realizando!

Até uma próxima edição do projeto!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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“Quando em 1500 os portugueses chegaram ao Brasil, na região de Porto Seguro, Bahia, encontraram ali um povo que falava uma língua completamente desconhecida dos europeus. Era o povo tupinaki, que falava a língua tupinambá. A maioria dos povos que viviam ao longo da costa, desde o Rio de Janeiro até o Ceará, falava essa mesma língua. Foi com a língua tupinambá que os colonos portugueses tiveram contato mais estreito durante o século XVI. Para entender-se com os indígenas, a fim de conhecer a nova terra e nela viver, muitos deles tiveram de aprendê-la. Desse contato resultou a grande influência do tupinambá no vocabulário do português do Brasil. Milhares de nomes comuns e nomes de lugares que utilizamos hoje em todo o país são palavras tupinambás.”

“Entre os séculos XVI e XIX foram trazidos para o Brasil entre 4 e 5 milhões de africanos escravizados. Desse total, cerca de 1 milhão foram embarcados nos portos da África Ocidental, entre a Costa do Ouro, atual Gana, e o Golfo de Biafra, na Nigéria. Oriundos dos diversos reinos que existiam na região, começaram a aportar no Brasil a partir da segunda metade do século XVII. Seu principal destino foi a cidade de Salvador e o Recôncavo Baiano, Minas Gerais e o Maranhão. As línguas que eles falavam, como o iorubá e o evé-fon, influenciaram a língua portuguesa no Brasil principalmente no domínio religioso.”

(Textos extraídos de painéis de exposição do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.)
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a língua portuguesa, por misturar-se, mesclar-se, miscigenar-se, ganhou um rosto novo, abrasileirado: a língua — portuguesa — à brasileira, a língua — portuguesa — repaginada à maneira nossa, a língua à moda brasileira.

língua: também designa o órgão muscular situado na boca, responsável, entre outras coisas, pela produção dos sons.

língua: órgão muscular. língua à brasileira: órgão vernacular, órgão próprio de um país.

língua à brasileira: órgão vernacular alongado, encompridado, feito de muitas misturas (europeu + índio + negro), alongado como o órgão muscular, e por isso mesmo: hábil, móvel, tátil.

amálgama lusa malvada, portuguesa malvada nascida da mistura de elementos heterogêneos (europeu + índio + negro), malvada porque mastiga, come, engole, degusta, deglute, deflora, o que encontrar pela frente, mas qual flora antropofágica, no seu movimento de misturar, de mesclar, de miscigenar, salva a pátria mal amada, salva a nação mal cuidada, salva este país de assassinos, corruptos & desigualdades alarmantes.

“língua-de-trapo”, “língua solta”, “língua ferina”, “língua douta”: expressões idiomáticas muito brasileiras.

língua à brasileira: língua-de-trapo & língua solta (língua para quem fala demais), língua ferina (mordaz, venenosa, língua da injúria, da fofoca), língua douta (língua erudita, de muitos saberes): saravá, língua-de-fogo & fósforo (chama, labareda, língua acesa), saravá, língua viva & declinativa (língua feita de declinação: conjunto das diversas formas que os substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais apresentam de acordo com a sua função sintática na oração), saravá, língua fônica (língua sonora, melodiosa) & apócrifa (língua inautêntica, toda misturada), saravá, língua lusófona & arcaica, crioula iorubáica (pela forte presença da língua iorubá na língua à brasileira), saravá, língua-de-sogra (faladeira incorrigível) & língua provecta (língua-mestre, avançada, inovadora), saravá, língua morta & ressurrecta (língua nascida do latim, que é uma língua já extinta, portanto, “morta”, e ressurrecta, isto é, língua renascida, ressuscitada, repaginada), saravá, língua tonal (cheia de tons & matizes) & viperina (língua venenosa, per-versa), saravá, palmo de neolatina (a língua portuguesa integra o grupo das línguas neolatinas, línguas derivadas da língua latina), saravá, “poema em linha reta” (poema elaborado pelo maior poeta da língua, o imensurável fernando pessoa), saravá, lusíadas no fim do túnel (referência a um dos mestres da poesia portuguesa, anterior a pessoa, luís de camões), saravá, caetano não fica mudo (o grande poeta-compositor da língua à brasileira possui um dos mais belos poemas-canções já escritos a respeito, intitulado “língua”), saravá, nem fica mudo o “seo” manoel lá da esquina, um dos tantos portugueses donos de estabelecimento comercial.

por ti, afro-gueixa (língua misturada, mesclada, miscigenada), por ti, guesa errante (referência ao mais célebre poema do poeta maranhense sousândrade, intitulado “guesa errante”, inspirado numa lenda andina em que o índio adolescente chamado “guesa” seria sacrificado como oferenda aos deuses), por ti, língua à brasileira, o mar se abre, o sol se deita. o mar se abre, o sol se deita, por mários de sagarana (“sagarana”, título de uma obra do mestre mineiro guimarães rosa, é um neologismo formado a partir da palavra “saga”, de origem européia, que designa “canto lendário ou heróico”, e da palavra “rana”, de origem tupi, que designa “semelhança”, “proximidade”), por magos de saramago (referência ao grande escritor português josé saramago & à magia concentrada em sua prosa vertiginosa).

viva os lábios! viva a língua da boca, a linguagem oral!
viva os livros! viva a língua da página, a linguagem escrita!

viva os lábios, viva os livros, dos rosas, campos & netos (de todos os nossos grandes escritores)! viva os léxicos (o vocabulário, o repertório de palavras) & os êxtases alcançados com os andrades — drummond, mário, oswald! viva toda a síntese da sintaxe dos erros milionários, dos erros que resultam em ganhos, em riquezas!

língua afiada a machado, porque cortante, porque precisa, porque ferina, como a ferramenta, e também porque língua afiada a machado de assis, escritor brasileiro afiadíssimo, considerado o maior de todos os tempos. desafinada índia-preta. por cruzas diversas, por misturas divinas (europeu + índio + negro), mil linguageiras, mil maneiras de se escrever & falar a língua.

a coisa mais língua que existe, a coisa mais comunicável que conheço, é o beijo da impureza desta língua que adeja toda a brisa brasileira: por mim, tupi, índio destas matas; por tu, “guesa”, índio da lenda, com nome que também integra a língua que me língua: a língua portuguesa.

a coisa mais língua que existe, a coisa mais comunicável que conheço, é o beijo da impureza desta língua que adeja toda a brisa brasileira: por mim, tupi, índio destas matas; por tu, leitor, tua língua portuguesa.

(a língua é minha pátria.)
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita Língua à brasileira, poema de Luis Turiba.)

 

LÍNGUA À BRASILEIRA  (Luis Turiba)

Ó órgão vernacular alongado
Hábil áspero ponteado
Móvel Nobel ágil tátil
Amálgama lusa malvada
Degusta deglute deflora
Mas qual flora antropofágica
Salva a pátria mal amada

Língua-de-trapo Língua solta
Língua ferina Língua douta
Língua cheia de saliva
Saravá Língua-de-fogo e fósforo
Viva & declinativa
Língua fônica apócrifa
Lusófona & arcaica
Crioula iorubáica
Língua-de-sogra Língua provecta
Língua morta & ressurrecta
Língua tonal e viperina
Palmo de neolatina
Poema em linha reta
Lusíadas no fim do túnel
Caetano não fica mudo
Nem “Seo” Manoel lá da esquina
Por ti Guesa errante, afro-gueixa
O mar se abre o sol se deita
Por Mários de Sagarana
Por magos de Saramago

Viva os lábios!
Viva os livros!
Dos Rosas Campos & Netos
Os léxicos, Andrades, os êxtases
Toda a síntese da sintaxe
Dos erros milionários
Desses malandros otários
Descartáveis, de gorjetas.

Língua afiada a Machado
Afinal, cabeça afeita
Desafinada índia-preta
Por cruzas mil linguageiras
A coisa mais Língua que existe
É o beijo da impureza
Desta Língua que adeja
Toda a brisa brasileira
Por mim,
……………Tupi,
……………………Por tu Guesa

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): OS VÍDEOS IV
6 de outubro de 2015

Paulo Sabino_Ocup Poet_2ª Ed_09 Set 2015
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A quem possa interessar, mais 2 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Em ambos os vídeos, o encerramento da minha participação no projeto, tanto no dia 09/09 como no dia 10/09, onde recito, no primeiro vídeo (09/09), um poema do sofisticado poeta & compositor Paulo César Pinheiro, e, no segundo vídeo (10/09), um poema do francês Paul Éluard, em tradução dos mestres Carlos Drummond de Andrade & Manuel Bandeira.

Fabrício Corsaletti, autor de “Seu nome”, postado na publicação de título “Ocupação Poética — Teatro Cândido Mendes (2ª Edição): Os Vídeos II”, faz, inclusive, uma menção ao poema de Paul Éluard que aparece nesta publicação. Dizem os seus versos:

 

o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito
……………………………………………….[bem ser o seu nome

 

Pois bem, aos senhores, aqui, o famoso poema de Éluard.

E, assim, com o encerramento das duas noites, encerro as postagens de vídeos referentes à segunda edição deste projeto que, para mim, é um grande prazer & uma grande honra poder coordenar.

Que venham as próximas edições!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita Brasil moleque, poema de Paulo César Pinheiro.)

 

BRASIL MOLEQUE  (Paulo César Pinheiro)

Uma era branca,
Pureza de moça,
Boneca de louça,
Que ninguém nos ouça,
Do queixo cair.
Outra era preta
Da cor do azeviche,
Boneca de piche,
Vudu de fetiche,
Moleca saci.
O moço, um caboclo
De sangue mestiço,
De olho mortiço,
Jogando feitiço
Nas moças dali.

A branca era filha
De nhô de fazenda
De gado e moenda,
De dote e de prenda
Pro moço servir.
A preta era cria
De eito e senzala,
Mucama de sala,
Daquela que embala
Sinhá pra dormir.
O moço era solto,
E, sem ter grande coisa,
Era moço de pose,
Viola de doze,
A cantar por aí.

A branca, uma noite,
Seguiu rio abaixo,
Com fogo no facho,
Sem nada por baixo
Do seu organdi.
A lua amarela,
De cana no tacho,
Mostrou, no riacho,
Presença de macho
Banhando-se ali.
Caiu seu vestido,
E o moço muchacho
Desmanchou-lhe o cacho,
E viu, rio abaixo,
Um sangue sair.

Depois foi a preta,
Com o fogo da raça
Queimando a carcaça,
Soltando fumaça
No seu frenesi.
Na beira do rio,
Emborcando a cabaça
De mel com cachaça,
Rolava devassa
Que nem sucuri.
E o moço na preta
Foi sentando praça,
Deixando outra graça,
No rio que passa,
De sangue a cobrir.

Depois nove-luas
Do fogo no cio,
Do sangue no rio,
Pulou, do baixio
Da branca, um guri.
Era um mameluco,
Mas de carapinha,
Cheirando a morrinha,
Puxado na linha
De Ganga-Zumbi.

Também nove-luas
Do sangue da preta,
Coisa do Capeta,
Grudado na teta
Tinha um bacuri.
Mas era um cafuzo,
Cheirando a cidreira,
Lisa cabeleira,
Da raça guerreira
Do sangue Tupi.

Brasil não tem raça,
Que raça não conta,
Tem gente que é tonta,
Que vive de afronta
Com as raças daqui.
Contei só uma estória,
Tem tanta já pronta,
Que, de ponta a ponta,
Quanto mais se conta
Mais tem pra se ouvir.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita Um único pensamento, poema de Paul Éluard, em tradução de Carlos Drummond de Andrade & Manuel Bandeira.)

 

UM ÚNICO PENSAMENTO  (Paul Éluard / Tradução: Carlos Drummond de Andrade & Manuel Bandeira)

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jângales, no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Em meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças regorgitantes
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
De meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes de meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): OS VÍDEOS III
29 de setembro de 2015

Paulo Sabino_10 de Setembro 2015

(Paulo Sabino)

Claufe Rodrigues_10 Setembro 2015

(Claufe Rodrigues)

Mauro Sta Cecília_10 Setembro 2015

(Mauro Sta Cecília)
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Aos interessados, mais 6 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Nos vídeos que seguem, os participantes do segundo dia do projeto, 10/09, os poetas Claufe Rodrigues & Mauro Sta Cecília. Ambos recitam poemas da própria autoria.

Eu recito, no meu primeiro vídeo, um poema de um dos meus grandes conselheiros na poesia, o imprescindível Armando Freitas Filho, e no meu segundo vídeo recito um poema que descobri ter virado canção há pouco tempo, poema do querido amigo (participante da 1ª edição deste projeto) Antonio Cicero.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita A mão que escreve, poema de Armando Freitas Filho.)

 

(Armando Freitas Filho)

A mão que escreve
na mesa burocrática
não pode sonhar e
escrava, se arrasta
no deserto, ao rés do chão
através de resmas e lesmas
a léguas de qualquer relva
e só serve minutas
adendos e remendos
tudo em formato ofício
em papel-timbrado
enquanto o poema, ao longe
tenta, em cada entrelinha
levantar voo, a cabeça
como uma águia
feito uma onda.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita Consegui, poema de Antonio Cicero.)

 

CONSEGUI  (Antonio Cicero)

eis o que consegui:
tudo estava partido e então
juntei tudo em ti

toda minha fortuna
quase nada tudo muitas coisas
numa

só:
eu quis correr esse risco antes de virar
pó:

juntar tudo em ti:
toda joia todo pen drive todo cisco
tudo o que ganhei tudo o que perdi

meu corpo minha cabeça meu livro meu disco
meu pânico meu tônico
meu endereço
eletrônico

meu número meu nome meu endereço
físico
meu túmulo meu berço

aquela aurora este crepúsculo
o mar o sol a noite a ilha
o meu opúsculo

meu futuro meu passado meu presente
meio aqui
e meio ausente

meu continente meu conteúdo
e além de todo o mundo
também tudo o que é imundo tudo

o medo e a esperança
algo que fica
algo que dança

o que sei o que ignoro
o que rio
e o que choro

toda paixão
todo meu ver
todo meu não

tudo estava perdido e aí
juntei tudo
em ti ______________________________________________________

(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Claufe Rodrigues recita Como reconhecer um poeta, poema de sua autoria.)

 

COMO RECONHECER UM POETA  (Claufe Rodrigues)

Nem todo sujeito estabanado é poeta

mas com certeza todo poeta é um ser estabanado.

Se senta sempre do lado errado

tropeça na peça mais cara da mobília

se bobear beija a mãe, a vó e a filha

está sempre em guerra com a braguilha

bebe cachaça  na taça de vinho

corteja a mulher do vizinho

sonha com um ninho de gatas

louras, ruivas e mulatas

mas acorda sempre sozinho.

O poeta só não é um desastre

…………quando escreve, quando fala,

……………………quando escala os altos cumes

……………………………….da língua.

Ali ele é o perito, o eleito,

o cara perfeito que toda sogra quer ter na família.

Até o rabisco é risco calculado

compasso de música, exato

como o símbolo do infinito.

Nas altas esferas, o poeta doma todas as feras,

domina a intensidade de cada grito.

Captura, em essência,

o que dizem as nuvens,

quando chovem no cio.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Claufe Rodrigues recita Todo poema, de sua autoria, que, depois de publicado em livro, foi rebatizado pelo poeta amazonense Thiago de Mello com o título Floresta.)

 

FLORESTA  (Claufe Rodrigues)

Todo poema grita

cada palavra é um pedido de socorro

na gruta infinita da boca

E há um adeus em qualquer sílaba

uma floresta

em festa

queimando dentro de nós.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Mauro Sta Cecília recita Ela, poema de sua autoria.)

 

ELA  (Mauro Sta Cecília)

A mulher loura, em pé no ponto
de ônibus, tira da bolsa o esmalte
vermelho e faz as unhas da mão
enquanto o ônibus não chega.

Ela não vai descansar.
A palavra descanso não faz
parte do dicionário de sua vida.
Ela pode algum dia atingir
quase o limite de suas forças.
Mas ela dorme, recupera as
forças e segue em frente.
E esquece a palavra cansaço.
Porque há muitos jovens que
já nasceram cansados e andam
cansados o dia inteiro. E porque
depois há toda a eternidade
que é um tempo que nem passa
pela sua cabeça.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Mauro Sta Cecília recita Por você, poema de sua autoria. Participação [guitarra]: Julio Santa Cecília.)

 

POR VOCÊ  (Mauro Sta Cecília)

por você, eu limparia os trilhos do metrô
eu iria a pé do Rio a Salvador
por você, eu roubaria uma velhinha
eu dançaria tango no teto da cozinha
por você, eu adoraria a disciplina japonesa
eu aprenderia a fazer cara de surpresa
por você, eu viajaria a prazo pro inferno
eu tomaria banho gelado no inverno
por você, eu hoje até deixaria de beber
eu enfrentaria um lutador de caratê
por você, eu ficaria rico em um mês
eu dormiria de meia pra virar burguês
por você, eu só sentiria essa febre
eu conseguiria até ficar alegre
por você, eu viveria em greve de fome
eu mudaria a grafia do meu nome
por você, eu pintaria o céu todo de vermelho
eu teria mais herdeiros que um coelho
por você, eu aceitaria a vida como ela é
eu desejaria todo dia a mesma mulher
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Puro êxtase. artista & intérprete: Barão Vermelho. canção: Por você. música: Roberto Frejat / Maurício Barros. poema: Mauro Sta Cecília. gravadora: WEA.)

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): OS VÍDEOS II
22 de setembro de 2015

Paulo Sabino_Ocupação Poética 2ª Edição 09 Set 2015

(Paulo Sabino)

Luis Turiba_Ocupação Poética_9 Set 2015

(Luis Turiba)

Cristiano Menezes_Ocupação Poética_9 Set 2015

(Cristiano Menezes)
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Aos senhores, 6 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Nos vídeos que seguem, os participantes do primeiro dia do projeto, 09/09, os poetas Luis Turiba & Cristiano Menezes. Ambos recitam poemas da própria autoria.

Eu recito, no meu primeiro vídeo, um poema da minha autoria, e no meu segundo recito um poema que amo, do poeta paulista Fabrício Corsaletti, e faço um convite a todos: para o sarau do Largo das Neves, em Santa Teresa (Rio de Janeiro), que comando com a participação efetiva de grandes amigos, e que, de fato, como anuncia o vídeo, ocorrerá nesta quinta-feira (24/09), a concentração no largo a partir das 19h & as leituras a partir das 20h30. Teremos a honra das participações, nesse sarau, das feras que integram esta publicação! Oba!

Na próxima postagem, vídeos com os poetas do segundo dia do projeto, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues.

Divirtam-se com estes!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita A certeza de uma incerteza, poema de sua autoria.)

 

A CERTEZA DE UMA INCERTEZA  (Paulo Sabino)

Hoje, que a noite pulsa tranqüila
Dentro do meu quarto,
Busco a pacacidade de coisa nenhuma, inerte, inanimada,
Por sentimentos de cores apagadas.
Este sol que mina em mim,
Propagando-se por todo o resto,
Faz-me sentir a necessidade inútil
Ao mundo, à humanidade —
Sou incapaz de evitar catástrofes
Nem, ao menos, de dar por elas.
Compreendo, mais do que nunca,
Que a vida é e sempre será
Uma parte do desconhecido,
Assentada em tudo que resta e rasteja.
A certeza de uma incerteza
Insolúvel, o ponto com nó.
Portanto, almejar a viagem
De poder debruçar à janela,
Condutor-passageiro fervoroso,
Do caminho a ser vislumbrado.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita Seu nome, poema de Fabrício Corsaletti.)

 

SEU NOME  (Fabrício Corsaletti)

se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho no suspiro final balbuciarei o seu
…………………………………………………………………..[nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o
…………………………………………………………………… [seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso
…………………………………..[haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito
……………………………………………….[bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da
…………………….[guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma
………………………………………….[música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina
……………………………………………[teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe”
…………………………………………………[em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em
……………………………………………………..[vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o
……………………………………..[termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela
………………………………………….[primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o
……………………………………………………………[seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares
……………………………………..[de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o
……………………………………………..[infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se
………………………………………………….[tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no
…………………………………………………………….[seu nome
cabala é uma palavra linda mas não chega aos pés do seu
…………………………………………………………………….[nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do
………………………………………………………………..seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu
……………………………………………………………………[nome
não posso ser fascista se não quero impor aos outros o seu
…………………………………………………………………… [nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu
…………………………………………………………………… [nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu
…………………………………………………………………… [nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a
………………………………………………..[esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado
………………………………………………..ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida mas isso não tem nada a ver com o
………………………………………………………………..seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu
…………………………………………………………………….nome
talvez eu não seja um poeta à altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer
……………………………………………[explicitamente o seu nome
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Luis Turiba recita Ábsono, poema de sua autoria.)

 

ÁBSONO  (Luis Turiba)

sambo espalhafatosamente
para dentro como quem não quer nada
sambo parado
no espaço do meu corpo
com minhas vísceras
meus testículos
meus intestinos
minhas moléculas
minhas cartilagens
minhas células em permanente renovação rumo à morte
meus glóbulos brancos vermelhos desbotados
meus neurônios
minha aura vital
minhas correntes sanguíneas
no trânsito intenso e interno das veias e vácuos
sambo com meus buracos
descalço, nu como nasci
meio preso meio solto
ábsono e absorto
quase com sono
sambo meio grogue
minha apoteose
é iogue
de mãos no bolso
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Luis Turiba recita Ou a gente…, poema de sua autoria.)

 

OU A GENTE…  (Luis Turiba)

Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting

Uma metade passa fome
Outra metade faz regime

Minha vida é uma novela
Minha casa um tele-cine

No meu quarto tem uma cama
Que às vezes vira um ringue

Quem não sabe cala a boca
Quem não conhece só finge

Você só pensa em tarô
Mas meu caso é com I-Ching

O teu corpo é escultura
Minha alma sua vitrine

Uns preferem a linha reta
Outros vão pelo suingue

No amor somos sinceros
Na morte somos esfinges

Ainda me mando pros ares
Vou montado no estilingue

A vida não dá replay
Aproveite e não se vingue

Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Cristiano Menezes recita Palavras, poema de sua autoria.)

 

PALAVRAS  (Cristiano Menezes)

Que não nos faltem as palavras
palavras faladas
ou no papel
palavras ao léu
palavras
contato

Palavras sem tato
palavras claras
fanhas
loucas
ou roucas

Palavras aflitas
palavras medidas
palavras soltas
nas línguas ferinas
ou afogadas no batom
de bocas carnudas

Palavras confete,
desnudas
envoltas em serpentinas
palavras purpurina
na festa da carne

Palavras sapecas
atrevidas
cintilando
nas rimas do meu samba na avenida

Palavras signos
do código que nos decifra
alegorias dos enredos
marolas do rio
que me leva ao mar

São as palavras que me fazem amar
ou brigar

Palavras excitam
palavras hesitam
e me lançam
como flecha
nos corações desavisados

Palavras
que não nos faltem as palavras
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Cristiano Menezes relata um ocorrido entre ele & o poeta amazonense Thiago de Mello. Depois, recita Trilha, poema de sua autoria.)

 

TRILHA  (Cristiano Menezes)

O que será que há
depois daquela curva

O que será
ao fim deste caminho
que se oferece
e me instiga
a seguir
passo a passo
hesitante
atento ao estalo
de cada galho
em que piso
neste caminho
que se estende
entre verdes
e esperanças

O que será
ali à frente
quando vira
parece que desce
não sei pra onde
e mais adiante
segue morro acima

O que será que há
depois daquela ladeira

Onde vai dar este caminho
que agora vejo
não tem volta
este caminho
que não conheço
mas a cada passo
enfim percebo
é meu este caminho.

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO): EVENTO & VÍDEOS
16 de setembro de 2015

Ocupação Poética_Menezes Turiba Participações

(Na ponta esquerda: Cristiano Menezes & Luis Turiba; ao lado, os convidados dos poetas participantes: Luca Andrade & Fernando Reis.)

Ocupação Poética_Tavinho Paes 1

(Na ponta esquerda, os poetas participantes da primeira noite, 09/09, Cristiano Menezes & Luis Turiba; ao lado, o grande compositor & poeta Tavinho Paes, que estava na platéia, e Paulo Sabino.)

Ocupação Poética_Claufe Mauro Participações

(Do lado esquerdo, o poeta participante Claufe Rodrigues & sua convidada, a escritora & cantora Mônica Montone; do lado direito, o poeta participante Mauro Sta Cecília & seu convidado, o guitarrista & cria Julio Santa Cecília.)

Ocupação Poética_Claufe Mauro Poetas na platéia

(Os poetas participantes da segunda noite, 10/09, Claufe Rodrigues & Mauro Sta Cecília, acompanhados dos seus convidados, mais os poetas participantes do projeto, Cristiano Menezes, que abriu a noite da segunda edição, e Salgado Maranhão, participante da primeira edição.)
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Aos senhores, 4 vídeos da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética”, ocorrido nos dias 9 (quarta-feira) & 10 (quinta-feira) de setembro, no teatro Cândido Mendes (Ipanema – RJ), com a participação de 4 feras da poesia contemporânea: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues!

Em 3 vídeos, este que vos escreve recita 3 poemas de 3 sofisticados poetas: Waly Salomão, Gilberto Gil & Tavinho Paes. No quarto & último vídeo, o encerramento da primeira noite, que teve direito a “Parabéns pra você” com bolo surpresa para o aniversariante da noite (09/09), o poeta participante Cristiano Menezes.

Mais vídeos chegarão!

Divirtam-se!

Beijo todos!
Paulo Sabino.
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita Fábrica do poema, poema de Waly Salomão.)

 

FÁBRICA DO POEMA  (Waly Salomão)

sonho o poema de arquitetura ideal
cuja própria nata de cimento encaixa palavra por
palavra,
tornei-me perito em extrair faíscas das britas
e leite das pedras.
acordo.
e o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
acordo.
o prédio, pedra e cal, esvoaça
como um leve papel solto à mercê do vento
e evola-se, cinza de um corpo esvaído
de qualquer sentido.
acordo,
e o poema-miragem se desfaz
desconstruído como se nunca houvera sido.
acordo!
os olhos chumbados
pelo mingau das almas e os ouvidos moucos,
assim é que saio dos sucessivos sonos:
vão-se os anéis de fumo de ópio
e ficam-se os dedos estarrecidos.

sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
…..sob que máscara retornará o recalcado?

(mas eu figuro meu vulto
caminhando até a escrivaninha
e abrindo o caderno de rascunho
onde já se encontra escrito
que a palavra “recalcado” é uma expressão
por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema.)

pois a questão-chave é:
…..sob que máscara retornará?
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: A fábrica do poema. artista & intérprete: Adriana Calcanhotto. canção: A fábrica do poema. música: Adriana Calcanhotto. poema: Waly Salomão. gravadora: Epic.)

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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 10/09/2015. Paulo Sabino recita A paz, poema-canção de Gilberto Gil.)

 

A PAZ  (Gilberto Gil)

A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos ais
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(do site: Youtube. áudio extraído do álbum: Unplugged MTV. artista & intérprete: Gilberto Gil. canção: A paz. música: João Donato. versos: Gilberto Gil. gravadora: Warner Music.)

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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Paulo Sabino recita Saudade, poema de Tavinho Paes.)

 

SAUDADE  (Tavinho Paes)

saudade é perfume raro
cheiro de gente
para quem tem faro
sentimento que independe
de consentimento
emoção que nunca é descartável
carta que sente falta do baralho

saudade é chuva
que só chove no molhado
assunto delicado
que não dá para negociar
ninguém leva vantagem
em esquecer
de quem deve lembrar
nem com quem deve sonhar
mas, será que há alguém
que tem coragem de sonhar
com alguém que ama
…e acordar?

neste mundo existem milhões
que nunca disseram a ninguém
EU TE AMO
além de outros zilhões
que nunca ouviram isto de alguém
e mesmo assim
saudade todo mundo tem
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(do site: Youtube. projeto: Ocupação Poética [2ª edição] — Teatro Cândido Mendes. local: Rio de Janeiro. data: 09/09/2015. Encerramento da noite, por Paulo Sabino, e o Parabéns pra você ao poeta aniversariante Cristiano Menezes.)

OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO)
4 de setembro de 2015

Luis Turiba com Qtais

(Luis Turiba)

Cristiano Menezes

(Cristiano Menezes)

Mauro Sta Cecília

(Mauro Sta Cecília)

Claufe Rodrigues

(Claufe Rodrigues)
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(Nas fotos, os poetas participantes da 2ª edição do projeto “Ocupação Poética — Teatro Cândido Mendes”.)
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Um convite a todos os interessados:

Nos próximos dias 9 & 10 de setembro (quarta-feira & quinta-feira, respectivamente), a 2ª edição do projeto “Ocupação Poética — Teatro Cândido Mendes” (Ipanema – RJ) recebe 4 feras da nossa poesia: Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues.

As próximas duas noites prometem ser lindas!

Dia 9 de setembro (quarta-feira): Luis Turiba & Cristiano Menezes (os poetas escolheram o dia 9 porque, vejam a magia da poesia!, dia 9 é justamente o dia do aniversário do Cristiano Menezes, que vai comemorar no teatro).

Dia 10 de setembro (quinta-feira): Mauro Sta Cecília & Claufe Rodrigues (além de poetas, os participantes são compositores, e algumas coisas serão apresentadas sob a forma de música).

Abaixo, maiores informações.

Aguardamos todos!
Paulo Sabino.
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OCUPAÇÃO POÉTICA — TEATRO CÂNDIDO MENDES (2ª EDIÇÃO)

 

 

Nos próximos dias 09/09 e 10/09, o teatro do Centro Cultural Cândido Mendes, em Ipanema, receberá a 2ª edição do projeto Ocupação Poética: sarau com grandes nomes da poesia brasileira contemporânea, acompanhados do poeta Paulo Sabino, que coordenará os encontros e leituras. 

Divididos em duas noites, quatro importantes poetas – Luis Turiba, Cristiano Menezes, Mauro Sta Cecília, Claufe Rodrigues – lerão obras autorais, inéditas e consagradas, e também textos de outros poetas, numa conversa descontraída que acabará por revelar ao público a importância, em suas vidas, das leituras escolhidas.

As datas e os participantes:

 

Quarta-feira (09/09): LUIS TURIBA / CRISTIANO MENEZES

Quinta-feira (10/09): MAURO STA CECÍLIA / CLAUFE RODRIGUES

Coordenação: PAULO SABINO

Sobre os participantes:

Paulo Sabino: Poeta, escritor, e entusiasta da poesia e da prosa poética, desde 2009 mantêm o blog https://prosaempoema.wordpress.com/ , um dos mais lidos da área, onde regularmente se dedica a selecionar e analisar as mais belas obras de autores nacionais e estrangeiros, de todas as gerações e estilos. Paulo Sabino também organiza e promove o Sarau do Largo das Neves, em Santa Teresa, que acontece sempre na penúltima 5ª-feira de cada mês.

Luis Turiba: Pernambucano, criado no Rio de Janeiro, radicado em Brasília. Fundou a revista de poesia experimental BRIC-A-BRAC, em Brasília, em 1985. Na poesia, tem militância ativa há mais de 30 anos. Publicou seu primeiro livreto, “Kiprokó”, em 1977, no Rio de Janeiro. Em Brasília publicou “Clube do Ócio”, em 1980, “Luminares”, em 1982; “Realejos”, em 1988; a antologia “Cadê?”, em 1998; e “Bala”, em 2005. Residente no Rio de Janeiro, publicou também “MeiaOito” e o infantil “Luísa Lulusa”, ambos em 2010; e Qtais, em 2013.

Cristiano Menezes: Poeta, radialista e jornalista, já atuou como repórter, editor, produtor, locutor, programador musical, roteirista e apresentador, além de exercer cargos de gestão. Criou e apresentou programas especiais sobre artistas da MPB, meio ambiente, ciência e tecnologia. Produziu de trios elétricos a shows. “Guardanapos” é o seu primeiro livro de poesia, composto por poesias feitas ao longa de toda a vida do autor.

Mauro Sta Cecília: Carioca, formou-se em Direito (UERJ), cursou mestrado em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e trabalhou no Consulado Geral do Japão (RJ). É poeta, vencedor do Prêmio Literário Stanislaw Ponte Preta 94 (Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro), publicou os livros de poesia “A todo o transe” (editora 7 Letras, 1997), “Olho frenético” (editora Aeroplano, 2005), “A sombra do faquir” (editora 7 Letras, 2014) e “Errância” (editora 7 Letras, 2015). Letrista, parceiro de Frejat e do grupo Barão Vermelho, entre outros nomes, é coautor de músicas como “Por você” e “Amor pra recomeçar”.

Claufe Rodrigues: Poeta. Letrista. Músico. Jornalista. Formado em jornalismo pela UFF/RJ. Publicou os seguintes livros de poesias: “Borboletas não dão lucro”, (Ed. Taurus/Timbre, 1991); “Poemas para flauta e vértebra” (Ed. Diadorim, 1994); “O Arquivista” (Ed. Sette letras, 1995); “Ponte Poética Rio-São Paulo” (Ed. Sette Letras, 1995, org.); “Amor e seus múltiplos (Ed. Record, 1997); “Ver o Verso em mãos (O Verso Edições, 2000, com Mano Melo, Alexandra Maia e Pedro Bial); “Roman-se” (Ed. Record, 2001); “100 Anos de Poesia – um panorama da poesia brasileira no século XX” (O Verso Edições, 2001, org., com Alexandra Maia); “Escreva sua história” (Ed. Five Star, 2004); “O pó das palavras” (Ed. Ponteio, 2010). Atualmente, coordena na Casa da Gávea o talk-show literário “Palavrão Literatura”.

 

SERVIÇO

 

Ocupação Poética – Teatro Cândido Mendes

Coordenação: PAULO SABINO

Quarta-feira (09/09): LUIS TURIBA & CRISTIANO MENEZES

Quinta-feira (10/09): MAURO STA CECÍLIA & CLAUFE RODRIGUES

Horário: 20h
Entrada: R$ 5,00
End.: Joana Angélica, 63 – Ipanema, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2523-3663.