UM MUNDO DENTRO DO MUNDO
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A ARTE PARA AS CRIANÇAS
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PARADOXOS
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CHAMAMENTO
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amamento chama: chamamento:
qualquer chamamento que se dê sem o uso de forças que não a da vontade primacial, qualquer chamamento que se faça de maneira natural, cuja intenção primeira seja a necessidade última do que é chamado, sem se pensar utilidades & finalidades, é um tipo de amor.
considero justa toda forma de amor.
amem. amamentem os chamamentos, amamentem as chamas.
(morramos de amor morro abaixo.)
um beijo em vocês,
o preto,
paulinho / paulo sabino.
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As chamadas
A lua chama o mar e o mar chama o humilde fiapinho de água, que na busca do mar corre e corre de onde for, por mais longe que seja, e correndo cresce e avança e não há montanha que pare seu peito. O sol chama a parreira, que desejando sol se estica e sobe. O primeiro ar da manhã chama os cheiros da cidade que desperta, aroma de pão recém-dourado, aroma do café recém-moído, e os aromas do ar que entram e do ar se apoderam. A noite chama as flores da dama-da-noite, e à meia-noite em ponto explodem no rio esses brancos fulgores que abrem o negror e se metem nele e o rompem e o comem.
O diagnóstico e a terapêutica
O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes.
O amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas nada pode impedi-lo. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberragens com garantia e tudo.
A pequena morte
Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce.
(Todos os textos extraídos da obra: O livro dos abraços, autor: Eduardo Galeano, tradução: Eric Nepomuceno, editora: L&PM Editores)